Categoria: Gestão de Pessoas

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Maria de Lourdes: liberdade e autonomia na conquista do BPC

Não é de hoje que a Maria de Lourdes, ou Dona Maria, como a conhecemos aqui no Instituto C, vêm buscando conquistar sua liberdade e autonomia. Avó e responsável pelo pequeno Yan (12), ela sempre soube que essa busca tinha um caminho certo, sua independência financeira. “Ter independência financeira vai além de ter uma renda; representa liberdade de angústias que antes, mês a mês, se faziam presentes e dominavam o ranking de preocupações.”, explica Katia Moretti, líder do projeto PAF e que atuou por dois anos como Analista de Renda.

Para mulheres como a Dona Maria, falar em independência financeira parece até um sonho distante. Após separação do marido em 2019, ela se viu completamente desamparada para cuidar de seu neto Yan, que tem autismo, até encontrar o Instituto C em outubro do mesmo ano. “Após a separação do companheiro, ela enfrentava muitas dificuldades pois não tinha renda nem para pagar o aluguel, mas a Dona Maria sempre foi muito engajada com as suas questões e nunca ficou parada esperando alguma coisa acontecer, ela vai à luta.”, explica Isabel Pinheiro, técnica responsável pelos atendimentos da família.

Parte desta luta vinha sendo travada com o governo para garantia dos seus direitos, o Benefício de Prestação Continuada (BPC) que havia sido negado na primeira solicitação por conta da documentação. “Dona Maria tinha entrado com o pedido por conta própria. Quando recebemos a notícia de que o benefício havia sido negado, voltamos o olhar para essa questão que era primordial. Fizemos um levantamento para entender o que havia dado errado e identificamos que era a documentação.”, explica Isabel. Para resolver isso, Dona Maria entrou em contato com a sua família que mora na Paraíba e solicitou ajuda com emissão da sua certidão de nascimento, a qual havia perdido.

Com o documento em mãos, Isabel auxiliou Dona Maria com o pedido e desde maio deste ano passou a acompanhar a solicitação por telefone até que em julho saiu a aprovação. “Quando eu soube que o dinheiro tinha saído, eu chorei de alegria, só agradeci, consegui adiantar dois meses de aluguel, comprei um colchão, um armário de cozinha e um fogão. Precisei comprar essas coisas para poder recuperar um pouco da autoestima.”, comemorou Dona Maria que também recebeu os valores atrasados, desde março de 2020, quando entrou com o processo pela primeira vez.

Ao ser questionada sobre o que o Instituto C representa para ela, seus olhos brilharam: “Não tenho nem palavras para expressar o que eu sinto. É tudo para mim, é especial, todas as pessoas, antigas e novas, se eu tivesse condições, eu faria doações para ajudar o IC, porque eu quero que vocês existam para sempre. Vocês deveriam chamar, Instituto ombro amigo, tanto é o apoio e as amizades que fiz por aqui. Quando encerrar o ciclo, vou sentir falta de tudo, do carinho, do atendimento, das conversas.”, respondeu emocionada.

*Benefício de Prestação Continuada – Criado em 1993 pela Lei Orgânica da Assistência Social – Loas é pago pelo INSS a idosos a partir dos 65 anos ou pessoas com deficiência em situação de vulnerabilidade social. O valor devido mensalmente é de um salário mínimo

 

Gestão de PessoasPremiações

Artigo | Por que participar de organizações sociais?

Fui convidada a escrever um artigo aqui no LinkedIn em comemoração a mais nova conquista do Instituto C: o Selo Doar na categoria A+, que representa a maior pontuação possível nesta certificação que visa incentivar, legitimar e destacar o profissionalismo e a transparência nas organizações não-governamentais brasileiras, na forma de um atestado independente de sua adequação aos Padrões de Gestão, Transparência e Doação (PGTD).

Estou no mercado financeiro há mais de 40 anos. Sempre me identifiquei com as causas sociais, mas faltava colocar mais a mão na massa. Assim, alguns anos atrás me juntei ao então Instituto Saúde Criança, em São Paulo, hoje Instituto C.

Faço parte do Conselho Fiscal, o que me traz imensa satisfação. Primeiramente pelo resultado da operação em si, que é muito gratificante. Os objetivos são nobres e temos conseguido a cada ano nos superar. Tem um aspecto que me identifico muito: o caráter não assistencialista do trabalho, muito mais voltado a “ensinar a pescar”. Outro ponto que me deixa realizada é o grau de profissionalismo envolvido. A equipe é composta por técnicos que conhecem suas áreas de atuação e a meritocracia vem crescendo a partir de muito apoio de assessoria de recursos humanos.

