Joselma Galdino da Costa (43) é natural de Natal, no Rio Grande do Norte. Acompanhando o esforço dos pais para cuidar dos oito filhos, aos 16 anos parou de estudar e resolveu mudar-se para o Rio de Janeiro para trabalhar e ajudar no sustento da família. A tia que a recebeu logo lhe conseguiu um emprego de babá, com direito a moradia. Após três anos, um primo, que morava em São Paulo, lhe falou sobre um casal, dono de restaurante, que precisava de alguém de confiança para cuidar de suas duas meninas. “O salário era bem melhor, daria para mandar mais dinheiro aos meus pais”, conta Joselma, que decidiu arrumar as malas e, desde então, vive na capital paulista.
Morando no emprego, ela pouco saia, mas um dia conheceu Olívio. Foram viver juntos e tiveram dois filhos, Edvan, hoje com 20 anos, e Letícia, agora com 18. A união não deu certo, em pouco tempo Joselma se viu sozinha com as crianças. “A ironia é que eu tinha que pagar uma creche de período integral para os meus filhos enquanto cuidava dos filhos dos outros”, relembra. Depois de seis anos da separação, seu primo lhe apresentou um amigo, 17 anos mais jovem do que ela. “Eu não pensava mais em me relacionar com ninguém, nem tempo eu tinha para isso. Só que Jonas mexeu comigo, nos apaixonamos e resolvemos morar juntos”. O sonho de Jonas era ser pai. Já Joelma tinha filhos adolescentes e estava totalmente envolvida no trabalho, engravidar não fazia parte de seus planos. No entanto, a insistência do companheiro a convenceu. A primeira gravidez, em 2017, foi interrompida de forma natural aos quatro meses. Devido à curetagem, os médicos da Santa Casa de São Paulo a alertaram para não ficar grávida antes de um ano. “Não consegui evitar. Seis meses depois descobri que iria ser mãe novamente”.
Apesar de ter ficado um mês de repouso, a gestação correu bem. Nessa época Joselma cuidava de uma criança autista, trabalhou até os sete meses de gravidez, quando um dia sentiu dores na barriga. Após o expediente desse dia seguiu para a Santa Casa onde foi feito um ultrassom. O médico decidiu interná-la, pois o bebê estava em sofrimento. “Foi tudo muito rápido. No dia seguinte, 27 de abril de 2018, Miguel nasceu de cesariana. Fiquei em choque quando o vi, ele era muito pequenininho, pesava 1 quilo e 800 gramas. Meus outros filhos nasceram com mais de 3 quilos”. Tranquilizada pela equipe da pediatria, Joselma entendeu que era devido ao baixo peso que o menino ficaria na UTI. Três dias depois ela teve alta, mas o que viria pela frente transformou definitivamente sua história.
Levada à UTI neonatal uma equipe médica a esperava. A pediatra explicou que o bebê nasceu com síndrome de Down. Joselma conta que na hora até sentiu certo alívio, pois supunha ser algo pior.
Os primeiros cinco meses de vida de Miguel foram complicados, pois devido aos pulmões malformados e ao problema de comunicação interventricular (quadro em que existe uma espécie de buraco entre os dois lados do coração), foi preciso inúmeras internações, que o obrigavam a ficar entubado o tempo todo. Para agravar, Joselma já não estava mais com Jonas e entrou em depressão profunda, quase não comia, praticamente se arrastava para acompanhar o filho, pois não tinha quem fizesse isso por ela. “Não sei como encontrei forças para cuidar sozinha de nós quatro. Meus filhos maiores ajudavam a comprar alimentos, mas eles ganham muito pouco, e meus parentes do Nordeste, para os quais eu sempre mandei dinheiro, são tão necessitados quanto eu”. Impossibilitada de trabalhar, devido ao tratamento de seu caçula, à base de medicamentos fortíssimos que a deixavam prostrada, Joselma pediu demissão. Sem o salário, não pode mais pagar o aluguel do local em que viviam. Letícia e Edvan, seus filhos mais velhos, foram morar com os namorados e ela e o bebê Miguel, com uma amiga.
Diante do cenário de sofrimento de Joselma, os médicos da Santa Casa a encaminharam para o Instituto C. “Foi o melhor presente que já recebi. Assim que contei minha história para a equipe de atendimento fui inserida em seu projeto PAF – Plano de Ação Familiar”. Desde então, ela vem sendo auxiliada na medicação de alto custo de Miguel, que não é fornecida pelo SUS. Além disso, todo mês ela recebe o leite especial da criança, fraldas e uma cesta básica. O pessoal da renda tem lhe orientado para que os poucos recursos da família sejam bem aplicados e as assistentes sociais lhe mostraram o caminho para conseguir benefícios, como bilhete único. E Joselma tem progredido muito em suas conversas com as psicólogas do IC. Sente-se mais forte física e emocionalmente e tem plena certeza que em breve voltará a trabalhar e retomar sua missão de sustentar os pais. “Estou aprendendo a ter calma, afinal isso tudo é só uma fase de minha vida, daqui a pouco passa. Graças a vocês não me sinto mais abandonada. A verdade é que toda vez que venho aqui, saio renovada, cheia de esperança. O Miguel adora o pessoal da recreação, brinca feliz, é até difícil convencê-lo a ir embora. Sem falar nas novas amizades que fiz com mães que enfrentam dramas tão sérios quanto os meus. Rimos e choramos juntas, o que nos dá ânimo de seguir em frente”.
Agora, com um ano e cinco meses, finalmente Miguel foi liberado pelos médicos para frequentar a creche. Os tratamentos continuam regularmente (fonoaudiólogo e fisioterapia) e os cuidados da mãe têm sido fundamentais para o fortalecimento do pequeno. “A alimentação dele é super saudável, mantenho a casa o mais limpa possível e arejada para que sua asma e alergia não piorem. Não descuido um minuto de meu menininho. Tem dado certo. As internações na Santa Casa estão cada vez mais espaçadas”, comemora Joselma.
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