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Serviços IC

Rede socioassistencial: articulação dos equipamentos públicos com o terceiro setor fortalece os territórios

A garantia dos direitos sociais começa a partir das informações recebidas por cada pessoa, e isso está fortemente relacionado ao território ao qual ela pertence. São nesses lugares onde as pessoas enfrentam os desafios do dia a dia, constroem vínculos e também onde devem encontrar o apoio necessário para superar situações de vulnerabilidade. O Instituto C entende que a articulação entre a rede socioassistencial dos territórios é o que fortalece as famílias com orientações e atendimentos adequados. 

É importante entendermos que nenhum serviço atua sozinho e precisamos dessa integração para saber como orientar cada pessoa atendida de acordo com as necessidades delas e com o equipamento que pode atendê-la. Na Zona Norte, onde fica localizado um dos nossos polos, podemos ver na prática como isso funciona e tem feito a diferença. 

Na região da Brasilândia, o bairro mais populoso da Zona Norte, os reflexos da desigualdade e vulnerabilidade estão muito presentes, por isso o conjunto de CRAS, CREAS, UBSs, UPAs e organizações da sociedade civil trabalham coletivamente para suprir algumas demandas dos moradores. Afinal, todos têm um objetivo em comum:  garantir proteção social, saúde, inclusão e dignidade para as pessoas. 

Troca de experiências e aprendizado coletivo

A reunião de rede é um dos momentos de articulação entre os equipamentos e organizações, que possibilita discussões e reflexões importantes sobre temáticas que transpassam pelo trabalho dos agentes. Em uma das reuniões, que aconteceu no Instituto C em agosto, representantes de diversos equipamentos estiveram presentes, como Rogério Andrade, do Centro de Cidadania LGBTI+ Luana Barbosa dos Reis, que atende vítimas de LGBTfobia ou em vulnerabilidade.

Rogério refletiu sobre a importância de falar sobre as vivências em cada um dos equipamentos e como isso ajuda toda a rede a lidar com as demandas nos atendimentos: “as dores são muito similares nos diferentes equipamentos. É bom pensar quais estratégias podem ser compartilhadas no intuito de entender o que funciona no meu serviço que pode auxiliar os outros equipamentos a conduzirem as situações”.

Outra instituição que faz parte da rede e trabalha com os jovens é a Espro. O Luciano Duarte é articulador social e fala sobre esse momento de troca de experiências. “A articulação na rede é justamente pra gente fazer um trabalho coletivo com as famílias. E aí a gente vai conseguir mudar a realidade deles”, explica.

A potência da rede está, justamente, na forma como esses serviços dialogam. No Instituto C uma das nossas principais formas de guiar as famílias para a autonomia é fazendo com que elas tenham informação e conheçam os próprios direitos. E fazemos isso também por meio de encaminhamento para os serviços que trabalham as questões trazidas por elas. 

Construindo a relação de cuidado 

No Instituto C, a partir das nossas experiências, entendemos que a mudança social começa pela escuta e pelo acolhimento, para identificar demandas e articular com a rede executora das políticas públicas. Por isso, a integração entre os equipamentos não é apenas uma exigência técnica do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), mas também uma necessidade para que as políticas públicas estejam integradas e sejam efetivas na vida das pessoas.

“Quando nos abrimos para ouvir as pessoas, compreendemos suas histórias e necessidades. Por isso, o trabalho em rede com os equipamentos é um dos nossos pilares, porque, no fim, são essas conexões que permitem que as políticas públicas se tornem caminhos reais de transformação na vida de quem mais precisas”, explica Katia Moretti, gerente de projetos do IC.

No dia a dia de trabalho da nossa equipe técnica, eles conseguem notar a relevância de olhar para a rede de forma colaborativa. A Suellen Claudino, psicóloga do instituto, explica que quando a gente consegue trabalhar em conjunto, entrar em contato com o CRAS, com a UBS, com a escola e com os outros serviços de assistência, conseguimos nos tornar uma referência no território e o trabalho com a família fica muito mais eficaz.