É importante destacar também a questão da transparência e governança do Instituto C. A prestação de contas é pelo menos mensal, temos reuniões formais – também informais quando há necessidade – e tudo é muito bem documentado, tal qual na iniciativa privada, mas com um ganho adicional: uma grande satisfação interior por poder, mesmo que seja pouco, devolver algo para a sociedade.

Estou em diversas outras entidades com fins sociais e em todas tenho experiências muito boas, mas é junto ao Instituto C que comecei de fato minha ação na vida social, onde cresci e aprendi bastante. Que possamos seguir essa jornada de transformação da vida das famílias atendidas, que tanto precisam do nosso apoio. E parabéns pela conquista!

Chica Passos é Conselheira Fiscal do Instituto C.

 

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Três mulheres, um sonho: voltar a estudar para transformar

É comum nos atendimentos individuais do PAF – Plano de Ação Familiar ouvir das famílias atendidas a dificuldade de voltar a sonhar, afinal, na maioria das vezes, é preciso primeiro superar as dificuldades para conseguir encontrar forças, sendo este um dos objetivos mais importantes das orientações oferecidas pelo projeto, as quais estimulam o empoderamento destas mulheres. “Eu acredito que com a nossa intervenção, trabalhando a autoestima, valorização, o cuidado de si, a independência das crianças e o olhar para o desenvolvimento das crianças, essas mães, elas se sentem novamente na possibilidade de aspirar novos sonhos”, explica Nayara Oliveira, Psicóloga do projeto.

Por isso, casos como o da Graziele, Juliana e Jeane são sempre celebrados no Instituto C. Apesar de não se conhecerem, estas três mulheres têm algo em comum, deixaram os estudos de lado para poderem se dedicar aos cuidados da casa e dos filhos. “Muitas vezes essas mulheres, pela divisão sexista de tarefas, acabam sendo limitadas à maternidade, sendo unicamente responsáveis por essas atividades. Durante os atendimentos, nós vamos trabalhando estes pontos, estimulando um olhar para os desejos dessas mulheres como uma forma de se reconectarem consigo mesmas, de se fortalecerem. E eu acredito que a Educação é uma via para essa libertação.”, comenta Nayara.

Graziele Divina, mora fora de casa desde os 11 anos, ela precisou parar os estudos para trabalhar como doméstica. De lá para cá, ela tentou retornar aos estudos algumas vezes, mas após o nascimento dos gêmeos de forma prematura e com algumas complicações, Graziele viu o seu sonho de terminar o Ensino Médio e cursar Psicologia ser interrompido. Com o início dos atendimentos no Instituto C em 2019, ela conseguiu avançar em diversas questões importantes. “Ela é uma mulher muito engajada em todas as orientações para construir a autonomia da sua família. Ela está muito focada na tentativa de firmar sua independência.”, comenta Nayara. Graziele retomou os estudos e está cursando o CIEJA – Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos para ingressar no ensino superior. “Quando eu comecei a participar das reuniões, aqui no Instituto C, a primeira coisa que eu pensava era, “o leite dos meus filhos está garantido”. Eu me recordo até hoje do primeiro dia que eu vim e na hora que eu peguei os benefícios eu saí com vontade de chorar. Nas rodas de conversa e nos atendimentos com a Psicóloga, eu fui abrindo meus olhos, dia a dia, de repente me deu uma luz, poxa, eu posso estudar. E hoje eu falo assim, eu quero estudar, eu quero me formar, por que eu quero um dia ser voluntária aqui na ONG, eu quero prestar esse atendimento aqui, e eu quero ajudar as pessoas. E é um sonho meu, eu sempre gostei muito de ouvir o outro, porque hoje em dia, as pessoas não sabem escutar, se escutam é para julgar depois, e tem pessoas que só querem desabafar, falar do que estão sentindo, o que estão pensando, mas as pessoas não têm mais paciência para isso. A ONG me ajudou muito nisso, a escutar o outro, como escutamos aqui nas rodas de conversa, a compreender o que o outro está sentindo e isso me estimulou muito. Então, de alguma forma, isso me mostrou que eu posso, eu quero e eu sou capaz.”, comemora Graziele, que está estudando de forma remota.

