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Um olhar atento e a esperança renovada

Em meio a tantos trabalhos e projetos, uma das principais missões do Instituto C é manter atendimentos profundos, que estimulem a autonomia das famílias, por meio de uma escuta cuidadosa. Algumas histórias revelam que esse não é apenas um objetivo, mas algo sendo concretizado no trabalho diário. O caso do Vinícius, por exemplo, é prova disso. O garoto, de 17 anos, possui três diagnósticos diferentes – deficiência intelectual, dermatite atópica e cranioestenose. 

Vinícius recebia atendimento médico pelo Hospital das Clínicas e sua família chegou ao Instituto por indicações. “Quando eu conversei com a Elo, em um primeiro momento, ela me trouxe uma questão familiar: ela tem uma família muito unida e estruturada, um marido participativo, mas sentia falta dele ser mais participativo com os cuidados  com o Vinícius e tarefas diárias da casa, que deixavam a Elo sobrecarregada – um cenário muito comum entre as mães”, conta Lualinda Toledo, pedagoga e técnica de referência da família.

Depois, em um segundo atendimento, a pedagoga recebeu também o marido de Eloisa para uma conversa, que entendeu o desgaste da esposa, mudando a relação dos dois como casal e pais. 

No caminhar dos atendimento, ao receber informações e conhecer pessoalmente o Vinícius, a técnica percebeu que algo precisava ser feito por ele também. “A dermatite dele é uma doença que causa diversas fissuras na pele e impacta de maneira severa a rotina e condição de sua família, principalmente sua mãe”, conta Lualinda. “Olhando para o garoto, eu entendi que a angústia era maior do que ela estava me passando. Ela precisava, primeiramente, dar conta desse sofrimento como mulher, para dar conta do sofrimento enquanto mãe”. Por meio dessa escuta atenta, a família e Dr. Gustavo Villen Chami, médico voluntário do Instituto, tiveram seus caminhos cruzados.

“A escuta que fiz com a Elo foi bem dolorida. Eu percebi o quanto essa mãe já sofreu procurando diferentes hospitais e tratamentos para lidar com as questões do Vinícius – tudo em meio a uma situação financeira instável. Ela sempre foi uma mulher que atuou para garantir os direitos do filho e isso me virou a chave para contar sobre o caso para o Dr. Gustavo”, conta Lualinda. 

O médico quis entender toda a situação de saúde do Vinícius. “Daí, contou que estava participando de um projeto de estudo com cannabis e propôs a tentativa para Eloisa”, relatou a pedagoga. A mãe, cheia de esperança, topou e logo no início de janeiro o medicamento já estava em suas mãos.

Gustavo Villen Chami, médico de família e comunidade e pós-graduado em cuidados integrativos, chegou ao Instituto há oito meses como voluntário. A organização lhe apresentou o caso de Vinícius mais recentemente e a jornada se iniciou: “Como existia a necessidade de uma possível nova medicação, e também a importância de esclarecer algumas dúvidas sobre os remédios que vinham sendo usados, fui conhecer a família do Vinícius”, conta o médico.

Com o quadro de dermatite atópica, as medicações em uso crônico podem apresentar alguns problemas ao paciente. As recomendações de tratamento mais utilizadas envolvem medicações que também possuem alguns riscos associados. A maconha, por outro lado, de uns anos para cá, vem sendo utilizada como alternativa para diversas condições de saúde. “O canabidiol apresenta um papel importante durante a regulação do sistema imunológico e anti-inflamatório. Inclusive, a planta é utilizada pela humanidade há pelo menos 5 mil anos com diversos propósitos,”, esclarece o médico.

No caso do Vinícius, a irritação causada pela dermatite não estava controlada e hoje o canabidiol introduzido como medicação não apresenta os mesmos riscos. “Entrei em contato com a equipe que o acompanhava no HC para pensarmos em uma união. A ideia é oferecer algo que tem uma boa perspectiva e uma baixa toxicidade”, afirma Dr. Gustavo – que também conseguiu a doação dos medicamentos através da Associação Flor da Vida

“A Elo, mãe de Vinícius, esteve no Instituto recentemente e é outra mulher. Uma alegria de ver! Chegou contando para todos nós que o Vinícius dormiu uma noite inteira depois de fazer uso do medicamento, que está se coçando menos e está respirando melhor”, comemora a pedagoga. “Estamos utilizando ainda uma dose muito baixa, onde nem esperávamos um resultado, apenas monitorar possíveis reações. Agora precisamos entender se a melhora do sono está relacionada a uma redução da ansiedade, um alívio da dermatite no período noturno ou algum outro fator”, conta Dr. Gustavo Villen Chami sobre esse início já positivo.

