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Meio ambiente e infância: precisamos falar sobre justiça climática

As mudanças climáticas têm afetado todo mundo, mas você já parou para pensar como elas têm afetado as crianças? 

O meio ambiente tem passado por momentos difíceis e que acendem um alerta, mas pouco se fala sobre o quanto as crianças são atingidas por tudo isso. Conforme os anos vão passando, elas têm que lidar com eventos extremos que afetam diretamente suas vidas. De acordo com o relatório Save the children, de 2021, as crianças que nasceram no início dessa década enfrentarão 6,8 vezes mais ondas de calor em relação às nascidas em 1960. E o reflexo disso já tem sido visto, por exemplo, no começo deste ano, quando o calor foi tão intenso a ponto de fechar escolas e dificultar o aprendizado dos alunos

Essa é somente uma das questões que são afetadas pelas mudanças climáticas, mas é possível citar uma lista de eventos que afetaram milhares de crianças em situação de vulnerabilidade social, como as enchentes no Rio Grande do Sul em 2024, por exemplo. 

O acesso à natureza também vem se perdendo ao longo dos anos. Com o crescimento da urbanização e das grandes cidades, os espaços verdes têm ficado cada vez mais escassos. É o que avalia também Maria Isabel, especialista em infância e natureza no Instituto Alana: “as casas foram ficando menores, o acesso aos espaços públicos foi diminuindo, foi ficando mais inseguro, foi ficando mais raro e as crianças foram perdendo essas oportunidades de brincar ao ar livre”.

Áreas da vida mais afetadas

O documento “A primeira infância no centro do enfrentamento da crise climática”, elaborado pelo Núcleo Ciência Pela Infância destaca algumas áreas que são as mais afetadas na vida das crianças devido à crise climática. O núcleo divide em sete impactos que as crianças podem sentir: perdas agrícolas e insegurança alimentar, aumento de doenças infecciosas e transmissíveis, perda de moradia e deslocamento forçado, exposição a contaminantes, morte precoce, acesso menor a educação de qualidade e cuidados com a saúde, estresse tóxico e prejuízos à saúde mental.

Além disso, o estudo ainda mostra que as crianças negras, indígenas e as que vivem nas regiões Norte e Nordeste são as mais afetadas pela crise climática e pela insegurança alimentar. Esse é um ponto que ilustra ainda mais as desigualdades estruturais e como elas afetam as pessoas em situação de vulnerabilidade sempre que há algo de errado com o mundo. 

Diante de todas as notícias que vemos diariamente envolvendo o meio ambiente, muitas crianças podem também se sentirem preocupadas com o futuro, desencadeando ansiedade. Assim como explica Maria Isabel: “muitas crianças já relatam ansiedade, preocupação e uma angústia muito grande. Tanto quando elas estão experienciando eventos extremos, quanto com todas as notícias às quais elas são expostas”. 

Educação ambiental

A educação ambiental é um dos direitos garantidos por lei para os cidadãos. Mesmo que a discussão sobre mudanças climáticas tenha tomado maiores proporções nos últimos anos, conforme vemos nos noticiários, em 1999 a Política Nacional de Educação Ambiental foi instituída, e tem como objetivo o desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos.

A educação ambiental também é parte importante do processo de preservação do meio ambiente, especialmente nos anos iniciais escolares, quando as crianças estão aprendendo a lidar com o mundo ao seu redor. Momentos de contato com a natureza, seja por meio de atividades ou no dia a dia são necessários para o desenvolvimento das crianças, de acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria.

“Essas experiências na infância são fundamentais para nutrir o sentimento de que a gente faz parte dessa grande cadeia de vida. E a gente precisa entender que os impactos que a gente vai ter na natureza dizem respeito à nossa sobrevivência”, explica a especialista do Instituto Alana. 

 

Por isso, é importante que as organizações e o Poder Público estejam atentos e fortaleçam iniciativas de proteção ao meio ambiente e educação ambiental.

Justiça climática e o papel do IC

Para o Instituto C, falar sobre o meio ambiente é também uma forma de buscar a justiça social e mais igualdade para as famílias. Durante os nossos atendimentos em grupo, esse é um tema que buscamos trazer e discutir coletivamente, para escutarmos e entendermos como as mudanças climáticas impactam diretamente a vida delas.

