PAFRodas de Conversa

Rodas de Conversa | Expectativa x Realidade 2020

Em novembro, o PAF – Plano de Ação Familiar começou a tratar de um novo tema nas rodas de conversa: Expectativa x Realidade. A Psicóloga do projeto, Nayara Oliveira, conduziu o encontro com as famílias e iniciou a atividade com uma breve explicação sobre o tema escolhido. “Estamos chegando no fim do ano e como estamos fazendo rodízio entre as famílias, mês presencial, mês virtual, este é nosso último encontro. Por isso, lembramos daquela brincadeira da internet Expectativa x Realidade. Pensamos que seria interessante falar sobre as expectativas que tivemos no início do ano, sobre as realizações e sobre aquelas que não foram atendidas. Eu mesma fiz muitos planos no começo do ano e muitos não puderam ir para frente porque a realidade se mostrou diferente.”, explicou.    

 

As participantes, na sua maioria mulheres, puderam falar um pouco sobre os anseios que tomaram conta das suas vidas com o início da pandemia em março deste ano. “Quando começou a quarentena, eu quase surtei em casa. Comecei o ano cheia de expectativas, tenho 3 crianças e sou apenas uma mãe, de repente estávamos todos trancados em casa, elas com toda aquela energia dentro de casa. Teve dias de não saber se era segunda, terça, perdi a noção. Minha sensação é a de que não fizemos nada. Você só vê passando os dias.”, comentou Ivete Santos de Almeida, que participava pela primeira vez da roda.

 

Para Nayara, é comum que esta relação com o tempo seja alterada em um momento como este. “Nos sentimos um pouco perdidas, uma sensação de mesmice, somado a isso, tememos a morte e, ver isso muito próximo, em uma realidade mundial, também tem efeitos, nós sentimos medo do que pode acontecer.  Por isso, o ponto central aqui é se existe a possibilidade de deixar para trás esses medos, na esperança de alguma proteção, de que o ano que vem seja diferente, ou seja, uma vontade de ultrapassar este tempo”, comentou.

 

Edna Maria de Aquino, mãe da Ana Clara, que participa do PAF desde janeiro de 2020 concorda que o desejo é para que este ano acabe logo. “Estou tentando superar a cada dia, manter a paciência em casa. É o que tá tendo. A gente fica em pânico porque nossos filhos são do grupo de risco. A minha maior expectativa para o ano que vem é a vacina, somente quando tiver vacina, a gente conseguirá respirar novamente.”.

 

Na segunda parte da roda, as famílias sortearam um papel com o nome de outra pessoa presente na ocasião. A ideia era fazer um amigo secreto simbólico em que cada um escrevesse o que desejava ao outro para o próximo ano. O destaque ficou por conta da carta escrita pela Liliane para a Cristina, confira abaixo:

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“Bom dia Cristina, nesta carta começa aqui uma nova amizade. Quando você começou a falar vi em você uma mulher guerreira mas também uma pessoa bem alegre. 

 

Cristina, o que dizer desse ano né. Vivemos com medo sem expectativa mas graças a Deus estamos bem. Nossa família bem também. Agora vamos falando. 

 

Ano que vem que possamos nos encontrar com notícias boas para compartilharmos. 

 

Te desejo tudo de bom que não falte em sua vida e mesmo em sua casa a paz e alegria o amor saúde e pão de cada dia e que seus planos e projetos desse ano não deram certo que ano que vem se realize todos e os que você almeja de melhor venha se realizar.”

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Para Nayara, as rodas de conversa proporcionam um momento de troca importante, no qual as famílias deixam de se sentir solitárias, fortalecendo umas às outras. “Ás vezes, precisamos inventar outra estratégia, um outro jeito, porque a realidade se mostra diferente. E essa realidade se apresenta de forma muito dura, produzindo traumas, medos, perdas… muitas perdas e a dificuldade de não poder viver o ritual destas perdas. (…) E eu ouço isso de maneira simbólica, as vezes, pelo simples fato de não estar convivendo próximo dos seus, sentimos nossa batalha solitária, mas ouvir das famílias que, ainda que tudo isso esteja acontecendo, elas estão mantendo a esperança e um desejo de esperança que ajuda a encontrar forças. Acredito que isso nos fortalece de alguma forma.” finaliza.  