Para Juliana da Silva não foi diferente, com quatro filhos, ela chegou ao Instituto C em 2019. Mãe muito jovem, Juliana precisou adiar o sonho de ser enfermeira para cuidar da casa. “Ela está sempre cuidando de todo mundo, mas não cuidava de si mesma. Nas conversas individuais, ela ficou muito sensibilizada com essa questão e com a nossa roda de conversa, começou a tirar um tempo para ela, começou a caminhar. Com a renovação da auto estima, ela conseguiu encontrar o estímulo necessário para voltar a estudar. Ela começou o curso de enfermagem este ano e está muito feliz.”, celebra Nayara. Juliana entende o desafio que tem pela frente, mas também sabe a importância de mostrar aos filhos que isso é possível e que o futuro pode ser diferente para todos eles.

Já Jeane dos Santos sempre sonhou em cursar medicina. Ela saiu de casa muito cedo e depois de enfrentar muitas dificuldades, Jeane e seus cinco filhos voltaram para a casa dos pais dela. No projeto desde maio de 2019, Jeane, que também faz acompanhamento no CAPs, foi sempre muito engajada nas orientações e na educação dos filhos. “Ela pega muitos livros emprestados na biblioteca do Instituto C, tanto para ela como para os filhos, ela tem uma filha que adora poesias.”, comenta Nayara. Após um momento de crise, Jeane entendeu que precisava retomar a autonomia da sua vida para reconquistar sua independência. Durante as conversas, ela diz entender no estudo esse lugar de potência e de transformação da realidade que ela está vivendo, então, está estudando para a prova do Enem para concluir o ensino médio e ingressar na faculdade. “Histórias como essas são uma vitória para o projeto, na medida em que elas assumem o protagonismo nessa transformação de realidade.”, finaliza Nayara.

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A força do coletivo

Chegamos ao fim do primeiro semestre de 2021, e, com isso, finalizamos duas campanhas de captação muito especiais realizadas pelo Instituto C e quero dividir com vocês o resultado.

A primeira campanha que fizemos nesse ano foi batizada de Dê um Check de Esperança, pensando na lista de supermercado, a qual gostaríamos de dar um check nos produtos a serem doados para cada uma das 310 famílias atendidas por nós. A iniciativa tinha como objetivo captar R$ 432.200, tanto com pessoas físicas como com empresas. Ao final de dois meses, chegamos ao valor total que precisávamos, possível a partir do apoio de nove empresas e 152 pessoas que se uniram ao Instituto C para garantir a comida no prato de 1.300 pessoas.

Mas o que eu quero contar, é um episódio que aconteceu antes do início desta campanha e que me tocou muito, mostrando que as pequenas atitudes, quando feitas com atenção e dedicação, podem gerar resultados incríveis, além de criar uma poderosa rede de apoio. Uma semana antes do meu aniversário, recebi uma mensagem muito carinhosa e personalizada de um amigo querido que eu não falava há muito tempo, pedindo para eu dar um like em um vídeo no YouTube, de um concurso que ele estava participando. Com essa mensagem, além de conseguir o meu like, voltamos a nos falar e tivemos uma troca super prazerosa, foi ótimo!

Inspirada por ele, pensei em fazer o mesmo no meu aniversário, e enviei individualmente, para praticamente todos os meus contatos no WhatsApp que ainda não tinham participado da campanha Dê um Check de Esperança, uma mensagem pedindo uma doação como forma de me presentear pelo meu aniversário. O retorno que eu tive e a onda enorme de carinho que recebi por conta dessa atitude foram realmente um presente inesquecível! Conseguimos arrecadar R$ 28.460 com a boa ação de 116 pessoas, que  de alguma forma se sentiram tocadas com minha singela mensagem.

Valeu muito a pena enviar cada uma das mensagens e me mostrou como uma mensagem com um objetivo claro, comunicado de forma simples, pode trazer um resultado muito efetivo, e qualquer um é capaz de fazer isso, basta querer! Afinal de contas, usamos nosso tempo com tantas bobagens nas diversas redes sociais.