Renata Chiapetta, assistente social e técnica do instituto, explica que as crianças também podem ser agentes de transformação se dermos a elas e seus familiares conhecimento, ferramentas e apoio. E reforça a importância de garantir a justiça climática para pessoas em situação de vulnerabilidade social. 

“A justiça social e a justiça climática estão ligadas. Pois quando uma mãe precisa escolher entre comprar água ou comida para seus filhos, entre “salvar” móveis ou garantir a retirada de todas as crianças de um local, entre arriscar a enviar seus filhos para a escola que está com o teto comprometido, ou perder um benefício de transferência de renda, isso é um problema nosso”. 

 

Por isso, temos como papel fundamental reivindicar os direitos das famílias que já enfrentam diariamente as consequências das mudanças climáticas e, de acordo com Renata, já é possível identificar que as crianças são as mais afetadas. “Secas, enchentes, calor extremo e falta de alimentos não são “problemas do futuro”, são realidades que muitas das famílias que acompanhamos enfrentam hoje”, pontua. Dessa forma, políticas públicas para barrar essas consequências são mais do que necessárias.

O poder público como agente da mudança

Por meio da Política Nacional de Educação Ambiental, ficaram definidas algumas políticas públicas para garantir que os brasileiros tenham acesso à educação ambiental para construir, coletivamente, valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.

Hoje o Projeto de Lei 2225/2024, propõe a criação do Marco Legal Criança e Natureza, que dispõe de políticas e instrumentos para que todas as crianças e adolescentes possam conhecer, experimentar e criar um vínculo com a natureza. Essa é uma das iniciativas apoiadas por instituições de proteção à infância.

Mas, apesar disso, o Brasil ainda tem muito o que avançar. Maria Isabel analisa que as políticas públicas devem ir além da prevenção, e atuar também como uma base de adaptação às mudanças climáticas. Para ela, a escola tem um papel fundamental de suprir a carência das crianças em relação à natureza e também disseminar boas práticas relacionadas à adaptação climática. 

“A gente precisa adaptar as cidades às mudanças, porque as mudanças climáticas, elas não vão deixar de acontecer no curto prazo. O calor vai continuar chegando cada vez mais forte, a poluição, as chuvas. A gente precisa pensar em adaptação e as escolas podem estar no centro desse esforço”, ressalta. 

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Nutricionistas ajudam a tratar a seletividade alimentar em crianças com autismo

A seletividade alimentar é uma condição caracterizada pela aversão a uma grande quantidade de alimentos. É uma sintomatologia muito comum em pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), como mostra um estudo realizado pela Universidade de Marília, em São Paulo. Isso porque envolve uma questão sensorial, que é algo muito presente no espectro. Pessoas com autismo podem ter um padrão alimentar mais rígido, ou seja, comem sempre os mesmos alimentos, por isso a quebra na rotina com a inserção de novos grupos alimentares leva ao desconforto e rejeição.

Para as famílias que têm crianças com autismo, a seletividade é um desafio enfrentado diariamente, uma vez que elas preferem somente um tipo de alimento específico, e nem sempre são os mais saudáveis. Conversamos com a nutricionista Profa. Dra. Rosana Farah, especialista em transtornos alimentares, que falou um pouco mais sobre essa questão. “Para os autistas, o ideal seria que as coisas fossem sempre iguais, com a mesma forma e apresentação. Desta maneira, os alimentos “embalados” podem ser os preferidos, pois terão o mesmo cheiro, cor, textura e crocância”, pontua.

A nutricionista explica que o grau de seletividade e aversão alimentar pode ser desencadeado por atitudes comportamentais como: hipersensibilidade, experiências anteriores de engasgos, refluxo, alergias, além de questões nutricionais como deficiências de nutrientes, distúrbios gastrointestinais que agravam a falta de apetite.

O maior desafio, então, é entender como lidar com a seletividade da melhor forma possível, sem que a criança se sinta na obrigação de mudar os hábitos, mas de forma que a alimentação diversificada faça parte, aos poucos, da sua rotina. Nesse contexto, é essencial um trabalho multidisciplinar com nutricionista, médico, fonoaudiólogo e terapeuta ocupacional, que consigam quebrar as barreiras e acolher tanto a criança quanto a família.