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Conquistas importantes para as famílias do Educação em Rede

Apesar da taxa de desemprego ter alcançado nível recorde, mães atendidas pelo Educação em Rede comemoraram a conquista de empregos no último mês. O trabalho, ou a falta dele, é uma das principais questões trazidas pelas famílias durante o atendimento com a Assistente Social, Vanessa Gonçalves. “Eu fico sempre atenta às vagas de emprego quando passo em algum lugar e vejo a placa de contratação já anoto tudo para passar para as famílias”, explica.

 

Por este motivo, Vanessa acaba participando ativamente destes processos, com orientações e encaminhamentos, como o que aconteceu com Ana Cláudia, Lucinete e a Claudiane que estavam cheias de expectativas com relação aos processos seletivos. “Sempre falo palavras positivas e de incentivo quando elas me dizem que estão indo para processo seletivo, conversamos sobre a importância de correr atrás e não deixar a ansiedade tomar conta de tudo. Juntas conseguimos alcançar bons resultados.”. Outra demanda importante apareceu durante atendimento da Patrícia, mãe de Naryelle, que precisava de cinco indicações para serviço como diarista, sem vínculo empregatício, em residências na região do ABC e encaminhou outras cinco famílias que participam do projeto. 

 

A questão em torno do desemprego e de ocupação em atividades formais sempre esteve presente na rotina dos atendimentos do projeto, porém, diante do momento vivido, em decorrência da pandemia, este cenário se agravou, alcançando 14,4%, a maior taxa de desempregados desde 2012,  segundo Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), números certamente refletidos nas famílias atendidas. “A falta de renda tem sido a principal demanda trazida pelas famílias que estamos atendendo. Com a pandemia, muitas famílias perderam seus empregos e quem já estava desempregado, viu sua situação se agravar ainda mais, dificultando a reinserção no mercado de trabalho. Hoje posso dizer que a maior demanda dos atendimentos é a busca por empregos.”, comenta Vanessa.

 

Nestes casos, Vanessa encaminha as famílias para o Posto de Atendimento ao Trabalhador da Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho do Estado de São Paulo (PAT), localizado na Rua Boa Vista e para o Centro de Apoio ao Trabalho e Empreendedorismo – Cate, na Avenida Rio Branco, ambos na região central de São Paulo. Sensível ao problema, ela passou a ficar ainda mais atenta a possíveis vagas de trabalho com o perfil destas famílias. “A todo instante eu faço a busca e seleção de vagas que atenda aos perfis profissionais das famílias, depois repasso esses dados para os interessados. Além dos responsáveis que buscam ativamente por essas oportunidades, também compartilho essas informações com as demais famílias por meio do grupo do WhatsApp. Repasso o link de grupo de empregos, o qual faço parte, para que possam ser adicionados, possibilitando o acompanhamento das vagas disponíveis.”.

 

“Estas conquistas são sempre muito importantes, não somente para as mães, mas para nós todas do projeto e o Instituto como um todo.”, finaliza Vanessa.

Gestão de Pessoas

Artigo |ONGs e empresas são mais semelhantes do que imaginam

Quando encerrei minha carreira executiva há dois anos, tracei uma meta de dedicar 25% do meu tempo a ações sociais e de impacto positivo. Foi então que conheci o Instituto C. A proposta de ajudar crianças e famílias vulneráveis me sensibilizou desde o primeiro instante.

 

Meu objetivo foi trazer a experiência acumulada no mercado corporativo para ajudar na gestão do instituto. Tenho feito isso há dois anos e estou muito feliz porque vejo os resultados aparecerem e, desta forma, temos conseguido ajudar muitas pessoas.

