Uma das áreas de atendimento dentro do Instituto C é dedicada à psicologia, a ciência que estuda o comportamento humano e os processos mentais.
O tema ganhou ainda mais destaque após a pandemia do coronavírus, mas fato é que a psicologia, se desenvolvida e trabalhada, pode ser uma ferramenta essencial para a promoção e fortalecimento do bem-estar geral da sociedade.
Dentro do Instituto C, a psicologia é trabalhada em um viés social, diferente do tradicional conhecido pela sociedade, individual e clínico. “A psicologia social é um trabalho profissional e previsto dentro da assistência social”, introduz Nayara Oliveira, psicóloga institucional.
Para ela, esse trabalho se atenta muito às questões de intersecções, de exclusão e inclusão na sociedade. “Atuamos por meio de uma escuta qualificada, considerando contextos históricos, sociais e econômicos, especialmente influenciados por intersecções de gênero, classe e raça, bem como outras populações marginalizadas, como povos originários e comunidades ribeirinhas”, explica Nayara.
Aqui, vamos explicar um pouco mais sobre a psicologia social e como funciona a área de psicologia dentro do Instituto C.
O que é a psicologia social?
A psicologia social é uma abordagem dentro da psicologia que se concentra no estudo do comportamento humano em contextos sociais.
Um pouco diferente do que se conhece tradicionalmente na sociedade, este tem uma base comunitária e coletiva – analisando as questões sempre vinculadas ao território e ao coletivo. “A função da psicologia social é identificar as potencialidades e as vulnerabilidades das pessoas atendidas e seus territórios, principalmente numa lógica familiar, sempre pensando no fortalecimento dessas potências e promovendo a garantia do acesso aos direitos fundamentais”, explica Nayara.
A psicóloga ainda reflete como essa visão é algo recente. “Identificar uma pessoa como um sujeito de direitos é algo muito novo na sociedade brasileira. Isso vem da Constituição de 1988, né? Estamos falando que entender o ser-humano como uma pessoa digna de direitos vem de 35 anos. A psicologia social, então, luta para garantir a efetividade disso”, pontua.
Ainda de acordo com essa teoria, vale lembrar que a pobreza e a vulnerabilidade possuem muitas esferas, que não só a ausência do dinheiro. Daí a importância de uma escuta ativa e qualificada para a reflexão desses marcadores sociais de maneira ética – sempre atuando de maneira interdisciplinar e pensando nos acessos de políticas públicas.
Como é dividida a área de psicologia no Instituto C?
No Instituto C, temos psicólogas que atuam no atendimento da psicologia social. Elas atendem de forma individual e também no coletivo, em rodas de conversa e grupos de fortalecimento. Em demandas urgentes, quando se identifica a urgência do atendimento, elas também atuam em atendimento domiciliar. É importante ressaltar que, caso seja identificada demanda de um trabalho psicoterapêutico, as psicólogas sociais do Instituto C articulam, seja com a rede pública ou privada, meios para que a família seja atendida e cuidada em sua demanda.
Já a frequência dos atendimentos é conforme as necessidades aparecem. No Polo Centro, por exemplo, as famílias estão presencialmente uma vez por mês –sempre em contato remoto caso haja necessidade. Já no Polo Zona Norte, a agenda é aberta e montada de acordo com as demandas das famílias e a disponibilidade da equipe, em encontros semanais, individuais ou coletivos.
“Dentro da psicologia, temos o código de ética e um dos primeiros artigos é a luta ativa pela promoção de igualdade e contra as opressões e violência, então a psicologia no Instituto C está sempre unida a esses princípios”, reforça Nayara.
Como funcionam os atendimentos da psicologia?
A partir da visão da psicologia social, os atendimentos são sempre pensados no coletivo, a partir daquilo que é dito – e não dito. “A gente vai pensando no adoecimento e na fragilidade daquela família não só pelo que ela diz, mas também pelo que o território está produzindo”, diz Nayara.
Isso porque muitas violações de direitos e vulnerabilidades são naturalizadas pela sociedade, e acontecem por conta de uma estrutura social e coletiva antiga. “Existe também o trabalho de ajudar a identificar essas questões. A violência de gênero e doméstica, por exemplo, é algo que a mulher muitas vezes nem consegue perceber que acontece. Então, temos um trabalho muito grande de não individualizar o problema, mas também de ir amplificando essas vozes”, completa a psicóloga.
A área de Desenvolvimento Institucional
Além dos atendimentos nos projetos, também existe a área de desenvolvimento institucional, onde a psicologia também está presente e Nayara está à frente. “Nessa área, o atendimento não é direto com as famílias, mas sim com equipe do Instituto C. É um trabalho de escuta em busca de cuidar das pessoas e dos processos para que a gente tenha vínculos fortalecidos e sustentáveis”, explica.
Assim, a psicologia dentro do Instituto C é prioritariamente social – da mesma forma dentro da área institucional. “A minha escuta também passa por esses marcadores e por essa luta coletiva. É uma construção transversal, costurando os atravessamentos de toda a equipe”, completa.
Os benefícios da psicologia social
A luta pela igualdade é um benefício para toda a sociedade. E, quando pensamos em uma psicologia não elitista e individual, produzir saúde e fortalecer vínculos se torna ainda mais potente. “Quando a gente faz isso, a gente evita que as violências sejam perpetuadas ou repetidas”, garante Nayara.
É claro que a psicologia social possui desafios – ainda mais em um País com tanta opressão e desigualdade, mas é um caminho possível. “Pensar no fazer cuidadoso e ético, que mais inclua do que exclua, é uma forma de promover transformações. Se a gente está pensando em produzir saúde e cuidado para uma grande população que é marginalizada, não daria para ser individual, tem que ser coletivo. E, aos poucos, é caminhando que se faz o caminho”, finaliza.