A nutrição como pilar fundamental do tratamento

O papel dos nutricionistas nesse contexto de tratar a seletividade é muito importante para uma reeducação alimentar e a inserção de alimentos saudáveis na dieta da criança ou do adolescente. Quanto mais a criança restringir a variedade de grupos de alimentos, aumentam as chances de repercussões clínicas, que podem resultar em deficiências nutricionais, como sobrepeso e obesidade. Além disso, sem o tratamento adequado, podem acontecer diversos prejuízos nutricionais como a falta de vitaminas e minerais, além da perda dos dentes e problemas intestinais.

O processo de avaliação feito pelo nutricionista deve ser personalizado de acordo com as especificidades de cada caso. De acordo com a especialista, uma avaliação nunca é única, e ela deve ser construída a partir de uma relação de confiança com a criança e seus familiares ou cuidadores. Além da análise de peso e altura, no início da abordagem também é preciso entender como funcionam as dinâmicas familiares e a relação da criança com os alimentos.

A Profa. Rosana destaca a importância de compreender o padrão dos alimentos que a criança aceita e quais características em comum como cor, consistência e textura existem entre eles. A partir disso, é possível começar a incluir novos alimentos de forma gradativa, de acordo com o ritmo da criança.

Uma das abordagens é utilizar técnicas de encadeamento alimentar, que se baseia nos alimentos que a criança gosta, para assim apresentar novas opções que sejam parecidas com eles, seja na cor, textura ou grupo alimentar. Um exemplo dessa abordagem é substituir os alimentos industrializados, como por exemplo batata frita por  a batata frita caseira.

O papel da família no processo de reeducação alimentar

A família tem um papel fundamental na construção da diversidade alimentar da criança, pois participa diariamente do momento das refeições e, por isso, deve tentar ressignificar estes momentos trazendo tranquilidade para que as crianças se sintam confortáveis e instigadas a experimentar novos sabores.

A especialista ressalta que “a família deve ser tratada, pois o estresse e o cansaço emocional, assim como a culpa e as cobranças são muito frequentes. É preciso orientar e ajudar as famílias a adquirirem um novo hábito para acabar com ciclos viciosos”.

O trabalho do IC na educação nutricional

Por isso, o suporte oferecido por organizações como o Instituto C é primordial para que a família dê o primeiro passo em direção à resolução desse problema. Aqui, nossas técnicas da área atuam dentro da nutrição social, com atendimentos clínicos pontuais somente em situações extremas. O nosso foco é na educação nutricional, com orientações para que as famílias consigam lidar da melhor forma com a seletividade. 

A seletividade alimentar é a maior demanda trazida para a nutrição entre as mães com crianças dentro do TEA, é o que conta a Raquel Kanup, nutricionista do Instituto C.

Raquel explica que a seletividade alimentar deve ser tratada também em um trabalho conjunto por meio de políticas públicas de promoção à saúde. E é nesse sentido que o instituto atua como um intermediador. “Se a família residir em São Paulo, e a criança com seletividade também tiver o diagnóstico de TEA, oriento sobre a possibilidade de solicitar à nutricionista da UBS o encaminhamento para o serviço especializado no tratamento da seletividade alimentar dentro do TEA (o Instituto PENSI)”, diz.

Além disso, segundo a nutricionista, quando há seletividade, algumas crianças não conseguem permanecer o período completo na escola por não se alimentarem na instituição. Nesses casos, quando ela não tem acesso ao tratamento adequado e, por isso, não tem a alimentação escolar adaptada, a nutricionista marca um atendimento com a família para realização de um relatório com pedido de adequação da alimentação, que deve ser encaminhado para a escola ou para o setor de alimentação escolar do município, para uma adaptação na alimentação.

Tratar a seletividade alimentar com um acompanhamento multidisciplinar é o que aumentam as chances das crianças passarem por esse processo de introdução de novos alimentos de uma forma mais tranquila e adequada. Dessa forma, queremos ajudar ainda mais famílias atendidas a superar a seletividade alimentar, já que boa parte delas tem crianças com autismo. 

Para isso, buscamos nutricionistas voluntários para se juntar a nossa equipe e atuar conosco tratando essa questão que é tão presente no nosso dia a dia de trabalho. Esse profissional estará com a gente em um trabalho que vai contribuir para mudar a realidade de muitas crianças. Clique aqui para saber mais!

**Esse artigo foi construído com o apoio de Raquel Kanup, nutricionista do Instituto C e Rosana Farah, professora, doutora e especialista em transtornos alimentares.

