Você com certeza já se deparou com o termo Setembro Amarelo por aí, não é mesmo? A campanha, que acontece durante todo esse mês, tem como objetivo conscientizar e prevenir o suicídio no Brasil.
Em um mundo onde as pressões da vida moderna podem ser avassaladoras, o Setembro Amarelo serve como um lembrete importante de que todos nós, como sociedade, desempenhamos um papel na prevenção do suicídio, podendo ajudar a salvar vidas e oferecer suporte e recursos para aqueles que mais precisam.
O Setembro Amarelo é uma oportunidade para refletir sobre como podemos contribuir para a promoção da saúde mental e como essa contribuição pode chegar nas populações que vivem em situação de exclusão social. Uma das formas para fazer isso é se informando sobre o assunto, a fim de diminuir o preconceito em torno dos transtornos mentais. Então, vamos partir do começo?
O que é o Setembro Amarelo?
O Setembro Amarelo começou nos EUA, quando o jovem Mike Emme, de 17 anos, cometeu suicídio, em 1994. Seus pais e amigos não perceberam que o jovem tinha sérios problemas psicológicos e não conseguiram evitar sua morte.
Esse mês ganhou destaque no Brasil, graças ao empenho de Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), que a introduziu no calendário nacional em 2013. Desde então, a ABP, em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), tem trabalhado para divulgar e expandir essa importante iniciativa em todo o país.
Assim, o dia 10 de setembro é oficialmente reconhecido como o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, mas a campanha do Setembro Amarelo acontece ao longo de todo o ano, destacando a importância de promover a conscientização sobre os desafios da saúde mental e transtornos mentais.
Hoje, o Setembro Amarelo já é reconhecido como a maior campanha anti estigma do mundo, desempenhando um papel fundamental na quebra de tabus e na promoção de discussões abertas sobre a saúde mental.
Neste ano, o tema da campanha é: “Se precisar, peça ajuda!” – e reflete o compromisso contínuo de oferecer apoio e orientação às pessoas que enfrentam crises emocionais e psicológicas.
Diversas ações estão sendo desenvolvidas para alcançar indivíduos de todas as idades e comunidades, com o objetivo de diminuir o preconceito em torno da saúde mental e incentivar a busca por ajuda quando necessário.
Números de suicídios no Brasil
De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2019, já foram registrados mais de 700 mil casos de suicídio em todo o mundo.
No Brasil, aproximadamente 14 mil pessoas tiram suas próprias vidas anualmente, uma média de 38 suicídios por dia – sem contar com os episódios subnotificados. E, embora haja uma tendência de diminuição global, os países das Américas estão enfrentando um aumento nos índices.
Ainda de acordo com a OMS, quase 100% dos casos de suicídios estavam relacionados a transtornos mentais, principalmente não diagnosticadas ou tratadas incorretamente.
Em cartilha divulgada pela Associação Brasileira de Psiquiatria sobre o tema, o Brasil aparece como o oitavo país em número absoluto de suicídios. Os transtornos mentais não tem alvo podem atingir a todos, independente da origem, sexo, cultura, classe social ou idade.
Taxas de suicídios entre adolescentes:
- Entre 2016 e 2021, as taxas de mortalidade de adolescentes de 15 a 19 anos aumentaram em 49,3%, atingindo 6,6 por 100 mil.
- Para adolescentes de 10 a 14 anos, houve um aumento de 45%, chegando a 1,33 por 100 mil.
Taxas de suicídio por gênero:
- No Brasil, a taxa de suicídio entre homens é de 12,6 por 100 mil, em comparação com 5,4 por 100 mil entre mulheres.
Como identificar sinais de alerta?
Não existem exames ou diagnósticos para identificar o risco de suicídio de um paciente, por isso é importante toda a sociedade se unir em torno do tema e manter os olhos abertos para possíveis fatores de risco. Podemos elencar dois principais sinais de alertas:
Tentativa prévia de suicídio
Cerca de 50% daqueles que cometeram suicídio já haviam tentado anteriormente. Por isso, a tentativa prévia é o fator mais importante a ser acompanhado. Pacientes que tentaram o suicídio em algum momento da vida possuem de 5 a 6 vezes mais chances de repetir o ato.