E foi com esse mesmo mote de “basta querer fazer” que bolamos a segunda campanha do Instituto C deste ano, chamada de Clicks de Esperança. Inspirados na campanha 100 fotos por Bergamo, que aconteceu na Itália, no começo da pandemia, convidamos alguns fotógrafos para cederem os direitos de uma imagem de sua autoria por um período de 20 dias. Em duas semanas, reunimos 41 profissionais muito queridos, que, além de doarem a foto, nos ajudaram muito com a divulgação da campanha. Em apenas 20 dias, vendemos mais de 130 fotos, as quais serão impressas em fine art e entregues na casa dos compradores.

Foi muito prazeroso realizar essa campanha, acompanhar a indecisão na compra de quem queria participar em meio a tantas fotos lindas e poder ver, mais uma vez, a força que só o coletivo tem para chegar a resultados que sozinha nunca seria possível. Que possamos seguir juntos ao longo do segundo semestre. Tenham a certeza de que muita coisa bacana vem por aí.

Vera Oliveira é Diretora executiva do Instituto C.

 

Gestão de Pessoas

Mãe é ação, estar em constante movimento

Nesta semana em que se comemora o Dia das Mães, decidi trazer uma reflexão sobre essas pessoas tão importantes nas vidas de cada um de nós. Segundo o poeta João Doederlein, mãe é o termo usado para designar um coração capaz de amar infinitamente. É sentir por dois, sorrir por dois, sofrer por dois. É dar o melhor de si duas vezes. É aquela que cura com um abraço, que sara machucado com um beijo. Aquela quem deu à luz amor.

Encontramos vários perfis de mães nos nossos projetos do Instituto C, mães solos, que precisam trabalhar e cuidar da educação dos filhos, que recebem todo o suporte dos companheiros, de primeira viagem à mães muito jovens, mas o ponto em comum em todas elas está na força e na garra de buscar o melhor para seus filhos. Pedindo licença poética, eu diria que a palavra mãe não é um substantivo, mas sim um verbo. Mãe é ação, estar em constante movimento. É cuidar, brigar, chorar, brincar, sorrir, ajudar, mudar, se preocupar, se irritar e, acima de tudo, mãe é saber amar. Com todas essas características, já é possível afirmar que mãe é muito além de gestar, mas de cuidar e proteger.

É muito comum ao longo da jornada das mães no Instituto C a necessidade de resgatarmos com elas o caminho de voltarem a olhar para si, pois ao longo da maternidade se acostumaram a se apresentar como a “Fulana, mãe do Beltrano”, esquecendo-se de si e de sua identidade e necessidades. É a invisibilidade que a maternidade traz à mulher e que fica mais agravada quando instalada na realidade das mães em situação de vulnerabilidade social.

Durante meus atendimentos psicológicos, ouço muito a sobrecarga que elas sentem na educação dos filhos. O medo de falhar na criação deles, a culpa por cada um dos problemas que eles enfrentam e o desejo de poupá-los de toda dor. No dia a dia, a experiência da maternidade se apresenta como única e rodeada de significados, de esperanças e de promessas e também de uma mistura de sentimentos entre medo e cansaços que precisam ser acolhidos. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são 57,3 milhões de mães solo, isto é, 38,7% de brasileiras chefiando seus lares. Mesmo sendo grande parcela da sociedade, elas ainda sofrem e precisam se reinventar todos os dias para poder realizar, tanto a si mesmas quanto aos filhos.

Segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), as mulheres trabalham cerca de 7,5 horas a mais do que os homens em uma semana. Isso se deve ao fato de sua jornada dupla de trabalho, entre emprego e atividades em seu próprio lar. O maior desafio que encontro nos meus atendimentos está justamente em segurar a mão dessas mulheres e conduzi-las a um novo caminho, primeiro de desconstrução do ideal de mãe suficientemente boa na qual não cabem falhas e que todas as responsabilidades estão em suas costas. Depois de fazer o resgate da autoestima de cada uma, fortalecendo-as e mostrando que, antes de serem mães, são mulheres fortes mas que também necessitam de apoio e de serem auxiliadas para então chegarmos na ampliação da rede de apoio de cada uma.

Apesar das dificuldades encontradas, das experiências difíceis e dos sentimentos contraditórios ao longo do processo da maternidade, os atendimentos revelam um sentimento de esperança que modifica, em parte, o sentimento de culpa presente nessas mulheres. As mães reconhecem sua importância na construção de um futuro para seus filhos, na significação do papel materno, no processo de criação, socialização e na valorização da educação, agora entretanto, experimentando a maternidade de maneira mais leve e fluida.