Alimentação

Alerta na alimentação infantil: ultraprocessados podem afetar a saúde das crianças

Alimentos ultraprocessados têm se mostrado muito presentes nas mesas das famílias em situação de vulnerabilidade social, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social. Quando falamos sobre alimentação, os alimentos saudáveis estão sempre em pauta, especialmente porque favorecem a saúde de todas as pessoas, mas o acesso a esse tipo de alimentação ainda pode ser limitado, especialmente por questões como a escassez de tempo, facilidade no consumo de ultraprocessados e desigualdade de acesso à informação. 

De acordo com um estudo feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 8 em cada 10 brasileiros vivem em centros urbanos, sendo que 16 milhões residem em favelas e periferias, locais esses onde se concentram os “pântanos alimentares”. Os pântanos alimentares são lugares onde predominam estabelecimentos que vendem alimentos ultraprocessados como pequenos comércios e mercadinhos de bairro, e as pessoas precisam percorrer mais de 15 minutos para encontrar estabelecimentos com alimentos saudáveis, dificultando assim o acesso a eles. 

Na região Sudeste, a maior parte da população está concentrada em lugares como esse. É o que diz o estudo feito pelo governo em parceria com a USP e publicado na Plataforma Alimenta Cidades, onde os dados mostram que cerca de 15 milhões de pessoas vivem em pântanos alimentares no Brasil, sendo mais da metade somente na região Sudeste. Esse contexto de escassez de alimentos saudáveis pode resultar também em insegurança alimentar, que é quando uma pessoa não tem acesso regular a alimentos de qualidade para se manter saudável. 

O que são alimentos ultraprocessados?

Foto: CEE Fiocruz

Os alimentos ultraprocessados podem ser definidos de diferentes formas, mas a principal delas é de que são aqueles que, no geral, contém muitos ingredientes que não são usados na culinária caseira, como aditivos químicos e aromatizantes. Eles ainda passam por várias etapas de processamento e geralmente possuem alta densidade calórica e pouco valor nutricional, com muitos açúcares, gorduras e sal. 

Alimentos como biscoitos, salgadinhos, macarrão instantâneo, salsicha e refrigerantes, são alguns exemplos de ultraprocessados. Não precisam ser tratados como vilões, mas se consumidos em alta quantidade, podem resultar em doenças crônicas não transmissíveis. 

Alto consumo de ultraprocessados na infância

Se o consumo de ultraprocessados pode impactar a vida de adultos, para as crianças é ainda mais perigoso. É na infância que alguns hábitos começam a ser moldados, e na alimentação não é diferente. Doenças como diabetes, hipertensão e obesidade podem ser desencadeadas pelo consumo desses alimentos ricos em gordura e açúcares. 

Raquel Kanup, nutricionista do Instituto C no Polo Centro, explica que esses são ingredientes que, em excesso, trazem prejuízos para a saúde, tanto no desenvolvimento de hipertensão, diabetes, colesterol alto e aumento das gorduras no corpo. “Esses alimentos muito ricos em tanto aditivos químicos como gordura, sal e açúcar, vão mexendo com nosso metabolismo no geral”, complementa.

Quanto mais cedo uma criança inserir esses alimentos no dia a dia, maiores são os riscos. “Uma criança que é apresentada desde cedo [a esses alimentos], além dela não conseguir tão facilmente incluir vegetais, frutas e legumes, também corre o maior risco de ter essas doenças e, principalmente, desenvolver uma doença cardiovascular”, explica Natalia Tanan, nutricionista do Polo Zona Norte. 

Uma ferramenta interessante para ajudar as crianças e jovens a entender melhor sobre alimentação é o Pratinho Firmeza, produzido pela Énois Conteúdo. É um guia que, por meio de uma linguagem simples e descomplicada, apresenta o tema com ilustrações e diálogos necessários. O personagem Ayo, que ilustra a história, mergulha em uma série de reflexões sobre o direito à alimentação saudável na infância e juventude, auxiliando na construção de uma conversa mais profunda sobre o assunto. 

Políticas públicas de alimentação 

Além do apoio de profissionais, as políticas públicas também são importantes para que a população não sofra de insegurança alimentar nutricional. São essas ações do poder público que garantem o consumo de alimentos saudáveis, e podem ser feitas por meio da regulamentação de publicidades, rotulagem acessível e promoção da agricultura local, por exemplo.

