Categoria: Rodas de Conversa

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Entendendo as rodas de conversa do Instituto C

As rodas de conversa, uma das atividades essenciais proporcionadas pelo Instituto C às famílias, são muito mais que simples encontros. Elas se configuram como verdadeiros elos de integração, promovendo um ambiente propício para conexões autênticas, escuta atenta e enriquecedor compartilhamento de conhecimentos e experiências.

Através desses diálogos significativos, as famílias aprendem sobre questões pertinentes e fortalecem os laços comunitários – proporcionando um espaço de acolhimento, aprendizado e apoio mútuo.

Aqui, você vai entender melhor como funcionam as rodas de conversa no Polo Centro e no Polo Zona Norte, a metodologia do Instituto C e a importância desse momento para cada família que por ali passa. 

Rodas de conversa: por que e como acontecem? 

A sede do Instituto C fica no Polo Centro, onde é executado o Plano de Ação Familiar – o primeiro projeto realizado pelo IC e com o qual iniciamos a testagem e modelagem da nossa metodologia de atendimento. 

No Polo Centro as rodas de conversa são bimestrais e fazem parte do plano de atendimento às famílias. Elas ocorrem em um esquema de alternância: um mês é dedicado ao atendimento individual com os técnicos de referência e no mês seguinte ocorre a roda de conversa, seguida pelos atendimentos multidisciplinares. “Temos um calendário prévio com os temas que vamos discutir ao longo do ano: no total são 6. Dividimos as famílias em grupos para garantir a inclusão de todas e, durante aproximadamente uma hora, elas participam das discussões”, explica Katia Moretti, coordenadora do Polo Centro.

Já o Polo Zona Norte foi inaugurado em março de 2022 e é onde executamos o projeto Cidadania em Rede – junção de toda expertise do Instituto C adquirida ao longo de uma década de atuação em um grande projeto que oferece atendimento a famílias em situação de vulnerabilidade com crianças e adolescentes, residentes em comunidades do entorno do Polo Zona Norte. Ali, as rodas de conversa são realizadas semanalmente, abordando um tema diferente a cada semana.

Ao contrário do Polo Centro, onde as rodas se repetem, no Polo Zona Norte há uma variedade contínua de assuntos discutidos. Além dos atendimentos individuais que as famílias recebem, há esse momento de conversa todas as segundas-feiras à tarde. Os temas são escolhidos com base nas observações feitas pelos técnicos nos atendimentos individuais, nas demandas recorrentes e em datas importantes, como o Setembro Amarelo, por exemplo.

“Cada semana é um técnico diferente que assume a responsabilidade pela roda. São sempre dois técnicos envolvidos: um define o tema e conduz a discussão, enquanto o outro auxilia na organização logística e outras tarefas necessárias. O técnico designado para o tema pode conduzi-lo pessoalmente ou convidar especialistas para enriquecer a discussão”, explica Talita Lima, coordenadora do Polo Zona Norte. 

O impacto das rodas de conversa no atendimento

As rodas de conversa são cuidadosamente preparadas pelas técnicas do Instituto C, que identificam demandas coletivas e realizam pesquisas para enriquecer as discussões. O objetivo é promover um ambiente de trocas e aprendizado mútuo, evitando transformar as rodas em meras palestras. São empregadas dinâmicas e atividades que estimulam a participação ativa das famílias, incentivando a partilha de experiências e conhecimentos.

O impacto das rodas de conversa nos atendimentos é significativo, como evidenciado pelas avaliações das famílias. “A média de satisfação é extremamente alta, com uma nota média de 9,95, e todas as famílias concordam plenamente que as rodas ajudam a lidar com temas desconhecidos”, garante Kátia. “Nas rodas tive informações atuais e conhecimento que eu nunca havia acessado”, avaliou Fernanda Lima Zerbatto de Lucena, uma das mulheres atendidas pelo Instituto C no Polo Centro.

No Polo Zona Norte, embora todas as famílias sejam convidadas a participar, é importante observar que o dia da roda ocorre fora do horário habitual de atendimento, sendo dedicado principalmente à evolução de casos e visitas domiciliares. “A gente percebe que a frequência varia e geralmente é menor em comparação com o número total de famílias atendidas. No entanto, temas que ressoam com dores específicas das famílias, como autismo e desenvolvimento infantil, costumam atrair uma maior aderência”, diz Talita. 