Mas o que mais aprendo com cada uma delas é o desejo de serem melhores, para e por seus filhos e suas famílias. A força que tiram desde o momento de darem à luz ou no momento em que se viram desempenhando o papel materno, até os desafios cotidianos. O tirar de si, para doar ao outro é a lição mais forte que carrego.

À minha mãe e minhas avós (que geralmente são segundas mães para nós), todas as minhas colegas de jornada que são mães e a todas a mães que atendemos no Instituto C, desejo um feliz dia, marcado por muito amor, reconhecimento da importância que vocês têm em nossas vidas, de acolhimento e, principalmente, das típicas frases que todas elas dizem sempre, como “Meu filho, você não pode ir porque você não é todo mundo”. Um feliz Dia das Mães!

Gestão de Pessoas

Artigo | Orgulho do que construímos e ainda construiremos

A atuação na advocacia criminal, especialmente por meio de casos pro bono, sempre me colocou em contato com uma realidade dramática no Brasil: a falta de acesso de grande parte da população a direitos básicos, como educação, saúde, moradia e renda. E esta realidade é, sem sombra de dúvidas, uma das principais origens da escalada da violência em nosso país.

Esta situação também sempre me provocou inquietação e a necessidade de atuar, por meio da minha especialização, para mitigar as desigualdades existentes em nossa sociedade.

Paralelamente ao meu desconforto, em outubro de 2011, eu vi minha grande amiga de infância, Vera Carvalho Oliveira, fundar o Instituto C (à época chamado Saúde Criança São Paulo). Desde então, faço parte dos órgãos consultivos do Instituto C e auxílio – menos do que gostaria, é verdade – para a criação e implantação de projetos que visam impactar a vida de famílias, com crianças e adolescentes, em situação de vulnerabilidade social.

Os projetos desenvolvidos pelo IC impactam justamente os pilares do que podemos chamar de vida digna das famílias atendidas: proporcionam saúde, educação, capacitação profissional, geração de renda, moradia e, principalmente, acesso à informação.

No Instituto C, buscamos gerar autonomia às famílias atendidas diariamente. A ideia dos trabalhos desenvolvidos não é que as pessoas sigam conosco por tempo indeterminado, mas sim que possam criar asas para voar.

Em praticamente 10 anos de existência, são mais de 1000 famílias atendidas e diretamente impactadas pelo trabalho desenvolvido pelo Instituto C. Em 2020, fomos reconhecidos como uma das 100 melhores ONGs do país pelo quarto ano consecutivo, feito que nos enche de orgulho.

Os depoimentos disponíveis em nossas redes sociais, de diretores, voluntários, e, especialmente, das famílias atendidas não nos deixam mentir: os efeitos dos projetos do Instituto C são realmente transformadores. Tanto para aqueles que podem sair da situação de vulnerabilidade social, mas, também, para todos nós que dedicamos parte do nosso tempo para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e menos desigual.

Por meio da escuta atenta da nossa equipe, aprendemos todos os dias sobre a realidade das mães e crianças que atendemos. E é a soma desse aprendizado, com o conhecimento adquirido por todos os envolvidos nas atividades da associação, que podemos trabalhar por um mundo melhor. Sem os ensinamentos das famílias atendidas, isso certamente não seria possível.

Ser a Diretora Presidente do Instituto C é uma maneira gratificante e desafiadora de trabalhar, com as ferramentas que adquiri ao longo de uma vida de muitos privilégios, para transformar a realidade, que tanto me inquieta, daqueles que mais precisam. Acredito, ainda, que os efeitos do trabalho desenvolvido pelo IC, e por tantas outras instituições, serão sentidos a longo prazo, com o surgimento de novas oportunidades para as famílias atendidas e, consequentemente, com a redução dos índices de violência em nosso país. Afinal, é incontroverso que a garantia de direitos sociais ao cidadão está intimamente ligada à queda da criminalidade.

Vida longa ao Instituto C, para que siga zelando, incansavelmente, pelas palavras que o definem: criança, cuidado e cidadão.

Marina Franco Mendonça, advogada criminal há mais de 10 (dez) anos e Diretora Presidente do Instituto C – Criança, Cuidado, Cidadão.

