Entre todos os atendimentos do Instituto C, está também o incentivo à educação das crianças com deficiência – com o objetivo de incluir esses jovens no sistema educacional, melhorando a qualidade de vida deles e de toda a sua família. Para entender um pouco mais sobre esse panorama, Katia Moretti, coordenadora do PAF – Plano de Ação Familiar, projeto realizado desde 2012, afirma que é um direito de toda e qualquer criança, com ou sem deficiência, frequentar a escola. “A presença delas no ambiente educacional contribui muito para o seu desenvolvimento, sobretudo nesses casos”, diz.
Os desafios desse processo são vários, e um dos primeiros é a conscientização da mãe para que ela entenda a importância de sua criança ter educação escolar. “Os cenários são muito diferentes, então a gente tem que entender que, se a mãe está consciente desse direito, ela tem autonomia para fazer escolhas”, explica Lualinda Toledo, pedagoga e técnica de referência. De acordo com as leis brasileiras, toda criança deve acessar a escola obrigatoriamente a partir dos 4 anos de idade – e, a criança com deficiência tem os mesmos direitos à uma educação inclusiva na escola regular.
A pedagoga ainda relembra que, historicamente, as pessoas com deficiência, assim como diversas outras minorias, não acessam os mesmos espaços da sociedade. “A falta de conhecimento de seus direitos e a ideia de não-protagonismo daquela criança dificulta que esses pais e responsáveis compreendam essa garantia”, argumenta Lualinda.
O PAF ressalta que o trabalho de entender a importância da inserção das crianças passa por diferentes frentes e profissionais. Muitas vezes ele não é tão evidente, e requer também o trabalho de pedagogas, psicólogas, nutricionistas e médicos neste processo.
No Instituto C existem dois casos de adolescentes de 17 anos que nunca acessaram a educação, conta Lualinda. “Isso representa jovens que passaram suas vidas inteiras no sofá da sala ou do quarto. Muitas mães nessa situação afirmam que não sabiam que os filhos tinham direito de estudar, uma realidade tão triste quanto cotidiana em famílias brasileiras com crianças deficientes. Ninguém sente falta dessas crianças no ambiente escolar”, lamenta a pedagoga.
Outro ponto no processo de conscientização familiar é a compreensão de que a escola não é apenas para aprender a ler e escrever, mas também para socializar e interagir com o mundo exterior – e conviver com outras crianças.
Enquanto isso, do outro lado da batalha pela educação de crianças com deficiência, está também a necessidade de toda uma estrutura de qualidade para que a criança frequente a escola – do transporte aos profissionais responsáveis pela medicação, por exemplo. “E aí começa a luta”, afirma Lualinda. Então, além da conscientização, o Instituto também entra na batalha para preparar a escola para que essa rotina seja fluída – afinal muitas mães não se sentem seguras em deixar o filho na escola.
Acesso, frequência e permanência são palavras chave no momento de observar como esse cotidiano na escola está ocorrendo, segundo a pedagoga. “A gente trabalha com a família a ideia de ter a escola como um parceiro, não um enfrentamento. É uma função de entrar em contato, explicar, auxiliar e buscar soluções juntos”, acrescenta Lualinda.
Por fim, é importante lembrar que a criança estando na escola, a qualidade de vida das mães também encontra melhorias. “Essa mãe tem mais tempo para dar conta de demandas da vida dela, como arrumar a casa e ter um momento de autocuidado”, afirma Katia. Além de outros benefícios, como até mesmo a alimentação fornecida pela escola.
“A gente precisa ter cuidado com a família, porque estamos falando de uma criança que tem direitos violados e os responsáveis também sentem essa violação. Se o ambiente educacional não for acolhedor para criança, as famílias não vão levar seus filhos até lá. Então, a gente trabalha no fortalecimento dessas pessoas para que elas tenham autonomia para lutar por seus direitos. Se a escola já é difícil para alguém que não tem deficiência, imagina para quem tem…”, reflete Katia.