Lá, os temas são divulgados antecipadamente, permitindo que as famílias escolham participar daquelas que mais lhes interessam. “Isso resulta em uma participação mais engajada, mesmo que o número de participantes seja menor, pois aqueles que comparecem têm um interesse direto no assunto discutido”, acrescenta Talita. 

Dentro das avaliações no Polo Zona Norte, 87% das famílias avaliaram como excelentes as rodas de conversas que participaram em 2023. “Foi muito positivo rever algumas atitudes que temos em relação aos meus filhos, identificando o que preciso melhorar, o quanto já melhorei e como a criação democrática e ao mesmo tempo firme é importante”, registrou Laize O. C. Santana, uma das mulheres atendidas pelo Instituto C. Já Nathalia Stephanie Felix de Morais, também atendida no Polo Zona Norte, reforçou a questão da identificação: “Esse encontro para mim foi importante para poder me expressar e ouvir pessoas que passam ou passaram por problemas parecidos”.

Retrospectiva dos temas das conversas

No Polo Centro, em 2023, os temas foram capacitismo, violência contra a mulher, importância do brincar, horta caseira, identidade e representatividade, e planos e metas. Dessas, Kátia destaca os temas sobre capacitismo e a importância do brincar, proporcionando trocas valiosas e desmistificando conceitos pré-existentes. “A identificação com as histórias, problemas e conquistas das outras famílias é um aspecto potente das rodas, promovendo um senso de comunidade e apoio mútuo entre os participantes”, reforça a coordenadora.

“Aprendi muito com essa roda de conversa. Eu já tinha ouvido de outros profissionais sobre a importância de brincar, mas hoje, com vocês eu pude compreender mesmo. A forma que vocês explicaram, abriu a minha visão. A partir de agora vou ter outro olhar quando levar meu filho para os tratamentos”, avaliou Katiane de Fátima da Silva, sobre a roda de conversa “A importância do brincar”, no Polo Centro.

Na Zona Norte, Talita destaca alguns eventos passados, como a roda sobre autismo com a presença de uma neuropedagoga, demonstraram um alto nível de interesse e participação ativa das famílias, que trouxeram feedbacks positivos após o evento. Da mesma forma, discussões sobre saúde da mulher e sexualidade feminina despertaram um misto de curiosidade e tabu, evidenciando a importância dessas conversas.

“Após cada roda de conversa, uma avaliação é realizada, permitindo que as famílias forneçam feedbacks e sugestões. No geral, as avaliações são positivas, pois as famílias reconhecem que não estão sozinhas e que há uma identificação mútua entre elas”, acrescenta Talita. 

Dessa forma, percebemos que as rodas de conversa do Instituto C representam muito mais do que simples encontros semanais ou bimestrais; são espaços de conexão, aprendizado e apoio. Tanto no Polo Centro quanto no Polo Zona Norte, esses momentos proporcionam às famílias não apenas uma oportunidade de discutir temas relevantes, mas também um lugar onde se sentem ouvidas, compreendidas e parte de uma comunidade solidária. O engajamento ativo das famílias, mesmo diante de temas desafiadores ou delicados, ressalta a importância e o impacto positivo dessas iniciativas na promoção do bem-estar e desenvolvimento integral de todos os envolvidos.

PAFRodas de ConversaVoluntariado

Estudantes de psicologia promovem atividade sobre defensoria pública com as crianças

Crianças aprendendo sobre defensoria públicaSomos estagiários de psicologia e estamos desde o início do ano acompanhando a equipe do Instituto C e pensando, de forma conjunta, ações dentro da brinquedoteca. Uma destas ações era expandir os temas e reflexões vividos nas rodas de conversas com as mães e responsáveis. O espaço de fala e troca também poderia acontecer lá, com atividades e vivências.

Em outubro, o tema discutido foi “Defensoria Pública”. Convidamos as famílias a trazerem suas crianças e, no primeiro dia vieram cinco, entre 6 e 10 anos. Para começar, fizemos uma roda em pé e nos apresentamos falando nossos nomes junto com um gesto. Todos repetiam, como um cumprimento. Dessa forma o grupo todo pareceu se integrar, dizendo seu nome e do outro, reconhecendo ali seu espaço e abrindo espaço para o outro também estar.

