“Já sinto saudade” foi a frase mais repetida pelas famílias durante o grupo de encerramento que aconteceu na última sexta-feira, 16 de outubro, na sede do Instituto C. “Este é um momento muito especial, muito importante e emocionante para todos nós. Eu estou aqui há um ano acompanhando essas famílias, então, para mim é uma alegria, ao mesmo tempo que o coração fica triste com este encerramento de ciclo.”, anunciou Nayara Oliveira, Psicóloga do projeto, na abertura do encontro.
Este foi o primeiro grupo de famílias a encerrarem a participação no projeto PAF – Plano de Ação Familiar desde que a pandemia teve início, então, a equipe técnica precisou usar a criatividade para garantir que o encontro tivesse a troca de afetos, tão comum neste momento. “Nós sabemos, pelos outros grupos de encerramento, que é um momento que nós temos muita vontade de trocar carinho em forma de abraço e infelizmente, agora, não podemos. O abraço, nós acreditamos, simboliza muitas coisas. Há pesquisas que mostram que podemos até nos curar por meio do abraço. Mais do que isso, é o encontro de dois corações, é um momento que dá contorno ao nosso corpo, quando a angústia extravasa o nosso corpo, mas poder encontrar uma outra pessoa que contorna, conforta e acolhe é muito importante. Sentimos muito por não poder dar esse abraço hoje, por isso, fizemos corações de papel e estimulamos as famílias a entregarem este afeto.”, explicou Nayara.
Após a abertura, a equipe técnica do PAF fez a leitura das trajetórias de cada família, as quais se levantaram uma a uma para pegar o certificado de participação e uma carta com fotos e um texto parabenizando a jornada. O trabalho de toda a equipe técnica do PAF salta aos olhos neste momento de agradecimento. “Neste tempo, eu consegui me redescobrir como mãe, porque, assim, eu estava com aquelas crianças todas, sozinha, perdida, eu acabei me deixando de lado para cuidar deles. Eu consegui tirar um tempinho para me cuidar mais como mulher, porque eu já não me sentia mulher mais, consegui tempo, porque eu não tinha esse tempo.”, explicou Mislene Campos, mãe de cinco filhos, sendo quatro deles com necessidades especiais, e que contou com o auxílio da Psicóloga para isso desde janeiro de 2018. Conforto e cuidado também encontrados por Fernanda Moreira, mãe da Alice que entrou no projeto em junho de 2018. “Já tinha uns três anos que eu tomava remédio e medicamento para poder ter um ânimo, para poder me manter acordada para fazer as coisas, porque eu estava muito desanimada, passando por uma dificuldade psicológica. Hoje eu não tomo mais medicamento, estou há bastante tempo sem tomar e graças a toda conversa e orientação, hoje, eu consigo ser uma pessoa mais segura”.
Para Mislene, outra área importante nestes quase dois anos e meio de atendimentos foi o Serviço Social. “Eu sabia de alguns benefícios, mas não sabia de todos, mesmo os que eu sabia, eu não sabia como ir atrás e o Instituto C me auxiliou. Eu consegui os bilhetes, dar entrada no BPC de duas das crianças.”, comentou. Enquanto, Danuza Silva, mãe do Gabriel, que entrou no projeto em março de 2018, narrava os últimos encontros. “Consegui o passe livre, com a Assistente Social, para viajar com meu filho para visitar meus pais. Eles moram lá em Campo Grande, eu consegui viajar duas vezes, em janeiro e em julho. Eu estou conseguindo tentar o BPC”.
A área de Nutrição também teve papel fundamental na jornada de todas estas mulheres no Instituto C. “O Mateus tem Síndrome de Down e apresenta uma diarréia crônica. Aqui, com o apoio, com as ajudas que eu tive, eu consegui entender que eu não tinha que mudar a alimentação dele, eu tinha que mudar a alimentação da minha família, da minha casa e isso seria mais fácil para ele também. Aqui eu consegui entender que era desta forma que poderia acontecer. E através disso, eu consegui ver uma melhora muito grande no desenvolvimento do Matheus”, disse Mislene. Fernanda também percebeu a atenção e seriedade do trabalho. “Nós não tínhamos nem a dieta da Alice, não tinha nem o encaminhamento de dieta, nem nada, o pessoal da nutrição, a Jordana, me ajudou muito, tanto aos cuidados da Alice quanto aos cuidados da Jessica também, que com tudo isso ficou até esquecida, vamos dizer assim”.
Felicidade e tristeza, emoções que se misturam entre todos os presente, mas elas reconhecem que é preciso seguir em frente e abrir possibilidades para que outras famílias ingressem no projeto e passem pela mesma transformação que elas passaram. “Hoje é o encerramento, vou sentir falta, vou sentir saudades. Fui muito bem recebida aqui”, disse Joana dos Santos Lima, que entrou no projeto em janeiro de 2019. Para Danuza, as mudanças representaram um crescimento importante. “A Danuza que entrou é uma Danuza que tinha um pouco de medo, mas que não tinha vergonha de se expor e correr atrás das coisas, tinha medo de não conseguir. Hoje eu sou uma Danuza diferente, eu sou uma Danuza que tem menos medo que eu tinha antes, eu estou muito feliz, cresci muito e aprendi muito com vocês, graças a Deus.”.
“Agradecemos a trajetória, a confiança das famílias no nosso trabalho, em partilhar histórias, medos, dificuldades, ao mesmo tempo, poder pedir e oferecer ajuda. Porque eu acredito que é uma troca, estamos aqui não só para oferecer cuidado, mas também somos cuidadas pelas famílias, aprendemos muito com todas as famílias que passam pelo projeto.”, finalizou Nayara.
Ao todo 11 famílias encerraram sua participação no PAF, mas apenas 8 participaram do encontro presencial, são elas: Danuza Silva, Fernanda Moreira, Joana dos Santos, Mislene Campos, Fabiana de Jesus, Toil Vertu, Rosangela Maria de Oliveira, Maristela Gonçalves de Oliveira