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Moda Responsável | Parceria Souris

A tentativa de aumentar a conscientização sobre o impacto social e ambiental da indústria da moda não é um assunto novo, agora, algumas marcas já nascem com estes valores socialmente responsáveis registrados no DNA. Esse é o caso da Souris, criada pela estilista Flávia Duarte em 2020 e parceira do Instituto C, desde então. “Desde a ideologia do projeto, antes mesmo de começarmos a vender as peças, a Souris é socialmente responsável. Decidimos doar 2% de toda a venda para o Instituto C. Para nós, este pilar é muito forte, pois estimula os pais e as crianças a pensarem no coletivo, acreditamos que o futuro só pode ser coletivo.”, explica Flávia.

Estilista de moda formada em Barcelona, Flávia trabalhou para grandes marcas como A.Brand – Grupo Animale, Ricardo Almeida e Reinaldo Lourenço nos mais de 15 anos de atuação. E foi por meio da moda que a Flávia conheceu o Instituto C em 2015, mais precisamente o Atelier C, projeto voltado para geração de renda das famílias em situação de vulnerabilidade atendidas pelo IC. “Fui voluntária no Atelier C e sigo com o IC, desde então. Como voluntária no Atelier C, eu ia 1 vez por semana, e pude ver de perto o crescimento do Instituto, atendendo cada vez mais famílias, mudando de endereço, da casinha para o escritório, vi o início e o fim do ciclo do Atelier C e sempre fiquei feliz  por fazer parte deste projeto. Eu acho incrível, eu sempre acredito que a maneira de ajudar o próximo, a sociedade, é estimulando as famílias a terem mais autonomia, que é o trabalho que o IC faz e não assistencialismo puro.”, comenta Flávia.

No final de 2019, Flávia saiu de uma grande empresa para dar início ao sonho de abrir sua própria marca infantil, produzindo roupas para crianças de 02 a 10 anos de idade, com estampas divertidas feitas por artistas de forma a estimular a imaginação das crianças. “A arte é outro pilar muito importante para nós. Acreditamos que as crianças devem se expressar e serem quem elas quiserem ser. O nosso logo, por exemplo, um ratinho  muito divertido e lúdico foi feito pela artista Ana Strumpf. Temos esse sotaque francês, Souris – significa ratinho em francês, porque eu sou franco-brasileira.”, explica.

A marca estava pronta para ser lançada em janeiro de 2020, um pouco antes de começar a pandemia. “Desde a nossa abertura estamos em pandemia, a gente entrou para o escritório da marca em fevereiro de 2020, bem quando começou a pandemia no Brasil. Eu não sei o que é abrir uma empresa sem pandemia, foram vários desafios, por outro lado, me deixa muito forte saber que o futuro é coletivo, que nós temos que ajudar uns aos outros.”, finaliza.

A Souris foi o primeiro contrato de marketing de causa que o Instituto C fechou em 2020, quando uma companhia associa sua marca a uma bandeira ligada ao negócio e com potencial de sensibilizar os consumidores. “Assim como a Flávia e a Souris, o Instituto C também acredita que o futuro é coletivo. E mais do que isso, vejo na história da Flávia atributos importantes como coragem e força que estão totalmente conectados ao trabalho desenvolvido por nós. E isso é muito importante quando falamos deste tipo de parceria.” comenta Vera Oliveira, Fundadora e Gerente Geral do IC.

Foto: Aline Barone e Flavia Duarte, sócias da Souris.

Gestão de PessoasParcerias

Juventude Engajada

No último semestre, o Instituto C fechou três parcerias importantes e todas elas com algo em comum: jovens engajados em causas sociais. “A atuação dos jovens e o comprometimento das instituições de ensino no sentido de envolvê-los como agentes de transformação social é uma coisa muito positiva e ascendente.”, comentou a Coordenadora de Parcerias do IC, Paloma Costa.

Entre as mais recentes parcerias estão o projeto Fluxo sem Tabu e o Trote Solidário da ESPM. O projeto criado pela estudante do Ensino Médio, Luana Escamilla (17), teve origem após o documentário Absorvendo o Tabu, que conta a história de mulheres que trabalham em uma mini fábrica de absorventes, em um vilarejo indiano, onde há um estigma com relação à menstruação. “O Fluxo Sem Tabu surgiu depois de eu ter assistido o documentário Absorvendo o Tabu, que me tocou muito e me fez pesquisar sobre a pobreza menstrual no Brasil. Percebi como ter um absorvente, infelizmente, era um privilégio. Assim, decidi criar um projeto que tanto fornecesse absorventes para as camadas mais vulneráveis e que democratizasse também o acesso à informação.”, explica. Com o projeto desenhado, Luana foi atrás de parcerias, quando encontrou o Instituto C. “Eu escolhi o Instituto C como parceiro porque fiquei impressionada com a gigante rede de apoio que a instituição proporciona, não só fornecendo cestas básicas, mas como também o acesso à informação, alinhado com o que acreditamos. Participei da roda de conversa do PAF e este é um exemplo claro disso, onde os profissionais orientam as pessoas dos mais diversos assuntos.”, acrescenta Luana que doará aproximadamente 1000 mil pacotes de absorventes até o final de abril.