Hoje, já existem alguns meios que foram criados para fortalecer uma alimentação saudável com alimentos que devem estar na mesa dos brasileiros. Assim como o Guia Alimentar Para a População Brasileira, que foi criado pelo Ministério da Saúde para instruir sobre os alimentos que todos devem consumir para garantir uma melhor qualidade de vida.

Na cidade de São Paulo, também é possível encontrar espaços chamados de Armazém Solidário, que fazem parte de um programa criado em 2024 e financiado pelo Fundo de Abastecimento Alimentar de São Paulo (FAASP). A iniciativa tem como foco oferecer itens para uma alimentação saudável com preços mais acessíveis para famílias em situação de vulnerabilidade social cadastradas no CadÚnico. No site da Secretaria de Direitos Humanos, é possível encontrar os endereços e mais informações sobre abastecimento e segurança alimentar.

Além disso, a alimentação nas escolas também é um pilar importante para favorecer a saúde das crianças desde a primeira infância. O Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) é o que regulamenta a merenda nas escolas, com tópicos que abordam a redução de ultraprocessados e o aumento de alimentos in natura. Apesar da legislação, o país ainda encontra barreiras para seguir com a alimentação saudável nas escolas. “Uma criança que desde que começou a comer consome frutas, verduras e legumes todo dia, tem uma chance muito maior de continuar consumindo esses alimentos no decorrer da vida. E infelizmente hoje a gente vê até cidades aqui na região metropolitana que oferecem ultraprocessados na merenda”, conta Raquel.

Instituto C no apoio à alimentação saudável

No Instituto C, a equipe cuida diariamente da alimentação de diversas famílias que buscam melhorar os hábitos alimentares. O assunto é abordado tanto durante as rodas de conversa, onde a nutricionista, junto com as famílias, lê os rótulos e analisa quais ingredientes são usados nos alimentos, para assim refletir sobre os ultraprocessados e mudar hábitos, quanto nos atendimentos individuais, onde a abordagem é personalizada para cada caso e, a partir disso, buscam caminhos para mudanças de acordo com a realidade das famílias. 

“É importante, apesar de tudo isso, a gente entender que é uma batalha muito mais para diminuir as liberdades da indústria e informar as pessoas. Eu posso escolher se eu vou comer o bolo feito em casa ou o bolo comprado, porque eu tenho a informação”, explica Raquel.

Natalia também conta que algumas famílias podem ter mais resistência à mudança de hábitos, especialmente quando se fala em valores, já que os ultraprocessados tendem a ser mais baratos do que alimentos saudáveis, mas é possível buscar um equilíbrio. “Eu começo sempre muito mais neutra, mais calma, dou autonomia. E quando eu vejo que a família é um pouco mais resistente, tenho que começar a colocar algumas metas e objetivos”, explica a nutricionista sobre a abordagem.

O Instituto C também realiza doações de cestas básicas e leite para fortalecer as famílias e garantir uma alimentação mais adequada. A partir desse mês estaremos sem o apoio do nosso principal financiador para doações de leite em pó, por isso reforçamos a importância da sua ajuda para garantir a entrega para as famílias. Veja mais e saiba como ajudar na alimentação das crianças do IC!

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Acesso à direitos fortalece a autonomia e o desenvolvimento das crianças com autismo

O mês de abril é marcado pela conscientização do autismo, luta que revela a importância de se discutir os direitos das pessoas com autismo, a busca por autonomia e uma sociedade mais inclusiva. Ter um mês dedicado a essa conscientização é também uma forma de dar voz para as famílias com crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e ajudar a conduzir a história delas depois do diagnóstico.

O TEA afeta o desenvolvimento neurológico e pode impactar na organização de pensamentos, sentimentos e emoções, o que reflete diretamente no dia a dia de quem tem essa neuro divergência. De acordo com a Biblioteca Virtual do Ministério da Saúde, o transtorno pode ser classificado em três tipos, autismo clássico, de alto desempenho (síndrome de Asperger) e distúrbio global do desenvolvimento sem outra especificação (DGD-SOE), sendo que em cada um deles a pessoa pode apresentar características diferentes em relação a interação social, fala e desenvolvimento neurológico.

Nos três tipos, o tratamento fica mais acessível quando descoberto na infância e, assim, a busca por direitos pode começar a ter um caminho trilhado. Katia Moretti, coordenadora do Polo Centro do Instituto C, reforça a importância de um mês dedicado a essa temática:

“A conscientização sobre o autismo é fundamental para dar visibilidade à causa e promover uma compreensão mais profunda das necessidades e desafios enfrentados por essas crianças e suas famílias”.


