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Desenvolvimento de linguagem das crianças

Diferente do que muita gente acredita, o desenvolvimento da linguagem das crianças, não acontece de forma “natural”, ao contrário disso há um caminho a ser percorrido até que elas adquiram a linguagem verbal – forma de comunicação pela qual a criança pode se fazer ser compreendida por qualquer pessoa, independente de quem seja, isto é, alguém de seu convívio diário ou um completo desconhecido.
É comum que os adultos não falem com as crianças pequenas por acharem que pela idade e falta de respostas por eles reconhecíveis, elas não os compreendam. Porém é importante esclarecer que o pensamento e o sentimento da criança existem independentemente da possibilidade da fala verbal, mesmo que ela não possa se expressar oralmente com palavras, ela continua pensando e sentindo. Ou seja, sua capacidade de compreensão não necessariamente depende da aquisição da linguagem verbal.
Dessa forma, neste percurso reconhecemos como linguagem qualquer forma de comunicação da criança no sentido de se dirigir ao outro com alguma intenção. Assim, o desejo de comunicação está presente no ser humano desde o bebê recém-nascido que, ao experimentar algum tipo de desconforto (fome, frio, cólica, entre outros), chora, convidando o adulto responsável a cuidá-lo, de modo a identificar e sanar seu incômodo.
Já um bebê um pouco mais velho, a partir dos três meses é capaz de demonstrar, através de seu olhar e de seu sorriso, que reconhece o outro, procurando-o com os olhos quando sente alguma necessidade e respondendo à interação do cuidador com uma risada. Neste momento do desenvolvimento é frequente as tentativas de imitação do bebê, mesmo que ainda mais por reflexo do que por intenção, como mostrar a língua ou produzir sons com a boca.  Um observador mais atento pode compreender que, nesse jogo de imitação, troca de sorrisos e olhares, se estabelece uma forma de comunicação a partir da construção da relação afetiva entre a criança e seus cuidadores, sendo este último aspecto importantíssimo para a estimulação do desenvolvimento infantil.
Mais tarde, por volta dos 4 meses de vida, começam os balbucios – língua particular dos bebês -, que nada mais são do que esboços da fala falada. É entre um balbucio e outro que o adulto supõe ouvir algumas palavras como “mamã”, “papá”, “bó”, “au” e que, a partir deste reconhecimento, incentiva o uso de tais palavras para designar a mamãe, o papai, a comida, a bola, o cachorro, respectivamente. Nesse momento as imitações passam a ser totalmente intencionais, ganhando complexidade, por exemplo, quando os pequenos tentam reproduzir sons e gestos dos adultos, acenando com as mãos (o famoso “tchauzinho”), batendo palmas ou mandando beijos. Aqui também os bebês começam a desenvolver outras formas de comunicação a fim de demonstrar o que desejam: apontam com o dedo, levam a mão do adulto na direção do objeto almejado e assim por diante.
Diante deste contexto vemos então como os adultos responsáveis pela criança – pais, demais familiares, educadores, e etc. – tem um papel fundamental na aquisição da linguagem infantil. É o adulto quem empresta à criança palavras para expressar o que ela sente e pensa quando ela ainda não é capaz de fazê-lo. Neste sentido, poder reconhecer as diferentes formas de comunicação da criança é o que possibilita o adulto compreender sua participação neste processo, servindo como interlocutor entre a criança e o mundo ao seu redor.
Um exemplo disso, são as mordidas, tapas e puxões de cabelo tão presentes em determinado momento do desenvolvimento infantil nas relações entre as crianças (e por quê não na relação que estabelecem com os adultos também?!). Se considerarmos que essas atitudes têm, para a criança, função de comunicação, por exemplo durante uma disputa por brinquedos ou atenção dos pais e/ ou professores, seremos capazes de compreender que estes não são comportamentos de uma criança mal-educada ou agressiva como muitas vezes são vistas. Na realidade, tratam-se de expressões em ato ao invés de palavras. Nestas ocasiões a participação do adulto fica muito evidente na medida em que ele serve como mediador do conflito, nomeando a situação para a criança e oferecendo outros recursos, socialmente mais aceitos, para que ela atinja seus objetivos:
“Vi que você queria muito que a mamãe brincasse com você, mas agora a mamãe está ocupada e você precisa esperar. Quando você quiser mostrar algo para ela você pode chamá-la ou cutucá-la com sua mão, mas não pode machucá-la! ”
Ou ainda: “Estou entendendo que você quer brincar com aquele boneco, mas agora quem está brincando é seu amigo. Você pode pedir para ele emprestado ou propor de vocês brincarem juntos, mas não pode arrancar da mão dele nem o machucar. ”
Em algumas situações específicas é importante estar atento para os casos em que a criança apresenta, sob um viés evolutivo do processo de aquisição da linguagem, algum atraso nesta função. Por exemplo, quando ela não consegue passar do choro para o balbucio ou do balbucio para as palavras ou então outras dificuldades nesta área, o que poderia indicar um risco para o seu desenvolvimento pleno, sugerindo a necessidade de uma observação e intervenção junto à profissionais especializados, como o psicólogo e o fonoaudiólogo.
Pensando nessas questões, aqui no Instituto C realizamos rodas de conversas organizadas em módulos psico-educativos sobre a aquisição da linguagem durante a primeira infância com o intuito de desmistificar algumas crenças e incentivar que os pais possam conversar com seus filhos estimulando assim o desenvolvimento da linguagem e ajudando-os a detectar algum sinal de risco, quando for o caso!