 

Ao fazer uma reflexão sobre minha trajetória profissional, vejo muitas similaridades entre a gestão de uma ONG como o Instituto C e de uma empresa. Gestão se aplica a qualquer tipo de negócio, seja ele pequeno, médio, grande, startups ou ONGs. Todas essas organizações têm a necessidade de administrar recursos, por meio de pessoas, para atingir determinados resultados.

 

Para isso, precisamos aplicar bem os recursos financeiros, atrair profissionais alinhados com os valores e propósito da organização e estimular o trabalho em equipe e a motivação das pessoas. O ser humano não difere muito nas suas aspirações e necessidades profissionais, mesmo em organizações distintas. Pessoas precisam de apoio, feedback, treinamento, querem crescer e se realizar na sua profissão, usando seu potencial e sua criatividade. Tudo isso, nós, como líderes, precisamos proporcionar às pessoas, além de respeitá-las e dar oportunidades de desenvolvimento.

 

Tão importante quanto a gestão de pessoas é a gestão de processos, imprescindível para o êxito de qualquer tipo de organização, inclusive as ONGs. Com relação a este aspecto, menciono a necessidade de planejamento, de ter metas bem definidas e projetos inovadores.

 

Mesmo com todas as semelhanças, pude notar, nestes dois anos, duas diferenças significativas entre a gestão de uma ONG e de uma empresa. A primeira delas é que uma ONG já nasce com o propósito de impactar positivamente a sociedade e, justamente por isso, precisa comunicá-lo de maneira intensa, pois o propósito de ajudar toca o coração das pessoas e atrai muitos talentos. Em uma empresa privada isso é mais difícil, pois há necessidade de gerar lucro para os acionistas. Mas já existe um movimento na sociedade para que as empresas atendam às necessidades de todos os stakeholders, incluindo a sociedade e o meio ambiente.

 

A outra diferença é que uma ONG não visa o lucro. Ao contrário de uma empresa privada que precisa ser rentável para atrair investidores, uma ONG é mensurada pelo impacto que causa com seu propósito. Mas isso traz um grande desafio que é a busca de recursos financeiros para sustentar a ONG, o que demanda da liderança uma habilidade diferenciada para divulgar os projetos, atraindo pessoas e outras organizações dispostas a apoiar com recursos financeiros.

 

Tanto empresas privadas como ONGs cumprem papeis importantes na sociedade e possuem desafios que demandam gestão e lideranças preparadas para garantir sua perenidade no longo prazo. Eu parabenizo o Instituto C por seu propósito e resultados. Fico muito feliz e orgulhoso de poder ajudar com minha experiência executiva no Conselho Consultivo e também com mentoria para as lideranças do instituto. Vida longa ao IC!

 

Francisco Deppermann Fortes

PAF

Essa é a história da Cleunice e da Melissa

Essa é a história da Melissa (5). Ela e sua mãe Cleunice chegaram ao PAF – Plano de Ação Familiar em novembro de 2019, encaminhadas pelo Hospital Santa Casa. Donas desses lindos sorrisos, Cleunica e Melissa compartilham e celebram todas as conquistas e mudanças que vêm acontecendo junto da família, composta também por Kevi (20) e Alice (18), desde o início dos atendimentos.

Todos eles têm um cuidado muito especial com a caçulinha e Cleunice se mostra sempre disposta a adquirir novos conhecimentos que auxiliem no desenvolvimento da Melissa, diagnosticada dentro do transtorno do espectro do autismo. Quando iniciaram sua jornada aqui no Instituto C, elas aguardavam uma vaga para acompanhamento no CAPS da Zona Norte e tinham pouco conhecimento sobre a rede de serviços e benefícios disponíveis. 

Em cada atendimento multidisciplinar, Cleunice tem se fortalecido, expandido seus conhecimentos sobre direitos sociais e aumentado o seu protagonismo. Sabemos que ainda existe um longo caminho a ser trilhado, por isso, mesmo durante a pandemia, continuamos em contato de forma virtual e, por meio de mensagens e ligações, seguimos trocando informações e muito afeto. 