¨Naquele momento, não caberia definir o certo e errado, mas sim viver um exercício de reflexão crítica em que todos pudessem caber e somar. As crianças sortearam, ao todo, 5 palavras: dever, cidadão, direito, ajuda e grupo.”

Para aquela ação, preparamos previamente um baralho de palavras que possuíam ligação com o tema (Defensoria Pública) e imagens diversas. Sentamos em roda, espalhamos as imagens no chão e pedimos para uma das crianças sortear uma palavra. O espaço ali era para criarmos sentidos e significados em conjunto a partir da conversa sobre as palavras e a associação com as imagens, e atravessamentos com suas vivências e repertórios. Naquele momento, não caberia definir o certo e errado, mas sim viver um exercício de reflexão crítica em que todos pudessem caber e somar. As crianças sortearam, ao todo, 5 palavras: dever, cidadão, direito, ajuda e grupo.

A palavra dever, segundo as crianças, significava algo que precisaria ser feito. Através das imagens, explicavam que era dever do adulto não brigar com a criança, assim como era dever do adulto levá-las para passear. Uma imagem de tintas e cores representava o dever da criança de ter e fazer artes, e a imagem de pessoas abraçadas significava o dever de todos de receber e dar carinho.

Já com a palavra cidadão, as crianças disseram que era uma pessoa. Fomos perguntando e provocando para entender melhor quem seria essa pessoa.

  • ‘Todos podem ser cidadãos, tooooodos mesmo?’,  indagamos;
  • ‘Sim, mas quem machuca e agride o outro não pode mais ser cidadão’, respondeu uma das crianças. ‘Mas, claro que se a gente perdoasse ele, poderia então voltar a ser cidadão’;

Esse momento gerou uma pausa de reflexão no pequeno grupo. Escolheram então imagens de um grafite em que havia um indígena com cabelos de árvore, outra imagem de olhos, outra de pessoas conversando e uma quarta imagem de pessoas com deficiência.

Interessante perceber como é a concepção das crianças em relação aos conceitos escolhidos por palavras. Traziam os conceitos para o concreto, para o dia a dia, em forma de exemplos e lembranças. Nessa troca, nós não éramos os protagonistas. Nessas semelhanças e diferenças de vivências, as crianças se reconheciam, ajudavam-se e questionavam-se nas falas umas das outras. Isso fez com que a reflexão fluísse de uma maneira mais aprofundada.

Vale lembrar que escolhemos imagens inclusivas, com pessoas com deficiências exercendo atividades diversas, o que percebemos que fez muita parte das escolhas das crianças. Isso nos faz pensar sobre como elas reconhecem aquelas diferentes pessoas em suas rotinas, e como a inclusão faz parte da vivência delas. No chão, ia surgindo um desenho entre imagens e palavras, um mapa de toda aquela discussão.

Em seguida, sortearam a palavra direito. As imagens escolhidas representavam diversas formas de se olhar essa palavra:

  • ‘Essas casas estão desenhadas direito’, trazendo o sentido de ordem, retas, alinhadas;
  • ‘Nessa rua tem dois lados, o direito e o esquerdo’, sendo aqui um lado;
  • ‘A vacina precisa ser dada direito para não doer’, ‘precisa atravessar a rua direito’, ou seja, de maneira correta, jeito certo.

Perguntamos então, sendo direito igual a certo, o que seria certo para as crianças. É direito da criança o que? Como se fosse uma voz só, todas disseram: “Brincar”. Histórias de casa e de família foram surgindo. E, antes de perguntarmos, já começavam a compartilhar: havia o direito a comida, a casa, e também a poder andar de cadeira de roda.

  • ‘A pessoa tem direito de andar de cadeira de rodas?’, perguntamos;
  • ‘Sim;’ 
  • ‘Mas, e se eu construo uma rua em que você não consegue passar com a sua cadeira. Eu tô atrapalhando o seu direito?’
  • ‘Acho que não;’

Mas, neste momento sua amiga questionou:

  • ‘Ai amiga, você já não consegue nem andar, já está de cadeira de rodas e aí você não consegue passar na rua? Não pode atrapalhar a cadeira de rodas. É direito; 

Montamos novamente um mural no chão.

Então sortearam a palavra ajuda. As crianças separaram imagens. Compartilhavam que era importante ajudar quem precisa andar com a cadeira de rodas, e também ajudar as pessoas que estavam tristes a se sentirem melhor. Ajudar era cuidar.

