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Com seu olhar intenso e carinhoso, Wallace, de 15 anos, acompanha da cama a dedicação da mãe em tornar sua vida mais confortável e alegre. “Ele não pode falar, nem se mexer, mas há uma energia nele que me enche de coragem e de ânimo para enfrentar o que der e vier. Mesmo em sua limitação, o Wallace é responsável por tudo o que tenho e o que sou”, fala Maria Aparecida Oliveira Perozzi, que também aos 15 anos tornou-se mãe de um bebê aparentemente saudável.
Menos de um mês depois do nascimento, Wallace foi diagnosticado com hidrocefalia. A notícia, a princípio, revoltou a jovem mãe, que queria uma criança saudável, no entanto a raiva foi aos poucos se transformando num amor incondicional. Aos quatro meses o menino recebeu uma válvula intracraniana para drenar o líquido cefalorraquiano e passou a levar uma vida praticamente normal. “Apesar dos exames de rotina e da fisioterapia, meu filho era bastante ativo. Frequentou a creche, depois a escola e brincava de igual com as outras crianças”, lembra Maria.
Aos 13 anos Wallace começou a se queixar de fortes dores de cabeça. Maria tentou uma internação, mas os médicos não viam motivo. A saúde do garoto ia bem. No dia 2 de dezembro de 2013, porém, ele teve uma parada respiratória e já chegou em coma na Santa Casa de Misericórdia.
Encaminhado direto para o centro cirúrgico, foi constatado que a válvula havia rompido e inundado seu cérebro de líquor, danificando irremediavelmente vários neurônios. “Passei dois meses com ele na UTI em estado de choque. Traqueostomia, cirurgia gástrica… Era um mundo de procedimentos que me deixavam em pânico”, recorda a mãe.
Muito abalada, Maria foi aconselhada pela assistente social Norma a procurar o Instituto C. O apoio veio em boa hora. Wallace estava prestes a receber alta e a mãe não sabia como lidar com uma criança totalmente dependente. “Eu só chorava, não encontrava suporte em lugar nenhum. Daí, surgiu o Instituto C na minha vida e tudo ganhou uma nova perspectiva. Aqui aprendi a lidar com a situação sem entrar em desespero, a reivindicar direitos para o meu filho que nem imaginava existir e a acreditar mais em mim”, comemora Maria, hoje um artesã atuante na ONG.
Mãe de mais dois filhos e com o marido desempregado, Maria é uma mulher guerreira, que não desiste fácil. Com a ajuda do Instituto C e seu empenho, conseguiu que uma equipe do Programa Melhor em Casa, ligado ao SUS, atenda o Wallace em domicílio e em breve o garoto poderá ser levado pelo Atende (transporte gratuito, porta a porta, para pessoas impossibilitadas de usar outros meios de transporte público) ao centro de fisioterapia da Unicid Tatuapé – Universidade de São Paulo.
“Eu apenas retribuo o quanto Wallace já fez por mim. Em seu olhar delicado eu vejo sua vontade de viver e isso me torna uma pessoa melhor, mais forte emocionalmente e com muito mais certeza de que a felicidade somos nós que fazemos”.