Direitos das pessoas com autismo

Alguns direitos das pessoas com autismo ainda podem ser desconhecidos, por isso destacamos aqui aqueles que ajudam as famílias a ter mais autonomia e oferecer uma infância digna para as crianças, com inclusão e respeito. Direitos básicos como o acesso à escola e ao transporte são importantes, mas existem muitos outros que englobam todo o dia a dia do autista e estão presentes no Manual dos Direitos da Pessoa com Autismo, desenvolvido pela Escola do Parlamento para guiar as famílias. Confira:

Educação: acompanhante especializado e ensino individualizado

Dependendo da necessidade de cada aluno e com comprovação médica, é possível ter um acompanhante especializado em sala de aula, de acordo com a Lei 12.764/2012. Outro tópico previsto em lei é a educação individualizada de acordo com as particularidades de cada um, sendo assim o PEI – Plano de ensino Individualizado é um direito de todas as pessoas com autismo.

Saúde: atendimento integral e medicamentos 

As pessoas com autismo tem o direito ao atendimento médico integral, incluindo diagnósticos, tratamentos e acompanhamento adequado com prioridade, de acordo com o Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei 13.146/2015). O direito ao fornecimento de medicamentos pelo SUS também se aplica às pessoas com autismo que necessitam de remédios específicos.

Mobilidade: gratuidade e vaga especial

No transporte, as pessoas com autismo têm direitos que fazem com que a mobilidade no dia a dia seja mais adequada. Na cidade de São Paulo a gratuidade dos ônibus, trens e metrôs é garantida para todas as pessoas com deficiência com o Bilhete Único especial, que pode ser solicitado no site da SPTrans. Além disso, também é possível utilizar a vaga especial em estacionamentos, com o cartão de estacionamento DeFis, que garante a comprovação quando a pessoa com deficiência estiver no veículo.

Lazer: meia entrada e sessões de cinema adaptadas

Os momentos de lazer são essenciais para o desenvolvimento das crianças com autismo, por isso a meia entrada é válida independentemente da renda, em espaços culturais e esportivos. Em São Paulo, desde 2020 a Lei Nº 17.272 exige que os cinemas ofereçam sessões adaptadas com luzes levemente acesas, volume mais baixo que habitual e sem a veiculação de publicidade comercial para evitar transtornos.

Identificação: CIPTEA

O autismo não é uma deficiência que reflete na aparência das crianças, por isso é importante que ela tenha sua identificação para usá-la quando necessário. A Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (CIPTEA) é um documento oficial usado para facilitar a identificação da pessoa com TEA nos serviços públicos e privados em todo o território paulista. Ela pode ser emitida tanto de forma online quanto nos postos de atendimento do Poupatempo.

Apesar das pessoas com autismo terem leis que assegurem seus direitos, ainda há muitas barreiras que impedem que elas consigam usufruir deles. Um grande exemplo disso é que muitos sistemas são acessados via internet, e nem todos têm acesso ou conhecimento necessário para conseguir fazer solicitações ou anexar documentos.

Alguns órgãos públicos também não são fáceis de acessar, devido aos atendimentos que são burocráticos, muitas vezes por conta do grande volume de informações diversas. Mas as mães atípicas costumam ser combativas e estão cada vez mais cientes do que elas devem cobrar do poder público, e contam com redes como o Instituto C nessa missão.

Trabalho do IC na garantia de direitos

No Instituto C, cerca de 37% do público infantil atendido são crianças com autismo, por isso o trabalho é apoiar as famílias na garantia de seus direitos, assegurando o acesso aos serviços previstos em lei para todas as crianças atendidas, e fortalecendo também o papel das mães. Com trabalho multidisciplinar, o IC realiza atendimentos com profissionais que ajudam nas diferentes necessidades das famílias. Como a nutrição, que aborda a alimentação saudável e seletividade alimentar, a geração de renda para auxiliar na busca por oportunidades de emprego e o apoio psicossocial nos cuidados com a saúde mental.

O instituto atua direcionando as famílias para a conquista de direitos essenciais para que as pessoas com TEA possam alcançar a autonomia e uma vida plena. No entanto, essa realidade ainda está distante para muitas famílias, especialmente aquelas que não têm acesso às ferramentas necessárias para reivindicar seus direitos.

