RODA DE CONVERSA SOBRE MORTE E LUTO NO INSTITUTO C CONVIDA ESPECIALISTAS EM CUIDADOS PALIATIVOS PARA CAPACITAÇÃO DA EQUIPE E AMPLIAÇÃO DOS HORIZONTES NO ATENDIMENTO ÀS FAMÍLIAS.
QUANDO A VIDA É MAIS IMPORTANTE QUE A CURA
Perguntas e silêncios cercam o tema da vida e seu fim, pois certamente é fácil notar que não fomos acostumados com o tema da morte. Nos atendimentos do Instituto C, precisamos lidar com a morte e o luto, já que o trabalho com as crianças portadoras de doenças crônicas e com suas famílias por vezes traz esse tema para a nossa realidade. É justamente para estimular reflexões e entendimentos, que a Dra. Ana Paula Santos, médica anestesista e especialista em controle da dor, juntamente com a Psicóloga e Psicanalista Leda Arruda Chaves, foram convidadas pelo Instituto C para contar um pouco sobre o trabalho dos cuidados paliativos e histórias que cercam o tabu da morte.
Os cuidados paliativos constituem um método de trabalho multidisciplinar que objetiva a melhoria da qualidade de vida de um paciente e seus familiares diante de uma doença que ameace a vida. Com pouco tempo de existência no Brasil e com muito caminho ainda a percorrer, também dentro do sistema de políticas públicas, o cuidado paliativo se coloca como tratamento complementar em alguns centros de excelência de atendimento médico, como a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. É um trabalho para garantir, de todas as formas possíveis, que o paciente tenha qualidade de vida, sinta menos ou nenhuma dor física, encontre mais sentido para sua existência e adquira, por meio de uma construção em conjunto com a equipe, um entendimento único para sua situação corporal, emocional e, consequentemente, espiritual. Para Leda Chaves, é importante que o tratamento de cuidados paliativos leve em consideração os aspectos espirituais do paciente, respeitando e sobretudo escutando essas manifestações que fazem sentido para cada um.
São farmacêuticos, atendentes, assistentes sociais, fisioterapeutas, psicólogos, faxineiros, médicos, voluntários que formam a equipe de cuidados paliativos, e que de uma forma excepcional constroem uma verdadeira rede que atende famílias numa situação em que devem e precisam lidar com o tema morte de algum ente amado. Segundo Leda e Ana Paula, por se tratar de um atendimento mais humanitário, o trabalho com os cuidados paliativos pode manejar a verdade com a família e com o paciente de uma forma mais sensível e mais adaptada à situação específica e à idade do assistido.
A busca pela cura, que pode envolver métodos muitas vezes invasivos, dolorosos e ineficientes, cede espaço para um momento de olhar-se, olhar ao redor, compor diálogos com parentes e pessoas próximas que, numa situação fora dos cuidados paliativos, poderia passar sem chance de existir, de acontecer e que trazem um conforto para a família e para o paciente em um momento tão delicado da vida.
LUTO & RECOMEÇO
A verdade da morte só pode ser vivida na sua inteireza quando a realidade opaca do luto se impõe aos familiares e amigos da pessoa que parte. Aprendemos com a Dra. Ana Paula e com a Psicóloga Leda, que é preciso respeitar o momento de dor das pessoas que ficam e, mais do que isso, observar o espaço que cada caso, que cada família e cada ente vai precisar para lidar com essa nova situação. Melhor que palavras pré-concebidas é estar, enquanto profissional e ser humano, presente, inteiro, para a família que, de certa forma, irá perceber tal cuidado e amparo.
O recomeço pode acontecer mais rápido ou ser mais demorado, dependendo do caso, da pessoa, mas certamente será mais reconfortante para as famílias que possuem um acompanhamento respeitoso e acolhedor.
É nesse sentido que o trabalho dos cuidados paliativos, mais hospitalar, se encontra com os atendimentos realizados pelo Instituto C, pois a integridade social das famílias que vivem um luto depende da assistência atenta e humana. Para a Dra. Ana Paula, finalizando a roda de conversa, o trabalho do Instituto C “é de extrema importância [para as equipes de cuidados paliativos], que está desse outro lado, cuidando da parte que é de doença e de remédios”.