PAFServiços IC

PAF ganha ainda mais força com novidades

Em outubro o PAF – Plano de Ação Familiar ganhou ainda mais força com algumas novidades que ampliarão a atuação da equipe técnica do projeto junto às famílias. A entrada de novos membros na equipe, novas parcerias e uma nova liderança para o projeto são algumas das conquistas que o PAF celebrou nas últimas semanas.

  

A primeira novidade diz respeito às parcerias com outras instituições da rede socioassistencial, como o Centro de Referência e Atendimento ao Imigrante (CRAI) e a Delegacia da Mulher do Bela Vista. “A parceria é um estreitamento de laços, tanto da gente conhecer mais do trabalho deles, como eles conhecerem mais do nosso trabalho. Fizemos algumas reuniões e aprendemos ainda mais sobre os serviços destes novos parceiros”, comentou Katia Moretti, responsável pelo projeto. Para ela, esta proximidade facilitará ainda mais o direcionamento das famílias, já que agora o projeto tem um contato direto dentro de cada um destes parceiros. “Atendemos algumas famílias que são imigrantes e agora poderemos fazer encaminhamentos direcionados, discussão de caso com a rede e um acompanhamento mais específico das demandas, dessa forma também orientamos melhor as famílias e ampliamos a sua rede de apoio.”

Algumas contratações e movimentações na equipe também ajudam a fortalecer o projeto, entre elas, a contratação de uma nutricionista, Ana Hummel, e uma nova Assistente Social, Karen Magri, completando assim o atendimento multidisciplinar característico do PAF. O projeto também está com uma nova liderança, Katia Moretti, responsável pela área de Educação Financeira há dois anos e que agora passará a liderar a equipe do PAF. “Estamos muito felizes e confiantes com essa decisão de ter a Katia como líder do projeto. Desde janeiro estávamos com esta posição em aberto e analisando com calma quem poderia encarar este desafio. Não poderíamos ter feito escolha melhor.”, comentou Vera Oliveira, Gerente Geral do Instituto C.

E não acaba por aí, durante o Grupo de Encerramento na última semana, a equipe técnica do PAF anunciou que ficará à disposição das famílias, que estão deixando o projeto, por telefone e whatsapp. Novidade que só foi possível por conta da pandemia que levou o projeto a fazer atendimentos virtuais. “Eu só tenho a agradecer mesmo por tudo, ainda mais agora que vocês deixaram a comunicação em aberto, qualquer coisa que precisar a gente pode mandar mensagem, eu acredito que eu vou mandar.” comentou Mislene, atendida pelo PAF desde 2018. 

“A importância de tudo isso é que conseguiremos qualificar ainda mais o nosso atendimento com as famílias.”, finalizou Katia.  

PAF

Emoções que se misturam no Grupo de Encerramento do PAF

“Já sinto saudade” foi a frase mais repetida pelas famílias durante o grupo de encerramento que aconteceu na última sexta-feira, 16 de outubro, na sede do Instituto C. “Este é um momento muito especial, muito importante e emocionante para todos nós. Eu estou aqui há um ano acompanhando essas famílias, então, para mim é uma alegria, ao mesmo tempo que o coração fica triste com este encerramento de ciclo.”, anunciou Nayara Oliveira, Psicóloga do projeto, na abertura do encontro.

Este foi o primeiro grupo de famílias a encerrarem a participação no projeto PAF – Plano de Ação Familiar desde que a pandemia teve início, então, a equipe técnica precisou usar a criatividade para garantir que o encontro tivesse a troca de afetos, tão comum neste momento. “Nós sabemos, pelos outros grupos de encerramento, que é um momento que nós temos muita vontade de trocar carinho em forma de abraço e infelizmente, agora, não podemos. O abraço, nós acreditamos, simboliza muitas coisas. Há pesquisas que mostram que podemos até nos curar por meio do abraço. Mais do que isso, é o encontro de dois corações, é um momento que dá contorno ao nosso corpo, quando a angústia extravasa o nosso corpo, mas poder encontrar uma outra pessoa que contorna, conforta e acolhe é muito importante. Sentimos muito por não poder dar esse abraço hoje, por isso, fizemos corações de papel e estimulamos as famílias a entregarem este afeto.”, explicou Nayara.      