Já o Trote Solidário da ESPM acontece desde 2011, mas terá o Instituto C como beneficiário pela primeira vez. Para Luiza Giffoni, Gestora ESPM Social, a seriedade da Instituição é um ponto muito importante neste tipo de parceria. “Nossa parceria com o Instituto C começou por meio de uma busca que a ESPM Social estava fazendo para encontrar instituições sérias, que apoiassem  famílias em situações de vulnerabilidade social e econômica. Logo que entramos em contato com a Paloma, ela nos respondeu e prontamente explicou todo o trabalho que realizavam com diversas famílias. Sempre que tínhamos alguma dúvida, ela nos respondia rapidamente e estava pronta para nos ajudar. Posso dizer, sem sombra de dúvida, que buscam a excelência no que fazem.”, comentou Luiza que doará 473 cestas básicas para o IC no início de abril.

Em outubro do ano passado, o responsável pela iniciativa Análises Clínicas na Prática, Jeferson Carrilho, também procurou o Instituto C para uma parceria muito especial. A iniciativa lançou o Projeto Jovem Analista, no qual disponibilizaram um mês inteiro de cursos totalmente gratuitos para recém-formados na área da saúde (biomedicina, farmácia, biologia, técnico em laboratório e fisioterapia) que estavam em busca do primeiro emprego,  e teve uma procura alta de alunos que já trabalhavam, por esse motivo, decidiu oferecer o curso na modalidade paga para este público e todo o valor arrecadado foi doado para o IC.

Nestes três casos, os jovens foram protagonistas no planejamento e execução das ações sociais. “Foi sensacional, a gente apenas facilitou para que estas parcerias acontecessem. Muitos estudantes têm procurado a gente para fazer trabalho e entender como funciona o Terceiro Setor e nesse momento eles acabam se apaixonando e se envolvendo pela causa. As instituições de ensino têm um importante papel nesse movimento que tanto promove o protagonismo jovem como fortalece as iniciativas sociais”, finaliza Paloma.

Gestão de Pessoas

Artigo | Mulheres na Liderança

A igualdade de gênero é um assunto cada vez mais discutido em nossa sociedade, porém é lamentável observar que as reflexões e debates acerca do tema ainda não conseguiram de fato proporcionar mudanças significativas principalmente quando o cenário é o mercado de trabalho.

De acordo com o Ministério da Economia, as mulheres detêm 42,4% das funções de gerência, 27,3% de superintendência e 13,9% de diretoria, ou seja, quanto mais alto o nível dentro de uma companhia, menos elas estão presentes. É curioso observar esses dados em contraste com a realidade que vemos diante dos perfis das famílias que atendemos no Instituto C, onde 63% das mulheres são líderes da família; exercendo o papel de principais mantenedoras e administradoras de seu lar. Acredito que esses dados refletem a cultura machista de uma sociedade que ainda não rompeu preconceitos.

Comecei minha trajetória no Instituto C como estagiária de psicologia, fui desenvolvendo minha carreira e habilidades aliadas aos valores da organização e recentemente fui promovida ao cargo de liderança do projeto PAF – Plano de Ação Familiar. Ser mulher e assumir essa posição é uma grande conquista, não apenas pessoal, mas num âmbito coletivo revela que as organizações estão despertando para a importância da equidade de gênero. E não somente isso, mas também da potência que é investir na diversidade, seja por gênero, cor, orientação sexual, idade ou por conta de alguma deficiência.

Algumas pesquisas já começam a mostrar que contar com um time mais diverso, melhora a performance e o desempenho financeiro das empresas. No geral, as características da mulher favorecem a liderança; pois costumam estimular um clima mais harmônico onde as construções são horizontais, trazendo muitos benefícios e resultados no trabalho.

