A garantia dos direitos sociais começa a partir das informações recebidas por cada pessoa, e isso está fortemente relacionado ao território ao qual ela pertence. São nesses lugares onde as pessoas enfrentam os desafios do dia a dia, constroem vínculos e também onde devem encontrar o apoio necessário para superar situações de vulnerabilidade. O Instituto C entende que a articulação entre a rede socioassistencial dos territórios é o que fortalece as famílias com orientações e atendimentos adequados.
É importante entendermos que nenhum serviço atua sozinho e precisamos dessa integração para saber como orientar cada pessoa atendida de acordo com as necessidades delas e com o equipamento que pode atendê-la. Na Zona Norte, onde fica localizado um dos nossos polos, podemos ver na prática como isso funciona e tem feito a diferença.
Na região da Brasilândia, o bairro mais populoso da Zona Norte, os reflexos da desigualdade e vulnerabilidade estão muito presentes, por isso o conjunto de CRAS, CREAS, UBSs, UPAs e organizações da sociedade civil trabalham coletivamente para suprir algumas demandas dos moradores. Afinal, todos têm um objetivo em comum: garantir proteção social, saúde, inclusão e dignidade para as pessoas.
Troca de experiências e aprendizado coletivo
A reunião de rede é um dos momentos de articulação entre os equipamentos e organizações, que possibilita discussões e reflexões importantes sobre temáticas que transpassam pelo trabalho dos agentes. Em uma das reuniões, que aconteceu no Instituto C em agosto, representantes de diversos equipamentos estiveram presentes, como Rogério Andrade, do Centro de Cidadania LGBTI+ Luana Barbosa dos Reis, que atende vítimas de LGBTfobia ou em vulnerabilidade.
Rogério refletiu sobre a importância de falar sobre as vivências em cada um dos equipamentos e como isso ajuda toda a rede a lidar com as demandas nos atendimentos: “as dores são muito similares nos diferentes equipamentos. É bom pensar quais estratégias podem ser compartilhadas no intuito de entender o que funciona no meu serviço que pode auxiliar os outros equipamentos a conduzirem as situações”.
Outra instituição que faz parte da rede e trabalha com os jovens é a Espro. O Luciano Duarte é articulador social e fala sobre esse momento de troca de experiências. “A articulação na rede é justamente pra gente fazer um trabalho coletivo com as famílias. E aí a gente vai conseguir mudar a realidade deles”, explica.
A potência da rede está, justamente, na forma como esses serviços dialogam. No Instituto C uma das nossas principais formas de guiar as famílias para a autonomia é fazendo com que elas tenham informação e conheçam os próprios direitos. E fazemos isso também por meio de encaminhamento para os serviços que trabalham as questões trazidas por elas.
Construindo a relação de cuidado
No Instituto C, a partir das nossas experiências, entendemos que a mudança social começa pela escuta e pelo acolhimento, para identificar demandas e articular com a rede executora das políticas públicas. Por isso, a integração entre os equipamentos não é apenas uma exigência técnica do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), mas também uma necessidade para que as políticas públicas estejam integradas e sejam efetivas na vida das pessoas.
“Quando nos abrimos para ouvir as pessoas, compreendemos suas histórias e necessidades. Por isso, o trabalho em rede com os equipamentos é um dos nossos pilares, porque, no fim, são essas conexões que permitem que as políticas públicas se tornem caminhos reais de transformação na vida de quem mais precisas”, explica Katia Moretti, gerente de projetos do IC.
No dia a dia de trabalho da nossa equipe técnica, eles conseguem notar a relevância de olhar para a rede de forma colaborativa. A Suellen Claudino, psicóloga do instituto, explica que quando a gente consegue trabalhar em conjunto, entrar em contato com o CRAS, com a UBS, com a escola e com os outros serviços de assistência, conseguimos nos tornar uma referência no território e o trabalho com a família fica muito mais eficaz.
Além disso, essa articulação coletiva e a escuta atenciosa também é o que ajuda a quebrar alguns medos e receios que as pessoas têm ao acessar os equipamentos. “As famílias, ao serem encaminhadas para os serviços de assistência, nem sempre são bem acolhidas, o que acaba criando uma espécie de barreira. Quando isso acontece, nosso papel é acompanhar essa família, orientar e dizer ‘pode ir lá, é um lugar seguro. Você será acolhida, será fortalecida, e nós estaremos trabalhando juntos’”, conta Suellen.
Quando CRAS, CREAS, CAPS, UBS, escolas, coletivos e lideranças locais se olham como parte de uma rede dinâmica e colaborativa, é possível construir caminhos mais efetivos para a proteção das famílias em situação de vulnerabilidade social. As mudanças só acontecem realmente quando são feitas em conjunto com o poder público, com a sociedade civil, e com a participação ativa de quem vive o território todos os dias.