Após a abertura, a equipe técnica do PAF fez a leitura das trajetórias de cada família, as quais se levantaram uma a uma para pegar o certificado de participação e uma carta com fotos e um texto parabenizando a jornada. O trabalho de toda a equipe técnica do PAF salta aos olhos neste momento de agradecimento. “Neste tempo, eu consegui me redescobrir como mãe, porque, assim, eu estava com aquelas crianças todas, sozinha, perdida, eu acabei me deixando de lado para cuidar deles. Eu consegui tirar um tempinho para me cuidar mais como mulher, porque eu já não me sentia mulher mais, consegui tempo, porque eu não tinha esse tempo.”, explicou Mislene Campos, mãe de cinco filhos, sendo quatro deles com necessidades especiais, e que contou com o auxílio da Psicóloga para isso desde janeiro de 2018. Conforto e cuidado também encontrados por Fernanda Moreira, mãe da Alice que entrou no projeto em junho de 2018. “Já tinha uns três anos que eu tomava remédio e medicamento para poder ter um ânimo, para poder me manter acordada para fazer as coisas, porque eu estava muito desanimada, passando por uma dificuldade psicológica. Hoje eu não tomo mais medicamento, estou há bastante tempo sem tomar e graças a toda conversa e orientação, hoje, eu consigo ser uma pessoa mais segura”.

Para Mislene, outra área importante nestes quase dois anos e meio de atendimentos foi o Serviço Social. “Eu sabia de alguns benefícios, mas não sabia de todos, mesmo os que eu sabia, eu não sabia como ir atrás e o Instituto C me auxiliou. Eu consegui os bilhetes, dar entrada no BPC de duas das crianças.”, comentou. Enquanto, Danuza Silva, mãe do Gabriel, que entrou no projeto em março de 2018, narrava os últimos encontros. “Consegui o passe livre, com a Assistente Social, para viajar com meu filho para visitar meus pais. Eles moram lá em Campo Grande, eu consegui viajar duas vezes, em janeiro e em julho. Eu estou conseguindo tentar o BPC”.

A área de Nutrição também teve papel fundamental na jornada de todas estas mulheres no Instituto C. “O Mateus tem Síndrome de Down e apresenta uma diarréia crônica. Aqui, com o apoio, com as ajudas que eu tive, eu consegui entender que eu não tinha que mudar a alimentação dele, eu tinha que mudar a alimentação da minha família, da minha casa e isso seria mais fácil para ele também. Aqui eu consegui entender que era desta forma que poderia acontecer. E através disso, eu consegui ver uma melhora muito grande no desenvolvimento do Matheus”, disse Mislene. Fernanda também percebeu a atenção e seriedade do trabalho. “Nós não tínhamos nem a dieta da Alice, não tinha nem o encaminhamento de dieta, nem nada, o pessoal da nutrição, a Jordana, me ajudou muito, tanto aos cuidados da Alice quanto aos cuidados da Jessica também, que com tudo isso ficou até esquecida, vamos dizer assim”.

 Felicidade e tristeza, emoções que se misturam entre todos os presente, mas elas reconhecem que é preciso seguir em frente e abrir possibilidades para que outras famílias ingressem no projeto e passem pela mesma transformação que elas passaram. “Hoje é o encerramento, vou sentir falta, vou sentir saudades. Fui muito bem recebida aqui”, disse Joana dos Santos Lima, que entrou no projeto em janeiro de 2019. Para Danuza, as mudanças representaram um crescimento importante. “A Danuza que entrou é uma Danuza que tinha um pouco de medo, mas que não tinha vergonha de se expor e correr atrás das coisas, tinha medo de não conseguir. Hoje eu sou uma Danuza diferente, eu sou uma Danuza que tem menos medo que eu tinha antes, eu estou muito feliz, cresci muito e aprendi muito com vocês, graças a Deus.”.