  • ‘Como poderíamos fazer isso?’;

Foram dando exemplos de piadas, falas e acolhimentos que usavam no dia a dia para ajudar as pessoas se sentirem felizes e melhores.

Por fim, sorteamos a palavra grupo. A reflexão foi sobre como poderia ser um conjunto de pessoas, que se conheciam ou não. Seus integrantes poderiam ser diferentes. Este grupo poderia ter animais. Além disso, “a família também poderia ser um grupo”.

Percebemos que, aos poucos, as palavras sorteadas passaram a se misturar, e  aquele mapa no chão, cada vez maior, não criava divisões, mas sim um emaranhado de sentidos que conversavam e se complementavam.

Olhamos juntos aos mapas mentais, admirando o tamanho de nossa conversa, satisfeitos com aquela reflexão tão concreta ali ao nosso lado. O convite, por fim, era de sermos multiplicadores desses conhecimentos. Através de uma colagem – com revistas e cartolinas – escolherem palavras que tenham lhes atravessado e organizar seus próprios mapas mentais. As palavras escolhidas foram ajuda e grupo.

Aquele momento não era de esgotar a discussão, mas sim deixar a porta aberta e escancarada para que esses temas pudessem se esparramar, transbordar e reverberar no grupo, nos seus espaços, amigos e familiares!

* Texto escrito por Zoé Coin e Rafael Martinelli, estagiários do 10º e 9º semestre de psicologia da Universidade UNIP – Universidade Paulista.

Saiba mais sobre defensoria pública.

Cidadania em RedeRodas de Conversa

As rodas de conversa na Casa Amarela

Conversas, diálogos e debates já são marcas registradas do Instituto C – seja nos projetos, quanto no dia a dia de trabalho. E agora, toda segunda-feira, acontecem as ‘Rodas de conversa na Casa Amarela’ – apelido carinhoso para o novo polo do IC, na Zona Norte. “O diferencial que a gente trouxe para o Cidadania em Rede é que agora as rodas de conversão não se restringem aos dias dos atendimentos, mas sim às segundas”, conta Talita Lima, coordenadora do Projeto.. 

A proposta é que a cada semana um tema diferente seja abordado. E esses temas sempre surgem a partir dos atendimentos, das sugestões dos profissionais ou das famílias, de interesses coletivos ou de parcerias com empresas que agreguem no conhecimento das famílias e crianças atendidas.. 

“Já tivemos rodas em parceria com a Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo, a COHAB, para falar sobre moradia, por exemplo. Também já falamos sobre empregabilidade com jovens aprendizes, sobre como cultivar o próprio alimento em uma horta caseira, entre outros”, diz Talita.

O objetivo da roda é justamente esse: escutar, acolher, falar sobre direitos e deveres, orientar famílias e montar um círculo de convivência entre todos. “As rodas semanais são um espaço onde as famílias se encontram e convivem. A gente fala que também é um atendimento coletivo, onde elas podem conversar com alguma técnica, tirar dúvidas e conviver de fato”, acrescenta a coordenadora do projeto. 

Todas as rodas de conversa são abertas ao público e, não sendo durante os horários de atendimento, mais gente consegue estar presentes e aprender sobre um assunto novo toda semana! Por isso, anote aí e venha nos visitar! As rodas de conversa acontecem todas às segundas-feiras, às 14h00, na Casa Amarela. 

Conheça o nosso espaço na Zona Norte de São Paulo:

Rua Hanna Abduch, 316 / Telefone: 11 3459-1406

Horário de atendimento: de segunda a quinta-feira, das 8h às 17h

Áreas de atendimentoPAFRodas de Conversa

Roda de Conversa Virtual é sobre Emoções e suas Reações

Em abril, aconteceu a primeira Roda de Conversa virtual do PAF – Plano de Ação Familiar de 2021, que reuniu 13 famílias atendidas pelo projeto. O tema da roda foi Emoções e trouxe aos participantes algumas reflexões  importantes em meio a pandemia. “O que são as emoções? Qual a diferença entre emoção e sentimento. Quais são as reações que o nosso corpo tem, as alterações na nossa fala, a maneira como expressamos aquilo que estamos sentindo?”, questionou Karen Magri, Assistente Social do projeto, logo após o início da Roda de Conversa.