Neste Dia Internacional da Mulher, momento tão importante para reflexões, agradeço pelas oportunidades que tive e reforço o coro  por mais igualdade entre os gêneros. Afinal, nós, mulheres, temos muita garra, dedicação e competência.

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Direito garantido para Mellanie

Em fevereiro, a equipe do PAF – Plano de Ação Familiar, em parceria com o Dr. Raphael Scorpião, Defensor voluntário, celebrou uma conquista super importante para a pequena Mellanie (4) e sua família, o fornecimento de medicamentos de uso contínuo que não são fornecidos pelo SUS. “Recebemos a resposta que a ação foi julgada favorável e a criança terá esse direito garantido pelo Estado. Estamos muito felizes em compartilhar essa conquista de muitas que virão.”, comemorou a líder do projeto Kátia Moretti.

O caminho que desembocou no deferimento da ação judicial pelo juiz de Bragança Paulista, que determinou que o município forneça a medicação solicitada no laudo médico no último dia 15 de fevereiro, foi longo. “Participei do processo como intermediário entre a família, a Liliane e o Dr. Raphael. Foi muito legal porque a família sempre foi muito engajada e isso facilitou o processo. Mesmo assim, pudemos ver na prática o que as famílias passam quando precisam de algum benefício do Estado, realmente é algo bem burocrático, tudo muito complicado.”, comentou Breno Pereira, responsável pela parte de medicações do Instituto C.

Durante este período, a Fernanda, mãe da Mellanie, contou com todo o apoio e suporte do time multidisciplinar do PAF, em especial, a Assistente Social, Liliane Moura. “Nosso maior objetivo dentro do projeto é estimular a autonomia das famílias, então, essa conquista é um reflexo disso, é o cumprimento deste objetivo. A Fernanda entrou no Instituto C em setembro de 2019 e com acesso à informação, ela entendeu que era preciso buscar o direito dela. Caso ela não tivesse estas medicações fornecidas pelo Estado, como seria a vida desta família após o projeto?”.

Diagnosticada com microcefalia, Mellanie costuma apresentar graves crises convulsivas, quadro que só foi controlado após a prescrição de dois remédios que não estão na lista de remédios fornecidos pelo SUS. “Em Bragança Paulista, tem o postinho que a gente chama de Sáude Mental. Lá as pessoas pegam o remédio controlado para convulsão, alzheimer, um monte de doenças, mas eles não fornecem os remédios prescritos pela neurologista, eles fornecem o genérico. Não adianta dar esses remédios para Mel porque as crises convulsivas dela não são controladas pelos genéricos. Falando o dito popular, não faz nem cosquinhas.”, explicou Fernanda.

Ao entrar no projeto PAF, Fernanda passou a receber as duas medicações do Instituto C. “Eu comecei a comprar os remédios por um tempo, porque não adiantava nem dar os genéricos. Só que foi ficando muito pesado para mim, eu não trabalho, meu marido é freelancer. Desde que eu cheguei no Instituto C, graças a Deus, o Instituto tem comprado os remédios para mim. E é um alívio muito grande poder dar esses remédios para minha filha.”, comentou Fernanda.

Em novembro do ano passado, em parceria com o Dr. Raphael Scorpião, Defensor Voluntário, a equipe do PAF, juntamente com o Breno, começou a analisar as famílias atendidas que faziam uso de medicações que não estavam previstas na rede pública. A família da Mellanie tinha esta característica, então, foi orientada sobre os procedimentos necessários para que as medicações para o tratamento da Mellanie fossem garantidas pela rede pública, ou seja, pelo Estado, conforme preconiza a Constituição. Para isso, foi primordial o empenho da Fernanda em obter os laudos médicos, bem como todos os documentos necessários. “Eu agradeço muito a Deus e a vocês no Instituto C, porque nós só recebemos um salário mínimo e, se você for colocar na balança, não dá pra nada. Sabendo que foi aprovado, que o juiz decidiu aprovar em arcar com estes custos, para mim foi maravilhoso, porque esse dinheiro eu teria que desembolsar, agora eu posso fazer outros tipos de coisas para ela, comprar outras coisas que ela precisa. A medicação é o mais importante. Foi um presente! Uma criança especial requer muito cuidado, tudo que vai comprar é mais caro, desde um sapatinho até uma cadeira de rodas. E é muito importante a gente ter uma assistência do Estado. Saber que nossos direitos estão sendo cumpridos.”, finaliza Fernanda.