Dessa forma, a equipe técnica atua como uma porta de entrada para o conhecimento. A partir de uma primeira abordagem, nossas assistentes sociais buscam entender quais são as necessidades de cada família, para guiá-las de acordo com o que elas precisam. Franciele Fernandes, assistente social do IC, conta que a maior parte das demandas das famílias estão atreladas ao acesso à saúde e à educação, por isso ela explica onde podem ser encontrados os serviços demandados ou até faz o contato direto com os equipamentos públicos.

Ela destaca como um direito essencial o Benefício de Prestação Continuada (BPC), que garante às famílias de baixa renda com crianças com deficiência um auxílio financeiro que ajuda a cobrir necessidades básicas, como alimentação. “A criança que não se alimenta bem não consegue se desenvolver, não consegue focar”, pontua Franciele, reforçando a importância de apoios desse tipo.

Outra demanda trazida pelas famílias do IC é a inclusão escolar, especialmente nos primeiros anos, como conta Lualinda Toledo, pedagoga do Instituto. “A gente precisa ter o cuidado de entender que a educação tem essa prerrogativa de identificar se essa criança é ou não uma criança de escola regular ou escola especializada”, pontua a profissional.

Mães atípicas que inspiram  

Samanta hoje é estagiária de serviço social no Instituto, mas ela chegou com sua família em busca de orientação e de uma rede de apoio. Mãe solo de dois meninos com autismo, ela relata que a maternidade atípica mudou completamente sua forma de vida, que passou a permear todas as dificuldades enfrentadas pela família.

No Instituto, ela encontrou um espaço para trocar experiências e fortalecer outras mães. “Eu vejo que é uma troca. A gente aprende com o conhecimento que as técnicas têm, mas elas também se alimentam muito das experiências das próprias mães”, diz Samanta sobre o trabalho das técnicas.

“O instituto ajuda a gente a abrir portas. Portas que as pessoas fecharam, mantém fechada e às vezes colocam até uma chave. Eles ajudam a potencializar o contato da família com seu território”.

Além do trabalho em conjunto com o Instituto C, Samanta também mobiliza um grupo de apoio às famílias de crianças com autismo e atípicas da Cidade Tiradentes, bairro onde mora. No “Fact Corações Azuis”, muitas mães compartilham as demandas e também as dificuldades que enfrentam na busca pelos direitos dos filhos, mas se fortalecem e encontram ali uma rede de apoio que faz com que elas se sintam acolhidas e mais fortes.

Ela conta que buscar os direitos dos filhos também a incentivou a buscar conhecimento para conseguir lidar com os diferentes serviços, por isso a vontade de ser assistente social. E ainda fala que esse aprendizado se estende também para outras mães durante as conversas, quando elas compartilham as experiências e se empoderam. “Quando você fala e se posiciona, você se torna uma potência. Porque dependendo do que você fala, desperta as pessoas que não sabem ou que não tem acesso e que estão passando por uma situação”, pontua.

Ajude o IC

Assim como a família da Samanta, muitas outras são beneficiadas pelo trabalho do IC e passam a conhecer seus direitos com a ajuda da nossa equipe técnica. A partir dos atendimentos, são trilhados caminhos que  garantem uma maior qualidade de vida para todos, favorecendo especialmente o desenvolvimento das crianças.

Existem diferentes formas de contribuir com o trabalho do Instituto, seja por meio de doações ou até mesmo sendo um voluntário e auxiliando no trabalho em áreas como montagem e distribuição de benefícios, brinquedoteca, atendimentos, psicoterapia para as famílias assistidas e no programa nota fiscal paulista.

A nossa campanha de doação pelo Imposto de Renda já começou, e essa é uma forma de doar facilmente para o IC. Você pode destinar ao Instituto C até 3% do valor devido e, dessa forma, transformar a história de centenas de crianças e adolescentes.

Esse valor será destinado ao Polo Zona Norte, onde as famílias em situação de vulnerabilidade social são acolhidas por uma equipe multidisciplinar e, a partir dos atendimentos, rompem ciclos de pobreza e conquistam uma vida com mais dignidade e autonomia.

Apoie o Instituto C e ajude a fazer a diferença na vida de centenas de crianças! Fale conosco que te ajudamos em todo o processo, clique aqui.

Texto: Kethilyn Mieza