Durante o encontro, as participantes puderam falar um pouco como estavam se sentindo nesse momento. “Eu sinto muita ansiedade, então, eu acabo comendo fora do normal de nervoso. Devido ao isolamento, as crises de convulsão do meu filho estão se agravando mais ainda, então, eu acho que o isolamento está fazendo muito mal para gente.”, comentou Graziela.

Para a maioria das mães, a oscilação de humor é constante, mas o medo e a angústia acabam tomando conta do dia. “Eu estou com uma angústia muito grande, muito medo, só saio para ir com a Eloisa e a Manuela no médico. E é muita angústia. Tem dias que eu preciso ir para o pronto socorro, porque me bate aquela falta de ar, é muito nervoso. Tem dia que eu estou bem, tem dia que eu não estou.” contou Rosimeire. Sentimento que também foi compartilhado por Lourdes. “Ansiedade, hoje mesmo eu to com uma falta de ar, mas eu sei que não é um problema, é a ansiedade da gente muito tempo preso, a gente virou prisioneira, vem a ansiedade, vem a angústia, hoje eu to um pouco chorona e também com esta falta de ar.”.

A Psicóloga do projeto, Nayara Oliveira, alertou para a importância de conhecermos e reconhecermos o que estamos sentindo. “É importante pensar no que a Karen falou porque a emoção traz uma reação corporal. A gente sente coisas no nosso corpo, por exemplo, quando a gente sente nojo, o nosso corpo quer expulsar aquilo, a gente sente uma reação de afastamento daquilo que nos provocou nojo. O nosso corpo recua. Às vezes é difícil diferenciar as emoções porque as reações produzidas no nosso corpo, elas são semelhantes, como o fato de chorarmos de alegria e de tristeza. O choro é uma reação corporal às duas emoções, mas são duas emoções muito diferentes.”.

“Por isso é importante saber o que está acontecendo, conversamos muito isso nos atendimentos da psicologia, a importância de nomear o que estamos sentindo e não só nomear, mas se perceber, voltar a si e sacar o que está acontecendo no nosso corpo, quais afetos estão surgindo.” acrescentou Nayara.

Para finalizar a roda, a Assistente Social, Liliane Moura, ensinou uma técnica de relaxamento e incentivou a todas a usarem a técnica nos momentos de estresse e agitação do dia-a-dia. A técnica utilizada consiste em prestar atenção na respiração, o que ajuda no processo de acalmar, olhar para si e olhar para as emoções. “Você respira três vezes, muito profundamente, então, começa respirando e vai até o final da respiração, pelo nariz e solta pela boca. Após as três vezes, você começa a deixar os pulmões a trabalharem naturalmente, porque não precisa forçar ele. E aos poucos você vai prestando atenção na sua respiração, como o pulmão faz um trabalho todo automaticamente. Fechar os olhos, prestar atenção em como funciona a respiração, como o ar frio entra e o ar quente sai.”, conduziu a técnica.

As participantes agradeceram o espaço de acolhimento e escuta que sempre acontece durante as Rodas de Conversa. “Está sendo uma situação muito difícil, lidar com três crianças dentro de casa, brigando. E foi até bom essa reunião porque a gente desabafa um pouco, porque a gente sente falta de conversar com alguém. É totalmente diferente.”, agradeceu Ana Paula.

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Rodas de Conversa | Expectativa x Realidade 2020

Em novembro, o PAF – Plano de Ação Familiar começou a tratar de um novo tema nas rodas de conversa: Expectativa x Realidade. A Psicóloga do projeto, Nayara Oliveira, conduziu o encontro com as famílias e iniciou a atividade com uma breve explicação sobre o tema escolhido. “Estamos chegando no fim do ano e como estamos fazendo rodízio entre as famílias, mês presencial, mês virtual, este é nosso último encontro. Por isso, lembramos daquela brincadeira da internet Expectativa x Realidade. Pensamos que seria interessante falar sobre as expectativas que tivemos no início do ano, sobre as realizações e sobre aquelas que não foram atendidas. Eu mesma fiz muitos planos no começo do ano e muitos não puderam ir para frente porque a realidade se mostrou diferente.”, explicou.    

 

As participantes, na sua maioria mulheres, puderam falar um pouco sobre os anseios que tomaram conta das suas vidas com o início da pandemia em março deste ano. “Quando começou a quarentena, eu quase surtei em casa. Comecei o ano cheia de expectativas, tenho 3 crianças e sou apenas uma mãe, de repente estávamos todos trancados em casa, elas com toda aquela energia dentro de casa. Teve dias de não saber se era segunda, terça, perdi a noção. Minha sensação é a de que não fizemos nada. Você só vê passando os dias.”, comentou Ivete Santos de Almeida, que participava pela primeira vez da roda.