“Agradecemos a trajetória, a confiança das famílias no nosso trabalho, em partilhar histórias, medos, dificuldades, ao mesmo tempo, poder pedir e oferecer ajuda. Porque eu acredito que é uma troca, estamos aqui não só para oferecer cuidado, mas também somos cuidadas pelas famílias, aprendemos muito com todas  as famílias que passam pelo projeto.”, finalizou Nayara.

Ao todo 11 famílias encerraram sua participação no PAF, mas apenas 8 participaram do encontro presencial, são elas: Danuza Silva, Fernanda Moreira, Joana dos Santos, Mislene Campos, Fabiana de Jesus, Toil Vertu, Rosangela Maria de Oliveira, Maristela Gonçalves de Oliveira

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Artigo | Vera Oliveira e os 9 anos do Instituto C

O primeiro pensamento que vem a minha cabeça quando penso nos 9 anos do Instituto C, completados no dia 12 de outubro, é um famoso clichê “como o tempo passa rápido”.

Passou rápido demais, mas ainda quando fecho os olhos e respiro fundo,  volta a mesma angústia no peito que eu sentia toda vez que pensava que gostaria de trabalhar com alguma coisa que me trouxesse sentido, e que pelo menos o meu pedaço nesse mundão eu estaria contribuindo com a força do meu trabalho.

 Foi um período grande de busca por esse sentido, e valorizo muito cada uma das conversas, descobertas e pessoas especiais que me ajudaram a encontrar um caminho que faz todo o sentido pra mim.

 E desde esse dia que senti o “click”, toda a construção do Instituto C, as ideias iniciais, o início como uma franquia social da Associação Saúde Criança, a parceria com a Santa Casa para o encaminhamento das famílias, a espera muito ansiosa pelas primeiras famílias, imaginando qual seria a história delas, o que poderíamos fazer para auxiliá-las… são muitos momentos especiais dessa história transformadora.

 E nesses 9 anos que se passaram, desde o Dia das Crianças de 2011, o trabalho do Instituto C amadureceu, expandiu-se e fico emocionada quando penso que aquela inquietação e desejo de fazer o bem lá atrás se transformou em algo robusto e sólido.

 Nesse mês completamos 1.000 famílias atendidas por nós, no Instituto C. São 1.000 famílias que começaram a conhecer os seus direitos, passaram a acessar e ter conhecimento da rede socioassistencial e principalmente, que confiaram em nós, dividiram suas histórias conosco. Desenvolveram sua autonomia e passaram a ter mais qualidade de vida.

 Trabalhar com pessoas tão incríveis, sensíveis e motivadas, um time muito especial de colaboradores, nossos queridos conselheiros e voluntários, além de parceiros muito parceiros é o motor para que esse desejo profundo que começou a se concretizar dia 12/10/11 esteja cada vez mais vivo.

 Sou muito feliz em participar no dia a dia como uma pecinha dessa história. E desejo que o caminho do Instituto C seja abundante e potente e que a cada dia possamos trabalhar mais na direção das palavras que inspiraram o nome do Instituto C: as crianças, o cuidado e o cidadão.

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Pausa para avaliação no Educação em Rede

Fazer a devolutiva para as famílias atendidas pelo projeto Educação em Rede é sempre um momento importante para todos os envolvidos. O momento, que acontecia sempre ao final do ciclo, em anos anteriores, ganhou outros dois encontros em 2020.

 Realizar mais de um encontro com os pais e responsáveis foi uma mudança definida no final de 2019 para o projeto em 2020, isto porque, a equipe identificou que muitas informações importantes apareciam neste momento, mas por ser o final do ciclo, acabavam não sendo trabalhadas pelas técnicas nos atendimentos. “Ouvir os responsáveis contando sobre as mudanças notadas por eles durante os atendimentos, nos possibilita obter novas informações importantes que irão auxiliar o nosso trabalho como um todo.”, explicou Vanessa Gonçalves, Assistente Social do Educação em Rede.

