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Cidadania em Rede: parcerias para fazer projetos acontecerem

Entre tantas novidades, demandas e desafios, o Cidadania em Rede está empenhado para fortalecer seus contatos, parcerias e alianças em seu novo polo localizado no bairro da Freguesia do Ó, em São Paulo e, com isso, melhorar o atendimento de famílias que buscam auxílio para superar suas vulnerabilidades. “Sozinho, a gente não faz a roda girar. Não tem como”, afirma Liliane Moura, assistente social institucional. 

Em desenvolvimento desde janeiro, o projeto já realizou algumas pontes. “Nós desenvolvemos parcerias com a rede, então a equipe tem buscado parceiros, sejam eles ONGs, rede assistencial ou serviços que estão aqui no nosso entorno, com o objetivo de alinhar parcerias em relação aos atendimentos que a gente realiza. Além de serem fontes encaminhadoras de famílias, para complementar o trabalho que a gente faz aqui”, conta Talita Lima, líder do projeto Cidadania em Rede.

O bom funcionamento do Instituto C depende fortemente do apoio de uma rede que conta com alguns equipamentos, já que famílias chegam ao IC com demandas que não se solucionam ali. “Essa necessidade de parceria sempre existiu em todos os projetos do Instituto”, lembra Talita.

Diante desse contexto, a equipe busca encontrar esses órgãos para parceria de diversas formas. “Nós vamos para as ruas, mapeamos UBS, escolas e serviços do entorno. Também temos material de divulgação impresso, folder, cartaz – panfletagem mesmo, sabe? Distribuímos na porta da escola abordando os pais, na UBS, conversando com os profissionais. E, claro, fazemos isso virtualmente também”, explica a líder.

Liliane, por exemplo, aprofundou-se no papel dessas instituições parceiras. “Existe uma questão da articulação em rede, da assistência social, que agora está intensa porque estamos conhecendo o entorno e nos apropriando da realidade deste território. Porém, na verdade , ela é muito importante em todos os momentos, afinal a articulação de uma rede dos atores sociais, como UBS, CRAS e escolas, nos ajuda a ter uma visão ampliada da realidade de cada região em que atuamos”, afirma a assistente social. 

Hoje, as parcerias do Instituto C no polo Zona Norte acontecem a partir da aliança com algumas organizações, como a Estação Sustentar – Acciona (empresa em parceria com o SENAC para cursos profissionalizantes), UBS Vila Palmeiras, CRAS Casa Verde, Instituto Responsa (que fornece emprego para ex-presidiários) e ONG Nova Mulher. Isabel Pinheiro, analista de renda, mostra como uma rede fortalecida é essencial para bons resultados, exemplificando a história de uma estação de metrô que está sendo construída na região. “A construtora contratou a Estação Sustentar Acciona, uma empresa para falar sobre impactos social e ambiental e, essa empresa, oferece cursos profissionalizantes para melhorar a empregabilidade das pessoas do entorno. Fizemos uma reunião onde eles nos apresentaram os cursos para que possamos oferecer às nossas famílias, o que já impacta positivamente na renda delas. A relação também é de mão dupla, já que a empresa também nos permitiu levantar as necessidades de cursos e interesses das famílias que atendemos para que eles possam oferecê-los na região”, diz Isabel.

Sendo assim, a articulação de rede é fundamental para o fortalecimento de todos os envolvidos e para ajudar quem está na ponta, de fato, das necessidades. A rede, então, é literal: “A palavra vem da junção de unir vários pontos com o objetivo maior, que é atender os nossos assistidos, as pessoas em situação de vulnerabilidade social”, finaliza Liliane.

Áreas de atendimento

Crianças com deficiências e a importância da educação digna

Entre todos os atendimentos do Instituto C, está também o incentivo à educação das crianças com deficiência – com o objetivo de incluir esses jovens no sistema educacional, melhorando a qualidade de vida deles e de toda a sua família. Para entender um pouco mais sobre esse panorama, Katia Moretti, coordenadora do PAF – Plano de Ação Familiar, projeto realizado desde 2012, afirma que é um direito de toda e qualquer criança, com ou sem deficiência, frequentar a escola. “A presença delas no ambiente educacional contribui muito para o seu desenvolvimento, sobretudo nesses casos”, diz. 

Os desafios desse processo são vários, e um dos primeiros é a conscientização da mãe para que ela entenda a importância de sua criança ter educação escolar. “Os cenários são muito diferentes, então a gente tem que entender que, se a mãe está consciente desse direito, ela tem autonomia para fazer escolhas”, explica Lualinda Toledo, pedagoga e técnica de referência. De acordo com as leis brasileiras, toda criança deve acessar a escola obrigatoriamente a partir dos 4 anos de idade – e, a criança com deficiência tem os mesmos direitos à uma educação inclusiva na escola regular.

A pedagoga ainda relembra que, historicamente, as pessoas com deficiência, assim como diversas outras minorias, não acessam os mesmos espaços da sociedade. “A falta de conhecimento de seus direitos e a ideia de não-protagonismo daquela criança dificulta que esses pais e responsáveis compreendam essa garantia”, argumenta Lualinda.

O PAF ressalta que o trabalho de entender a importância da inserção das crianças passa por diferentes frentes e profissionais. Muitas vezes ele não é tão evidente, e requer também o trabalho de pedagogas, psicólogas, nutricionistas e médicos neste processo.

No Instituto C existem dois casos de adolescentes de 17 anos que nunca acessaram a educação, conta Lualinda. “Isso representa jovens que passaram suas vidas inteiras no sofá da sala ou do quarto. Muitas mães nessa situação afirmam que não sabiam que os filhos tinham direito de estudar, uma realidade tão triste quanto cotidiana em famílias brasileiras com crianças deficientes. Ninguém sente falta dessas crianças no ambiente escolar”, lamenta a pedagoga. 

