Após morar durante anos com diversos familiares, Jamile Maria Nascimento da Silva (32), nascida em Coaraci, na Bahia, se estabeleceu na capital paulista. Hoje, junto aos seus três filhos Natália (14), Nataniele (12) e Wesley (9), frequenta o Instituto C, buscando auxílio para o tratamento de seu menino que nasceu com má formação intestinal.
Por conta de desavenças com a família, Jamile foi obrigada a se mudar inúmeras vezes, ficando na casa de seu irmão, casado e com filhos, seu último lar antes de se tornar mãe. Durante este período, conheceu Reinaldo, mas sua família desaprovava a união. A moça recorda: “Ele não tinha emprego fixo e vivia se metendo em confusão, mas eu estava encantada com ele, não via nada disso”. Não demorou muito para ela, aos 17 anos, engravidar. Seus parentes se revoltaram, e o pai desejou imediatamente que a filha voltasse para sua terra natal. Com medo da reação de todos, Jamile se refugiou na casa da sogra, que a acolheu de braços abertos.
Apesar de não contar com o apoio do companheiro nos exames pré-natais, a jovem teve uma gravidez tranquila. Natália nasceu em 24 de dezembro de 2005, dois anos depois chegou Nataniele, em 27 de dezembro de 2007, e dali três anos, Wesley, em 31 de maio de 2010.
Com a chegada do último filho, vieram também grandes responsabilidades. O recém-nascido Wesley tinha sérios problemas de saúde, sobrevivendo à base de aparelhos, e logo foi transferido para a Santa Casa de São Paulo. O menino nasceu com uma má formação no intestino, e isso fez com que no lugar das vias urinárias ficasse a bexiga, pela qual as fezes e a urina passavam ao mesmo tempo. Além disso, o bebê possuía apenas um rim. Na época, a mãe se desesperou com a situação do filho, já o pai havia achado motivos para desistir da família.
Reinaldo confessou que há muito já tinha formado outra família longe dalí, e por quase dois meses Jamile sofreu sozinha no hospital a dor de ver seu filho lutar pela vida e o fim de seu relacionamento.
Amparada pela sogra, que ficou cuidando das outras duas netas no litoral, Jamile passou a viver em função de Wesley. Até hoje, ele já fez 13 cirurgias e ainda faltam mais duas para corrigir os problemas no intestino. A próxima está marcada para 14 de fevereiro de 2020, será uma intervenção na bexiga para a colocação de uma bolsa de colostomia. Dessa forma, o menino poderá finalmente abandonar o uso das fraldas. “Será um grande alívio para ele. Meu filho já sofreu demais por causa disso, principalmente na escola, onde as crianças o chamam de neném”, desabafa a mãe, com pesar.
Desde 2014 Jamile e os três filhos vivem em São Paulo. Inicialmente morava com uma irmã, mas assim que começou a receber o BPC – benefício de um salário mínimo mensal para a pessoa com deficiência – ela alugou uma casa. As despesas aumentaram, e sem ter mais com quem contar Jamile recorreu a assistente social da Santa Casa, que de prontidão indicou o Instituto C.
Em junho de 2018 Jamile então conheceu o IC. “Esse pessoal mudou a minha vida. Fui acolhida com carinho e respeito, era tudo o que eu precisava naquele momento. Eu me sentia muito só, deprimida. Não achava justo dividir meus problemas com minha família e isso foi me afundando cada vez mais”, revela a jovem. Hoje, participante do projeto PAF – Plano de Ação Familiar, conta com a orientação do Serviço Social que tem ajudado a conseguir no SUS as 120 fraldas mensais para Wesley e nos trâmites para fazer o cadastro no programa Minha Casa Minha Vida.
Jamile afirma que a equipe do PAF está sendo fundamental em seu progresso e tem sido extremamente atenciosa, ensinando ela a correr atrás dos direitos do Wesley na escola, a administrar melhor seu dinheiro, entre outros aspectos. “Devido as circunstâncias da saúde do filho, ele precisa de uma dieta especial. Como a escola não tinha os alimentos corretos o deixavam sem comer. Aprendi como reivindicar a merenda adequada e a situação melhorou”, diz a mãe.
Levando nos braços a cesta básica mensal e o leite de Wesley, Jamile conta feliz da vida: “Hoje a nutricionista ensinou as mães a fazerem uma horta em casa. Já imaginou ter tudo fresquinho para cozinhar para os meus filhos? Realmente aqui eles nos tornam pessoas melhores. A gente chega moída pelos problemas e saí sempre renovada”, encerra ela.