Agora o sentimento do Instituto e da família é de esperança para que o tratamento faça ainda mais efeito – e que Vinícius ganhe qualidade de vida. “Estou muito feliz por ter conhecido todo o pessoal do IC. O Vinícius nunca foi um peso para mim, pelo contrário, sempre foi a alegria da minha casa. Estou muito feliz por essa ajuda, mesmo!”, celebra a mãe.

Áreas de atendimentoVoluntariado

Rede de voluntários de Psicologia: somar para acolher

O cuidado com a saúde mental se tornou uma das maiores lacunas em tempos de pandemia. O que já era urgente, ganhou proporções ainda maiores por conta do coronavírus – deixando brasileiros ainda mais inseguros, ansiosos e preocupados. Compreendendo essa carência, o Instituto C colocou em prática um desejo antigo e iniciou uma rede de voluntários de psicologia para prestar assistência às famílias atendidas em seus projetos. “A criação da rede começou por conta do momento da pandemia, onde identificamos várias questões de saúde mental. Nós sempre encaminhamos para o Sistema Único de Saúde, mas este apresenta uma superlotação. Então surgiu a ideia de criar esse banco de voluntários”, conta Graziele Alessandro, psicóloga e líder do projeto Primeira Infância. 

As inscrições acontecem a partir de um formulário divulgado nas redes da Instituição e os atendimentos, em geral, estão acontecendo no formato virtual – havendo a possibilidade de presencial para as famílias que desejarem. Além disso, o Instituto também realiza uma supervisão com os profissionais a cada dois ou três meses para entender como estão os casos. 

Com essa rede de apoio à saúde mental sendo colocada em prática há alguns meses, o novo desafio é encontrar ainda mais profissionais da psicologia para assim somarem ao grupo de voluntários. Afinal, a lista é extensa e a necessidade urgente – atualmente são 9 voluntários e 16 famílias sendo atendidas, além de uma lista de urgência com mais de 20. “Falar de saúde mental, ainda mais com demandas complexas como as que nossas famílias apresentam, é um trabalho a longo prazo. Nossa lista, além de extensa, gira devagar. Na hora de encaminhar, nós escolhemos a urgência da urgência, mas desses que já estão sendo realizados, eu percebo a imensa importância da iniciativa”, afirma Nayara Oliveira, Psicóloga do projeto PAF-Plano de Ação Familiar. 

Otavio Hideki Chinen é dos um dos psicólogos voluntários da rede e confirma as vantagens que a ação proporciona para ambos os lados: “O que me levou a me inscrever no Instituto C é que acredito que se deve ter um olhar mais voltado para a população que não tem condições de pagar uma análise ou uma terapia. Acho que a experiência é enriquecedora, tanto para nós profissionais, quanto para quem é atendido. Tem sido simplesmente maravilhoso, agregador e enriquecedor”.

A pandemia escancarou uma demanda antiga: a importância dos voluntários de psicologia. Agora o trabalho precisa continuar sendo executado e, para isso, novos profissionais são buscados todos os dias. “Como a gente trabalha com a população em vulnerabilidade, percebemos um adoecimento mental que não é falado. A rede de voluntários é um recurso criado para poder dar esse atendimento às famílias”, acrescenta Graziele. “É um projeto muito potente, que ainda está no comecinho. Precisamos de novos voluntários para seguir colhendo bons resultados”, finaliza Nayara. 

E como se inscrever? 

A inscrição para os voluntários de psicologia é feita através de um formulário online (clique aqui). Basta ser um psicólogo ou psicóloga e ter disponibilidade de uma hora semanal, ou mais. Depois do envio das informações e cadastro, o Instituto C entra em contato para agendamento de uma entrevista.