O que significa ser financeiramente sustentável para uma ONG? Segundo o João Paulo Vergueiro, diretor executivo da ABCR – Associação Brasileira dos Captadores de Recursos, isso significa basicamente gerar mais receita do que despesa durante o ano! João Paulo veio ao Instituto C no dia 02 de julho para conversar sobre as melhores práticas de gestão financeira e sobre a cultura de doação no Brasil. Para ele o Terceiro Setor despende muitos recursos, já que a energia desse setor é a geração e gestão de projetos, ou seja, sempre se fala e se pensa em despesas. Existe uma cultura de gestão dentro do Terceiro Setor, que cria a impressão de que é errado pensar em investir na geração de receita, muitas vezes porque sempre se pensa na ampliação dos projetos e não na manutenção da organização a longo prazo.
De uma forma geral, no Brasil, é muito mais comum pensar em despender os recursos do que gerir ou poupar os recursos dentro do Terceiro Setor. Numa análise histórica, é possível notar que na década de 90 havia muito mais facilidade para a obtenção de recursos, seja do setor público ou privado. Todavia, de 5 anos para cá, os recursos ficaram cada vez mais difíceis. Com a crise econômica, empresas e governo cortaram drasticamente os gastos com o social.
Do ponto de vista financeiro, a diversidade de fontes de receita e a constância do montante que é captado são os principais itens da sustentabilidade financeira. Para João Paulo, todas as organizações têm capacidade para gerir as suas contas e levar os projetos adiante de forma mais segura, de modo que isso viabilize a continuidade e a expansão do trabalho social que é realizado. Isso significa priorizar a geração de receita, ser tão bom em mobilizar recursos quanto em realizar o trabalho que transforma a vida das pessoas.
Nesse cenário, aprendemos que é preciso haver uma autocrítica dentro dos sistemas de gestão das ONGs para entender até onde será possível impactar as pessoas com o trabalho que é realizado sem ferir as estratégias de gestão financeira.
Cultura de doação:
Quando foi abordada a questão da cultura de doação, João Paulo frisou que é importante também que as equipes das ONGs sejam plurais, de modo que exista um corpo técnico preocupado com a sustentabilidade financeira e administrativa.
A cultura de doação está diretamente ligada à relação da causa, da atuação e do impacto que as pessoas percebem das organizações sociais. No Brasil, a cultura de doação ainda precisa enfrentar algumas barreiras, principalmente no que tange a ideia geral de que o governo é quem deveria manter as organizações sociais. Aprendemos que existe ONG para fortalecer a democracia, pois as ONGs não fazem o que o Estado não faz, mas são parceiras dele. Quando as pessoas entendem que são responsáveis pelo impacto que querem ver no mundo, elas começam a incentivar organizações sociais por meio de doações às causas que mais lhe interessam. No Brasil, muito embora exista a cultura de doação e ajuda entre comunidades, instituições religiosas, etc, ainda falta criar o hábito da doação referente às causas.
Segundo a World Giving Index, 30 milhões de brasileiros doam pelo menos uma vez ao ano. Ou seja, existe um potencial gigantesco de crescimento das doações no nosso país, analisa João Paulo. A importância do crescimento da cultura de doação é que muitas vezes os recursos advindos do governo e empresas é um recurso amarrado em determinadas ações e projetos, enquanto que as doações dos indivíduos são recursos livres, para que as ONGs consigam utilizá-los da melhor maneira e de forma diversa.
Para o palestrante, as ONGs têm que investir na área de captação de recursos e fazer disso um processo permanente, construindo uma dinâmica de geração de receita a partir das pessoas que acreditam na causa. Com profissionais voltados à captação de recursos, investindo em tecnologia, comunicação, metas, indicadores, etc.
Por fim, visualizamos que a doação é um ato de confiança, portanto a questão da transparência é algo essencial dentro da construção da cultura de doação. As ONGs precisam ser muito transparentes para que esse vínculo de confiança seja edificado e não seja quebrado. A transparência deve ser um princípio das doações.
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