Outro ponto no processo de conscientização familiar é a compreensão de que a escola não é apenas para aprender a ler e escrever, mas também para socializar e interagir com o mundo exterior – e conviver com outras crianças.

Enquanto isso, do outro lado da batalha pela educação de crianças com deficiência, está também a necessidade de toda uma estrutura de qualidade para que a criança frequente a escola – do transporte aos profissionais responsáveis pela medicação, por exemplo. “E aí começa a luta”, afirma Lualinda. Então, além da conscientização, o Instituto também entra na batalha para preparar a escola para que essa rotina seja fluída – afinal muitas mães não se sentem seguras em deixar o filho na escola. 

Acesso, frequência e permanência são palavras chave no momento de observar como esse cotidiano na escola está ocorrendo, segundo a pedagoga. “A gente trabalha com a família a ideia de ter a escola como um parceiro, não um enfrentamento. É uma função de entrar em contato, explicar, auxiliar e buscar soluções juntos”, acrescenta Lualinda. 

Por fim, é importante lembrar que a criança estando na escola, a qualidade de vida das mães também encontra melhorias. “Essa mãe tem mais tempo para dar conta de demandas da vida dela, como arrumar a casa e ter um momento de autocuidado”, afirma Katia. Além de outros benefícios, como até mesmo a alimentação fornecida pela escola.

“A gente precisa ter cuidado com a família, porque estamos falando de uma criança que tem direitos violados e os responsáveis também sentem essa violação. Se o ambiente educacional não for acolhedor para criança, as famílias não vão levar seus filhos até lá. Então, a gente trabalha no fortalecimento dessas pessoas para que elas tenham autonomia para lutar por seus direitos. Se a escola já é difícil para alguém que não tem deficiência, imagina para quem tem…”, reflete Katia.

Gestão de Pessoas

Juntos, mãe e filho encontraram na corrida prazer e diversão

O PAF, Plano de Ação Familiar, projeto realizado desde 2012 pelo Instituto C, trabalha de forma consistente e atenta em busca de fornecer auxílio às diversas famílias que se encontram em situações de vulnerabilidade social. Em outubro de 2020, Janaina Muniz da Silva e seu filho Erick Muniz Azevedo ingressaram no projeto – e já com boas histórias para contar.

Erick tem 12 anos e possui o diagnóstico de paralisia cerebral. Logo em seu primeiro ano de vida, ele foi encaminhado para a Associação de Assistência à Criança Deficiente, a AACD, onde iniciou seus atendimentos. Inclusive, foi lá que Janaina conheceu uma amiga que, anos mais tarde, lhe apresentou a corrida. Há dois anos, e já no Instituto C, a mãe procurou desenvolver ainda mais sua autonomia e, claro, autoestima.

“Ao chegar no Instituto C, o maior objetivo da Janaina era ampliar seus conhecimentos, sua rede de apoio e sua autonomia na luta e busca ativa por garantia de direitos para seu filho”, conta a pedagoga e técnica de referência da família, Lualinda Toledo. Em diversos momentos de sua vida, a mãe passou por situações constrangedoras na busca de uma vida melhor para Erick. “Por eu ser de uma família humilde, encontrei muitos médicos que mal me explicavam o diagnóstico do Erick – e eu achava que era normal ser tratada de forma hostil por eles. Depois que eu conheci o Instituto, eu aprendi que eu tenho valor e eu preciso me posicionar em determinados momentos. Eu não procuro a cura do meu filho, mas sim o melhor para ele se desenvolver”, explica Janaina. “Se algo é direito meu, eu tenho que ir atrás, sem ter medo do que o outro vai pensar ou achar”, completa.

Mãe dedicada, o ritmo da família é acelerado: fisioterapias, aulas, terapias, natação e outras atividades – em um esforço visceral de Janaina para fornecer o máximo para que seu filho tenha uma vida de qualidade. E é nesse mesmo ritmo que ela encontrou uma forma de se fortalecer junto dele: a corrida. “Em 2019 uma amiga me chamou para ir a uma corrida promovida pelo Instituto Olga Kos. Eu topei e o Erick gostou muito. Começamos a correr sempre que tinham esses eventos – e que alguém poderia nos emprestar um triciclo”, conta. 

Em janeiro deste ano, a prática de correr se intensificou ainda mais. Um colega que também participa desses eventos reuniu alguns amigos e, juntos, compraram um triciclo para o Erick. “O presente veio bem perto do aniversário dele e, desde então, corremos todos os dias! A gente ainda está fazendo 10 quilômetros e encontramos muitas dificuldades, como a péssima qualidade das calçadas, mas ver a alegria dele e as mudanças na minha vida é maravilhoso”. 

Nas rodas de conversa do PAF, a autoestima é uma questão muito debatida. “Para nós, é muito importante que essas mães se sintam não só mães, mas também mulheres para dar conta de todas as demandas da vida”, afirma Lualinda. A técnica ainda relata que conversar com Janaina sobre a prática da corrida é delicioso. “Eu vejo o quanto ela se sente mais saudável e disposta por estar fazendo exercício físico todos os dias. Isso sem contar na aproximação dela com o Erick, que agora tem uma atividade prazerosa em comum”, conta. 

Dessa forma, os benefícios da corrida também se estendem à mãe, que já perdeu peso com a prática que realiza todas as manhãs junto com o filho. “Eu só empurro a cadeira dele, ele que me leva e me impulsiona a vencer cada dia”, finaliza Janaina.