Transtornos mentais
Como falamos no início do texto, a OMS elenca que quase 100% das pessoas que cometem suicídio eram atingidas por algum tipo de transtorno mental – ainda que não diagnosticada ou tratada. Os mais comuns são a depressão, transtorno bipolar, alcoolismo, dependência de drogas e esquizofrenia. E, quanto mais diagnósticos acumulados, maior o risco.
Porém, não é apenas isso. Sentimentos de desamparo e desesperança também são fortemente ligados ao suicídio. Problemas relacionados à moradia ou renda, por exemplo, podem angustiar uma pessoa de tal forma que, a partir de um ato impulsivo, esse desamparo se transforma em um fator de risco para o suicídio.
Como o Instituto C atua nesses casos?
No Instituto C a escuta qualificada e ativa é sempre algo muito valorizado. Ao identificar qualquer risco, o apoio, o suporte e os encaminhamentos necessários são feitos de imediato.
“Quando alguém está enfrentando um sofrimento intenso, muitas vezes é necessário mais do que apenas escuta terapêutica; pode ser preciso contar com uma rede de apoio e intervenção medicamentosa. Por aqui, oferecemos nosso acolhimento, identificando quais são os recursos disponíveis e encaminhando para uma psicoterapia apropriada, um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) ou para uma Unidade Básica de Saúde (UBS) que ofereça atendimento emergencial em psicoterapia“, explica Arisla Lino, psicóloga e agente de ação social do Polo Zona Norte.
O fundamental é acolher e conscientizar aquela pessoa de que ela não deve, não precisa e nem pode negligenciar seus próprios sentimentos. “Ampliamos esses acessos para que ela compreenda que seu sofrimento é legítimo e que existem ferramentas que podem aliviar essa dor, garantindo que ela seja devidamente cuidada“, completa Arisla.
Enia Moura, psicóloga também do Polo Zona Norte, reforça que é sempre importante exaltar que existem recursos para enfrentar essa situação temporária, dependendo do caso. “Muitas vezes, a angústia não está relacionada só a transtornos mentais, pode ter ligação com o desemprego, relacionamentos conjugais e violência doméstica, por exemplo“, diz.
A psicóloga lembra de um caso em que uma mãe atendida dizia já não suportar mais passar por violência doméstica e, para ela, a única solução seria desistir da vida. “Eu fiz a escuta e sugeri já o encaminhando para o CAPS, entrei em contato com a equipe de lá para garantir que ela seria atendida, também falamos com um familiar para garantir que ela estivesse segura e, com todo esse apoio, hoje ela faz um acompanhamento psicoterapêutico“, lembra.
Por fim, as profissionais do Instituto C reforçam também a ideia de que o olhar atento é essencial para a prevenção do suicídio. “Nada é bobagem, tudo precisa ser compartilhado. Não negligencie, compartilhe, converse, peça ajuda e esteja sempre atento a você mesmo – no sentido de manter o autocuidado, não se sobrecarregar com tarefas cotidianas e respeitar seus limites. É um cuidado constante!“, acrescenta Arisla. “Uma escuta bem feita pode reduzir muito a taxa de suicídio!“, finaliza Enia.
Onde buscar ajuda ou como auxiliar?
É fundamental que todos nós desempenhemos um papel ativo na conscientização sobre a importância da vida e na prevenção do suicídio, que muitas vezes é cercado por tabus. Abrir conversas sobre o tema é crucial para encorajar aqueles que estão enfrentando momentos difíceis e crises a buscar ajuda e compreender que a vida sempre oferece alternativas.
Para aqueles que estão ao redor, é importante saber identificar sinais de pensamentos suicidas, oferecer escuta ativa, evitar julgamentos e mostrar empatia, direcionando a pessoa a um médico psiquiatra capaz de lidar com a situação de forma apropriada e, assim, salvar vidas.
Se você acha que está tendo problemas relacionados à sua saúde mental ou conhece alguém que está passando por alguma dificuldade, a ABP oferece o contato de psiquiatras para atendimento (clique aqui para ir para o site da ABP).
O Centro de Valorização da Vida (CVV) também realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, email e chat 24 horas todos os dias (clique aqui para ir para o site do CVV).