 

Para Nayara, é comum que esta relação com o tempo seja alterada em um momento como este. “Nos sentimos um pouco perdidas, uma sensação de mesmice, somado a isso, tememos a morte e, ver isso muito próximo, em uma realidade mundial, também tem efeitos, nós sentimos medo do que pode acontecer.  Por isso, o ponto central aqui é se existe a possibilidade de deixar para trás esses medos, na esperança de alguma proteção, de que o ano que vem seja diferente, ou seja, uma vontade de ultrapassar este tempo”, comentou.

 

Edna Maria de Aquino, mãe da Ana Clara, que participa do PAF desde janeiro de 2020 concorda que o desejo é para que este ano acabe logo. “Estou tentando superar a cada dia, manter a paciência em casa. É o que tá tendo. A gente fica em pânico porque nossos filhos são do grupo de risco. A minha maior expectativa para o ano que vem é a vacina, somente quando tiver vacina, a gente conseguirá respirar novamente.”.

 

Na segunda parte da roda, as famílias sortearam um papel com o nome de outra pessoa presente na ocasião. A ideia era fazer um amigo secreto simbólico em que cada um escrevesse o que desejava ao outro para o próximo ano. O destaque ficou por conta da carta escrita pela Liliane para a Cristina, confira abaixo:

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“Bom dia Cristina, nesta carta começa aqui uma nova amizade. Quando você começou a falar vi em você uma mulher guerreira mas também uma pessoa bem alegre. 

 

Cristina, o que dizer desse ano né. Vivemos com medo sem expectativa mas graças a Deus estamos bem. Nossa família bem também. Agora vamos falando. 

 

Ano que vem que possamos nos encontrar com notícias boas para compartilharmos. 

 

Te desejo tudo de bom que não falte em sua vida e mesmo em sua casa a paz e alegria o amor saúde e pão de cada dia e que seus planos e projetos desse ano não deram certo que ano que vem se realize todos e os que você almeja de melhor venha se realizar.”

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Para Nayara, as rodas de conversa proporcionam um momento de troca importante, no qual as famílias deixam de se sentir solitárias, fortalecendo umas às outras. “Ás vezes, precisamos inventar outra estratégia, um outro jeito, porque a realidade se mostra diferente. E essa realidade se apresenta de forma muito dura, produzindo traumas, medos, perdas… muitas perdas e a dificuldade de não poder viver o ritual destas perdas. (…) E eu ouço isso de maneira simbólica, as vezes, pelo simples fato de não estar convivendo próximo dos seus, sentimos nossa batalha solitária, mas ouvir das famílias que, ainda que tudo isso esteja acontecendo, elas estão mantendo a esperança e um desejo de esperança que ajuda a encontrar forças. Acredito que isso nos fortalece de alguma forma.” finaliza.  

PAFRodas de Conversa

Rodas de Conversa – Cuidado e Autocuidado

As Rodas de Conversa voltaram a acontecer no Instituto C depois de 5 meses e o primeiro assunto não podia ser diferente, Cuidado e Autocuidado. A Roda de Conversa é um dos momentos mais aguardados pelas famílias e pelos projetos, isso porque, a troca de experiências em conjunto acaba potencializando muito os avanços individuais. “Muitas transformações acontecem em conjunto, neste sentido, a Roda de Conversa é este espaço de troca e aprendizado horizontal. Mesmo com as singularidades, durante a Roda, nos sentimos parte de um todo e juntas conseguimos nos reconhecer e avançar nestes processos.”, comentou Nayara Oliveira, psicóloga do PAF.

A primeira Roda aconteceu virtualmente e as demais em pequenos grupos, formados por até 5 famílias, de forma a respeitar o distanciamento necessário na sede do Instituto C. “Percebemos que a roda virtual tem seus desafios, mas foi uma ótima experiência para as participantes, assim como no presencial, de compartilhamento das histórias comuns a todas as mães e responsáveis pelas famílias.”, explicou Nayara.

