Dos cinco filhos, Eliná foi a única que manifestou a mesma anemia falciforme do pai. “Desde criança me trato na Santa Casa de SP. Apesar de ter uma forma branda da doença, passei minha infância e adolescência com problemas respiratórios, que geraram alguns quadros de pneumonia e de bronquite”, explica Eliná. Ciente da hereditariedade da enfermidade, nunca pensou em ter filhos. Aos 21 anos conheceu Caio, enquanto os dois faziam bico em campanhas na época das eleições. Três anos depois, em 2003, estavam casados. “Caio sabia dos riscos que corríamos caso eu engravidasse, e eu dava continuidade a tratamentos anticoncepcionais”.
O destino, porém, tinha outros planos. Um dia Eliná passou mal e foi internada no Hospital Central de Guaianases, que é próximo de onde morava. “Fui encaminhada à Santa Casa e lá descobri que eu simplesmente estava grávida de cinco meses. Dei início então ao pré-natal”, nos contou Eliná.
Apesar dos poucos recursos, Eliná e Caio administraram a gravidez da melhor forma possível. Para alívio dos pais, Maria Eduarda nasceu em perfeitas condições. Os dois ficaram muito felizes ao constatar a saúde da filha, já que ela não foi diagnosticada com anemia falciforme.
Um ano depois, porém, a criança teve um choque hemorrágico que a deixou desacordada. Sintoma típico das anemias falciformes, quando o baço destrói as hemácias do corpo. “Corremos para o Hospital do Campo Limpo, onde fomos informados da chance de a Maria Eduarda ter leucemia. Sem unidade de oncologia, preferimos levá-la para a Santa Casa. Pelo meu prontuário e também pelo resultado de outros exames, a leucemia foi descartada. Não restava dúvida, a menina era portadora da mesma anemia falciforme que eu tenho, porém em um grau mais agressivo”.
A pequena Maria Eduarda passou por uma cirurgia de retirada do baço e começou um tratamento para o fígado. “Os médicos não conseguiam acertar a medicação e minha filha continuava tendo crises, com fortes dores no corpo e desmaios devido à queda da hemoglobina. Só recentemente foi receitado um quimioterapêutico que vem lhe dando qualidade de vida. Mas aí enfrentamos outro problema”. Eliná refere-se ao preço do medicamento: “É muito caro e está sempre em falta na farmácia de alto custo do Governo”.
Para cuidar da filha, Eliná pediu demissão do emprego de cozinheira na APAE e Caio passou a sustentar a família com seu salário de técnico na área de saneamento. Eles não tinham a mínima condição de arcar com o remédio. Assim, sem a medicação, Maria Eduarda permaneceu tendo crises. “Numa delas, peguei minha filha desacordada e por uma hora fiquei no ônibus e no metrô para chegar de Guaianases até a Santa Casa. Chorando muito, fui socorrida por funcionários do metrô, que levaram a gente para o hospital”.
Observando as condições de Eliná e de sua família, uma assistente social da Santa Casa encaminhou-os para o Instituto C. “Em janeiro de 2018 a equipe do IC me recebeu de braços abertos. Tanto carinho me surpreendeu, pois já tinha pedido ajuda antes e nunca consegui nada”. Depois de conhecer mais sobre o trabalho feito pelo Instituto C, Eliná contou que as dificuldades de antes em comprar o remédio da filha haviam acabado: “Recebi um telefonema da equipe dizendo que eu podia buscar o medicamento”. Além do remédio, lhe foi fornecida uma cesta básica e o leite especial que Maria Eduarda precisava tomar.
Desde então, ela cumpre seu compromisso de comparecer aos atendimentos. “Às vezes fico triste por não ter dinheiro para chegar ao instituto. Até nisso eles são prestativos, pagam o bilhete único para que não percamos o dia”. Fã das rodas de conversa, ela conta que foi assim que perdeu a timidez de falar. “Devo muito também à psicóloga Mariana, sem seus conselhos ainda estaria com crises de pânico, que não me deixavam dormir devido ao medo de perder Maria Eduarda. Ela me explicou a importância de eu focar na minha vida, reavivar meus sonhos”. Agora, com a saúde da Maria Eduarda mais estabilizada, Eliná criou coragem e se matriculou em um curso técnico de recursos humanos. Não tem sido fácil conciliar estudo e os muitos exames que Maria Eduarda ainda precisa fazer, mas ela garante que está conseguindo seguir em frente.
Eliná cita ainda outras áreas do atendimento que fizeram toda diferença em sua vida: “com as meninas do Serviço Social aprendi sobre os direitos de minha filha e como e onde reivindicá-los. Nunca mais perambulei perdida nos postos do INSS. Agora sei quem devo procurar. Outra grande ajuda veio do pessoal da Renda, que, com paciência, me instruiu a criar meu currículo. Já a nutricionista Jordana foi fundamental na dieta equilibrada da Maria Eduarda. Montamos juntas um cardápio que supre todas as necessidades da minha menina, sem precisar do reforço de medicação. Tem dado muito certo, minha pequena vem ganhando peso pela primeira vez. E são sugestões saborosas, como os brigadeiros feitos com biomassa de banana verde”.
Basta olhar para Eliná para perceber o quanto ela progrediu nas áreas de atendimento do PAF – Plano de Ação Familiar. Bem orientada, hoje sabe se posicionar diante dos problemas e está mais forte emocionalmente para garantir o pleno desenvolvimento de sua filha. “Sou grata pela ajuda material que tenho tido, mas, sem dúvida, os ensinamentos que adquiri neste um ano e meio foram cruciais para meu progresso como mãe e mulher”, conclui.
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