Nesta semana em que se comemora o Dia das Mães, decidi trazer uma reflexão sobre essas pessoas tão importantes nas vidas de cada um de nós. Segundo o poeta João Doederlein, mãe é o termo usado para designar um coração capaz de amar infinitamente. É sentir por dois, sorrir por dois, sofrer por dois. É dar o melhor de si duas vezes. É aquela que cura com um abraço, que sara machucado com um beijo. Aquela quem deu à luz amor.
Encontramos vários perfis de mães nos nossos projetos do Instituto C, mães solos, que precisam trabalhar e cuidar da educação dos filhos, que recebem todo o suporte dos companheiros, de primeira viagem à mães muito jovens, mas o ponto em comum em todas elas está na força e na garra de buscar o melhor para seus filhos. Pedindo licença poética, eu diria que a palavra mãe não é um substantivo, mas sim um verbo. Mãe é ação, estar em constante movimento. É cuidar, brigar, chorar, brincar, sorrir, ajudar, mudar, se preocupar, se irritar e, acima de tudo, mãe é saber amar. Com todas essas características, já é possível afirmar que mãe é muito além de gestar, mas de cuidar e proteger.
É muito comum ao longo da jornada das mães no Instituto C a necessidade de resgatarmos com elas o caminho de voltarem a olhar para si, pois ao longo da maternidade se acostumaram a se apresentar como a “Fulana, mãe do Beltrano”, esquecendo-se de si e de sua identidade e necessidades. É a invisibilidade que a maternidade traz à mulher e que fica mais agravada quando instalada na realidade das mães em situação de vulnerabilidade social.
Durante meus atendimentos psicológicos, ouço muito a sobrecarga que elas sentem na educação dos filhos. O medo de falhar na criação deles, a culpa por cada um dos problemas que eles enfrentam e o desejo de poupá-los de toda dor. No dia a dia, a experiência da maternidade se apresenta como única e rodeada de significados, de esperanças e de promessas e também de uma mistura de sentimentos entre medo e cansaços que precisam ser acolhidos. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são 57,3 milhões de mães solo, isto é, 38,7% de brasileiras chefiando seus lares. Mesmo sendo grande parcela da sociedade, elas ainda sofrem e precisam se reinventar todos os dias para poder realizar, tanto a si mesmas quanto aos filhos.
Segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), as mulheres trabalham cerca de 7,5 horas a mais do que os homens em uma semana. Isso se deve ao fato de sua jornada dupla de trabalho, entre emprego e atividades em seu próprio lar. O maior desafio que encontro nos meus atendimentos está justamente em segurar a mão dessas mulheres e conduzi-las a um novo caminho, primeiro de desconstrução do ideal de mãe suficientemente boa na qual não cabem falhas e que todas as responsabilidades estão em suas costas. Depois de fazer o resgate da autoestima de cada uma, fortalecendo-as e mostrando que, antes de serem mães, são mulheres fortes mas que também necessitam de apoio e de serem auxiliadas para então chegarmos na ampliação da rede de apoio de cada uma.
Apesar das dificuldades encontradas, das experiências difíceis e dos sentimentos contraditórios ao longo do processo da maternidade, os atendimentos revelam um sentimento de esperança que modifica, em parte, o sentimento de culpa presente nessas mulheres. As mães reconhecem sua importância na construção de um futuro para seus filhos, na significação do papel materno, no processo de criação, socialização e na valorização da educação, agora entretanto, experimentando a maternidade de maneira mais leve e fluida.
Mas o que mais aprendo com cada uma delas é o desejo de serem melhores, para e por seus filhos e suas famílias. A força que tiram desde o momento de darem à luz ou no momento em que se viram desempenhando o papel materno, até os desafios cotidianos. O tirar de si, para doar ao outro é a lição mais forte que carrego.
À minha mãe e minhas avós (que geralmente são segundas mães para nós), todas as minhas colegas de jornada que são mães e a todas a mães que atendemos no Instituto C, desejo um feliz dia, marcado por muito amor, reconhecimento da importância que vocês têm em nossas vidas, de acolhimento e, principalmente, das típicas frases que todas elas dizem sempre, como “Meu filho, você não pode ir porque você não é todo mundo”. Um feliz Dia das Mães!