 Outro ponto é que os responsáveis acabavam procurando as técnicas de Psicologia e Pedagogia, antes ou depois dos atendimentos com as crianças, para falar coisas que eles achavam relevantes. “Todos os projetos do Instituto C sempre tiveram como norte, atender a família como um todo, apesar da porta de entrada ser a criança e o adolescente. Nos moldes anteriores, os pais só tinham contato com a Assistente Social e as outras áreas apenas com a criança. Ficava uma divisão muito cristalizada e fazia com que deixássemos algumas lacunas, de demandas das famílias, em aberto.”, explicou Talita Lima, Analista do Educação em Rede. 

  “Eu tenho muito contato com os responsáveis e achei incrível a mudança que houve no projeto, trazendo este olhar para a escuta da família não somente ao final do ciclo, mas sim durante o seu percurso.” comentou Vanessa, que participou pela primeira vez das devolutivas coletivas para cada família. “Participar da devolutiva com as outras áreas do projeto, mesmo num lugar de escuta, me ajudou a compreender ainda mais as crianças e os adolescentes que estamos atendendo.”, acrescentou. Isso porque, normalmente, o papel do Serviço Social é ouvir a devolutiva da família avisando se conseguiu acessar o serviço ao qual foi encaminhado durante as orientações.

 Independente do momento, a equipe do projeto organiza as informações com todo o cuidado para garantir uma conversa assertiva com os responsáveis. “Na ocasião, a equipe técnica divide com os pais e mães o percurso e desafios encontrados nos atendimentos com seus filhos, mas também acaba aprendendo muito sobre a dinâmica de cada família, calibrando os próximos encontros.”, finalizou Mariana Benedetti, Psicóloga do Educação em Rede. 

 

PAFRodas de Conversa

Rodas de Conversa – Cuidado e Autocuidado

As Rodas de Conversa voltaram a acontecer no Instituto C depois de 5 meses e o primeiro assunto não podia ser diferente, Cuidado e Autocuidado. A Roda de Conversa é um dos momentos mais aguardados pelas famílias e pelos projetos, isso porque, a troca de experiências em conjunto acaba potencializando muito os avanços individuais. “Muitas transformações acontecem em conjunto, neste sentido, a Roda de Conversa é este espaço de troca e aprendizado horizontal. Mesmo com as singularidades, durante a Roda, nos sentimos parte de um todo e juntas conseguimos nos reconhecer e avançar nestes processos.”, comentou Nayara Oliveira, psicóloga do PAF.

A primeira Roda aconteceu virtualmente e as demais em pequenos grupos, formados por até 5 famílias, de forma a respeitar o distanciamento necessário na sede do Instituto C. “Percebemos que a roda virtual tem seus desafios, mas foi uma ótima experiência para as participantes, assim como no presencial, de compartilhamento das histórias comuns a todas as mães e responsáveis pelas famílias.”, explicou Nayara.

Gustavo Louver, que trabalha na área de Comunicação do Instituto C acompanhou uma dessas rodas em setembro e teve a oportunidade de conhecer um pouco mais das histórias da Tainá, Carlos, Jusivaldo e Manoucheca. “Fico muito feliz em estar de volta”, comentou Tainá minutos antes da atividade ser iniciada. 

Para começar, Katia Moretti, Analista do PAF, propôs aos participantes que falassem um pouco sobre Cuidado em dois momentos diferentes. “Gostaria que vocês falassem sobre quem cuidou de vocês na infância e de quem vocês cuidam hoje em dia.”. Para isto, ela colocou um pouco de hidratante nas mãos de cada um dos participantes, os quais deveriam massagear as próprias mãos enquanto falavam. “A ideia do hidratante é estimular uma percepção sobre o corpo e buscar, por meio da automassagem, um lugar de memória sobre o que é o cuidado”, explicou Kátia.