Além disso, essa articulação coletiva e a escuta atenciosa também é o que ajuda a quebrar alguns medos e receios que as pessoas têm ao acessar os equipamentos. “As famílias, ao serem encaminhadas para os serviços de assistência, nem sempre são bem acolhidas, o que acaba criando uma espécie de barreira. Quando isso acontece, nosso papel é acompanhar essa família, orientar e dizer ‘pode ir lá, é um lugar seguro. Você será acolhida, será fortalecida, e nós estaremos trabalhando juntos’”, conta Suellen.

Quando CRAS, CREAS, CAPS, UBS, escolas, coletivos e lideranças locais se olham como parte de uma rede dinâmica e colaborativa, é possível construir caminhos mais efetivos para a proteção das famílias em situação de vulnerabilidade social. As mudanças só acontecem realmente quando são feitas em conjunto com o poder público, com a sociedade civil, e com a participação ativa de quem vive o território todos os dias.

Direitos

35 anos do SUS: referência no mundo, o sistema levou o direito à saúde para toda a população do Brasil 

Uma das políticas públicas que mais trazem orgulho para os brasileiros completa hoje 35 anos: o SUS. O Sistema Único de Saúde (SUS) é um dos maiores e mais complexos sistemas de saúde pública do mundo, e por meio dele os cidadãos que vivem no Brasil podem ter acesso à atenção integral à saúde, desde a gestação e ao longo de toda a vida.

Antes do SUS, a saúde ainda não era tratada como um direito de todos, e o sistema de saúde brasileiro não chegava a toda a população, excluindo uma parcela significativa dela. O acesso era limitado principalmente às pessoas que trabalhavam com carteira assinada, por meio do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS). Quem não contribuía para a previdência tinha acesso muito restrito à saúde, sendo feito por meio de entidades filantrópicas.

Foi somente a partir do início da redemocratização e da Constituição de 1988 que passou-se a olhar a saúde com a importância devida. O artigo 196 da Constituição diz que “A saúde é direito de todos e dever do Estado”, e esse momento foi um marco importante para que, pouco tempo depois, criassem um sistema público e gratuito de saúde, agora para toda a população. 

Princípios e funcionamento do SUS

Oficialmente, o SUS foi criado em 1990, por meio das Leis nº 8.080 e 8.142, conhecidas como Leis Orgânicas da Saúde, que estabeleceram as diretrizes e a estrutura do sistema. Atualmente, o sistema conta com três órgãos que garantem o funcionamento para a população.

O Ministério da Saúde é gestor nacional que formula, normatiza, fiscaliza, monitora e avalia políticas e ações, em articulação com o Conselho Nacional de Saúde; a Secretaria Estadual de Saúde participa da formulação das políticas e ações de saúde, presta apoio aos municípios em articulação com o conselho estadual; e a Secretaria Municipal de Saúde articula com o conselho municipal e a esfera estadual para aprovar e implantar o plano municipal de saúde.

Além disso, três princípios são a base do SUS:

Universalização: a saúde como um direito de cidadania a todas as pessoas, sendo um dever do Estado assegurar esse direito. O acesso aos serviços também deve ser garantido a todas as pessoas, independentemente do sexo, raça ou outras características pessoais ou sociais. 

Equidade: mesmo que o acesso à saúde seja assegurado a todas as pessoas, elas não são iguais e, por esse motivo, precisam de atendimentos distintos, de acordo com a necessidade de cada uma. Ou seja, esse princípio leva em conta diminuir as desigualdades, tratando adequadamente as pessoas que precisam de cuidados especiais.

Integralidade: a integração entre ações como a promoção da saúde, prevenção de doenças, tratamento e reabilitação é o que favorece a população para que ela tenha uma vida mais saudável. Esse princípio se trata da articulação da rede com outras políticas públicas de diferentes áreas para a qualidade de vida dos indivíduos. 

Conquistas do SUS ao longo dos anos  

Considerado um dos melhores e mais completos sistemas de saúde do mundo, o SUS se destaca em diferentes frentes de atuação que fazem o Brasil ser referência. Como por exemplo a execução do Programa Nacional de Imunizações (PNI), que oferece vacinas gratuitas e em larga escala para eliminar ou controlar doenças como poliomielite, sarampo, difteria e tétano, entre tantas outras que já foram motivo de preocupação no país. 