Gustavo Louver, que trabalha na área de Comunicação do Instituto C acompanhou uma dessas rodas em setembro e teve a oportunidade de conhecer um pouco mais das histórias da Tainá, Carlos, Jusivaldo e Manoucheca. “Fico muito feliz em estar de volta”, comentou Tainá minutos antes da atividade ser iniciada. 

Para começar, Katia Moretti, Analista do PAF, propôs aos participantes que falassem um pouco sobre Cuidado em dois momentos diferentes. “Gostaria que vocês falassem sobre quem cuidou de vocês na infância e de quem vocês cuidam hoje em dia.”. Para isto, ela colocou um pouco de hidratante nas mãos de cada um dos participantes, os quais deveriam massagear as próprias mãos enquanto falavam. “A ideia do hidratante é estimular uma percepção sobre o corpo e buscar, por meio da automassagem, um lugar de memória sobre o que é o cuidado”, explicou Kátia.

“Minha mãe nunca deixou faltar nada pra gente, apesar das dificuldades. Trocava mangaba por arroz em palha, pisava no pilão e fazia pra gente comer. Tenho o maior orgulho! Ela cuidava da gente no foice e na enxada, nunca faltou nada graças a Deus!”, comentou Carlos sobre os tempos de criança, quando ainda morava em Montezuma (nordeste de Minas Gerais). “Hoje, eu cuido dos meus filhos do mesmo jeito, mesma educação. Eu e minha companheira cuidamos um do outro.”, acrescentou na sequência.

Por fim, os participantes olharam por alguns segundos uma caixa fechada com um objeto dentro estimulados por Katia. Ao final, cada um pode falar um pouco sobre o que estava sentindo naquele momento e com aquela atividade. “Não sei se tem sentido com a atividade, mas lembrei da minha infância. No quintal da minha  mãe tinha um pé de tamboril. Juntava toda a molecada para brincar no pé da árvore, alí comíamos araça, roíamos o pequi e jogávamos a castanha fora. Queria criar meus filhos assim, mas hoje em dia aqui em São Paulo, é tão difícil deixar as crianças saírem na rua.”, comentou Carlos ao ver seu rosto refletido em um pequeno espelho dentro da caixa, objeto que disparou as reflexões e diálogos que ampliaram a questão do autocuidado, convidando o participante a olhar para si, suas marcas e trajetórias, sentimentos acolhidos carinhosamente pelo grupo.

Rodas de Conversa

Rodas de Conversa serão sobre Educação Financeira em março

Esta semana, o Plano de Ação Familiar dará início a um novo tema nas Rodas de Conversa, Educação Financeira. Ao todo serão 10 encontros, nos quais as famílias debaterão sobre a importância do planejamento financeiro para a conquista da autonomia.

Segundo a Analista do Projeto, Katia Moretti, o planejamento financeiro é um dos pilares mais importantes para a independência da família. “Muitas famílias pensam que o planejamento financeiro é apenas para quem tem muito dinheiro e não se informam sobre o assunto”.

Os temas abordados auxiliam as famílias a darem os primeiros passos neste sentido, como, por exemplo, anotar os gastos em um caderno para maior controle diário, passando por dicas de como poupar dinheiro e até elaborar metas. “É por meio do planejamento financeiro que as famílias conseguem ter mais domínio de quanto entra de receita, quanto tem para gastar e, ao longo dos atendimentos, vai adquirindo mais consciência de quanto gasta com cada item e onde pode economizar.”, comenta Vera Oliveira, Gerente Geral do Instituto C.

O material desenvolvido para as rodas teve como base a Apostila de Educação Financeira do Sebrae, Guia de Educação Financeira da Escola Paulista de Defesa do Consumidor e ainda um episódio da série Cuidando do seu Bolso produzida e exibida pela TV Brasil. “Falar sobre dinheiro é falar sobre falta; e essas famílias vivem muitas faltas no dia a dia. Por isso é sempre necessário muita cautela na abordagem do assunto de modo que não gere mais angústias para essa família e sim traga uma nova perspectiva sobre o assunto.”, comenta Katia.

Os temas abordados na roda, também são desenvolvidos nos atendimentos individuais, com maior ou menor ênfase de acordo com a demanda da família. Para Katia, trabalhar estes temas no coletivo ajuda na construção de laços mais fortes com o grupo. “Vejo que trabalhar esses temas no coletivo é muito potente pois mostra que essa é uma realidade enfrentada por todos, frisando sua importância e amenizando resistências apresentadas no atendimento individual.”. 