“Minha mãe nunca deixou faltar nada pra gente, apesar das dificuldades. Trocava mangaba por arroz em palha, pisava no pilão e fazia pra gente comer. Tenho o maior orgulho! Ela cuidava da gente no foice e na enxada, nunca faltou nada graças a Deus!”, comentou Carlos sobre os tempos de criança, quando ainda morava em Montezuma (nordeste de Minas Gerais). “Hoje, eu cuido dos meus filhos do mesmo jeito, mesma educação. Eu e minha companheira cuidamos um do outro.”, acrescentou na sequência.

Por fim, os participantes olharam por alguns segundos uma caixa fechada com um objeto dentro estimulados por Katia. Ao final, cada um pode falar um pouco sobre o que estava sentindo naquele momento e com aquela atividade. “Não sei se tem sentido com a atividade, mas lembrei da minha infância. No quintal da minha  mãe tinha um pé de tamboril. Juntava toda a molecada para brincar no pé da árvore, alí comíamos araça, roíamos o pequi e jogávamos a castanha fora. Queria criar meus filhos assim, mas hoje em dia aqui em São Paulo, é tão difícil deixar as crianças saírem na rua.”, comentou Carlos ao ver seu rosto refletido em um pequeno espelho dentro da caixa, objeto que disparou as reflexões e diálogos que ampliaram a questão do autocuidado, convidando o participante a olhar para si, suas marcas e trajetórias, sentimentos acolhidos carinhosamente pelo grupo.

PAF

Gestão do Conhecimento garante avanços importantes ao PAF

São vários os avanços e melhorias na metodologia do PAF – Plano de Ação Familiar desde o início da sua aplicação pelo Instituto C em 2011. Isso porque, a tecnologia social desenvolvida pela Associação Saúde Criança encontrou em São Paulo terreno fértil para diversas adaptações. “Conforme os anos foram passando e a equipe foi se renovando, incorporamos novas ideias no projeto. Além disso, ao longo dos anos, a realidade de cada uma  das famílias atendidas transformou o nosso olhar sobre alguns processos.”, comenta Vera Oliveira, Gerente Geral e Fundadora do Instituto C.

Para Vera, a rotina agitada da equipe por conta dos atendimentos diários, rodas de conversa e estudos de casos, fazia com que muitos destes avanços não fossem necessariamente aplicado todos. “Entendemos que era melhor parar e escrever tudo aquilo que nós tínhamos de ferramentas para que as pessoas pudessem consultar, tirar dúvidas, deixando de ser um conhecimento que passa de pessoa para pessoa.”. 

Para garantir a eficiência na circulação destas informações e do aprendizado nestes 9 anos, a equipe responsável pelo projeto arregaçou as mangas durante o isolamento social para colocar no papel (literalmente) um sonho antigo, criar um documento com os processos estruturados de forma a dar ainda mais agilidade ao trabalho. “Desde o ano passado, estamos pensando nisso, então, quando começou a quarentena, percebemos que este era um ótimo momento. Uma das tarefas durante o home office era elencar quais os treinamentos que cada uma das técnicas conseguiriam produzir e aplicar para o restante da equipe.”, acrescentou. 

O sonho virou realidade e o material que foi finalizado no mês de agosto, já serviu de base para a criação de treinamentos para as novas contratações do projeto. “O treinamento foi pensado para a chegada das novas colaboradoras, agora no segundo semestre. Quais são os critérios para uma família entrar no PAF? Como é que acontece a triagem? Como as famílias chegam até a gente? Como é que funciona a metodologia do PAF? Como funciona o Chaku (formato de atendimentos simultâneos que funcionam como um carrosel), porque acontece desse jeito? Como a gente faz a roda de conversa? Como são os estudos de caso, como são feitos, elaborados? Foram algumas das perguntas respondidas e formalizadas neste documento.”, finaliza Vera. 

Foto: Equipe do PAF durante treinamento virtual junto da Gerente Geral, Vera Oliveira.