Rodas de Conversa

Roda de Conversa de julho foi sobre Morte e Luto

RODA DE CONVERSA SOBRE MORTE E LUTO NO INSTITUTO C CONVIDA ESPECIALISTAS EM CUIDADOS PALIATIVOS PARA CAPACITAÇÃO DA EQUIPE E AMPLIAÇÃO DOS HORIZONTES NO ATENDIMENTO ÀS FAMÍLIAS.

QUANDO A VIDA É MAIS IMPORTANTE QUE A CURA

Perguntas e silêncios cercam o tema da vida e seu fim, pois certamente é fácil notar que não fomos acostumados com o tema da morte. Nos atendimentos do Instituto C, precisamos lidar com a morte e o luto, já que o trabalho com as crianças portadoras de doenças crônicas e com suas famílias por vezes traz esse tema para a nossa realidade. É justamente para estimular reflexões e entendimentos, que a Dra. Ana Paula Santos, médica anestesista e especialista em controle da dor, juntamente com a Psicóloga e Psicanalista Leda Arruda Chaves, foram convidadas pelo Instituto C para contar um pouco sobre o trabalho dos cuidados paliativos e histórias que cercam o tabu da morte.

Os cuidados paliativos constituem um método de trabalho multidisciplinar que objetiva a melhoria da qualidade de vida de um paciente e seus familiares diante de uma doença que ameace a vida. Com pouco tempo de existência no Brasil e com muito caminho ainda a percorrer, também dentro do sistema de políticas públicas, o cuidado paliativo se coloca como tratamento complementar em alguns centros de excelência de atendimento médico, como a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. É um trabalho para garantir, de todas as formas possíveis, que o paciente tenha qualidade de vida, sinta menos ou nenhuma dor física, encontre mais sentido para sua existência e adquira, por meio de uma construção em conjunto com a equipe, um entendimento único para sua situação corporal, emocional e, consequentemente, espiritual. Para Leda Chaves, é importante que o tratamento de cuidados paliativos leve em consideração os aspectos espirituais do paciente, respeitando e sobretudo escutando essas manifestações que fazem sentido para cada um.
São farmacêuticos, atendentes, assistentes sociais, fisioterapeutas, psicólogos, faxineiros, médicos, voluntários que formam a equipe de cuidados paliativos, e que de uma forma excepcional constroem uma verdadeira rede que atende famílias numa situação em que devem e precisam lidar com o tema morte de algum ente amado. Segundo Leda e Ana Paula, por se tratar de um atendimento mais humanitário, o trabalho com os cuidados paliativos pode manejar a verdade com a família e com o paciente de uma forma mais sensível e mais adaptada à situação específica e à idade do assistido.
A busca pela cura, que pode envolver métodos muitas vezes invasivos, dolorosos e ineficientes, cede espaço para um momento de olhar-se, olhar ao redor, compor diálogos com parentes e pessoas próximas que, numa situação fora dos cuidados paliativos, poderia passar sem chance de existir, de acontecer e que trazem um conforto para a família e para o paciente em um momento tão delicado da vida.
LUTO & RECOMEÇO
A verdade da morte só pode ser vivida na sua inteireza quando a realidade opaca do luto se impõe aos familiares e amigos da pessoa que parte. Aprendemos com a Dra. Ana Paula e com a Psicóloga Leda, que é preciso respeitar o momento de dor das pessoas que ficam e, mais do que isso, observar o espaço que cada caso, que cada família e cada ente vai precisar para lidar com essa nova situação. Melhor que palavras pré-concebidas é estar, enquanto profissional e ser humano, presente, inteiro, para a família que, de certa forma, irá perceber tal cuidado e amparo.
O recomeço pode acontecer mais rápido ou ser mais demorado, dependendo do caso, da pessoa, mas certamente será mais reconfortante para as famílias que possuem um acompanhamento respeitoso e acolhedor.
É nesse sentido que o trabalho dos cuidados paliativos, mais hospitalar, se encontra com os atendimentos realizados pelo Instituto C, pois a integridade social das famílias que vivem um luto depende da assistência atenta e humana. Para a Dra. Ana Paula, finalizando a roda de conversa, o trabalho do Instituto C “é de extrema importância [para as equipes de cuidados paliativos], que está desse outro lado, cuidando da parte que é de doença e de remédios”.