Outros destaques do SUS são a distribuição gratuita de diversos medicamentos, até mesmo de alto custo. O tratamento para HIV/AIDS e doenças crônicas como diabetes e hipertensão também é disponibilizado para a população. 

Um grande exemplo de prevenção e acompanhamento contínuo que dão resultado é a Estratégia de Saúde da Família (ESF), que atua em modelo de atenção básica. Isso é considerado, também, por profissionais que atendem as pessoas que acessam esses serviços, como a Giovana Santos, assistente social do Instituto C, que considera a ESF um programa de referência. 

“A estratégia de saúde da família tem várias funções como atenção integral e personalizada. Então, ela cuida da saúde da população considerando os aspectos sociais, físicos, emocionais, e não a doença em si. Por meio da promoção da saúde e prevenção de doenças, a Estratégia Saúde da Família visa realizar ações no sentido pedagógico, mesmo em saúde, dentro dos territórios”, ressalta Giovana. 

A Beatriz Martins, nutricionista do Instituto, destaca também o trabalho das equipes nessa frente de atuação: “as equipes atuam de uma forma integrada e isso promove uma ampliação de acesso e fortalece a proximidade e vínculo das famílias com as unidades de saúde. Então, é uma política de grande sucesso”.

Serviços do SUS pouco conhecidos

Além dos serviços direcionados a população que são de conhecimento geral, como a atenção primária nas UBSs ou o pronto atendimento nas UPAs, o SUS também está presente em áreas que fazem parte da vida dos brasileiros. Uma delas é a vigilância sanitária, que é feita por meio do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS), que fiscaliza produtos, serviços e ambientes para prevenir riscos à saúde.

Para quem não consegue se locomover até um equipamento de saúde, o SUS tem o programa “Melhor em Casa”, que leva uma equipe à casa dos pacientes. Para acessá-lo, precisa ser indicado por outra equipe da Rede de Atenção à Saúde (RAS), seja do hospital, da Atenção Primária à Saúde (APS) ou da Urgência.

A reabilitação de pacientes também é algo que faz parte do SUS, que oferece próteses, cadeiras de rodas e outros recursos para pessoas com deficiência. Além disso, ele mantém Centros Especializados de Reabilitação (CER), que contam com acompanhamento multiprofissional. Para ter acesso, o paciente deve procurar uma UBS.

Desafios do Sistema

Apesar de todo reconhecimento merecido, o SUS ainda enfrenta muitos desafios, que passam principalmente pela gestão do poder público e pela má administração dos recursos na área da saúde. Isso afeta diretamente todos que precisam dos serviços e, muitas vezes, se deparam com longas esperas ou barreiras de acesso. 

Para a Giovana, o cuidado com a saúde como prevenção é mais eficiente quando falamos do Sistema Público: “se o recurso público destinado ao SUS focasse no cuidado, prevenção e promoção à saúde, menos pessoas ficariam doentes e ficariam hospitalizadas ou precisariam de exames e medicações caras”, reflete. 

A localização também é uma das barreiras que impedem as pessoas de conseguir alguns tipos de atendimento, isso porque muitos hospitais e tratamentos mais complexos ficam localizados nas grandes cidades. “Algumas populações que vivem em regiões mais distantes e mais afastadas dos centros, têm uma dificuldade de acesso a esses serviços. E também as capitais mais ricas têm um acesso mais rápido, mais abrangente”, explica Beatriz. 

É nesse contexto de difícil acesso que as organizações sociais são fortes aliadas para conectar as pessoas aos serviços de saúde, que são um direito delas. 

Organizações sociais aliadas do SUS e da população

O Instituto C e tantas outras organizações atuam como uma ferramenta que conecta as pessoas aos serviços. Por aqui, nossa equipe técnica acolhe muitas famílias com crianças que realizam tratamentos no SUS, e buscamos tornar esse processo mais acessível para elas por meio da informação. 

“No Instituto, por exemplo, a gente faz todo um movimento de reforçar esse lugar político das famílias atendidas. Então, considerando o Instituto e as ONGs que eu conheço, eu acredito que todas estão muito alinhadas nessa ideia do direito social”, reforça Giovana. Além das organizações que atuam com as famílias fora dos equipamentos de saúde, a população organizada nos territórios também é essencial para garantir que os pilares do sistema continuem sendo levados à risca. 

Uma das atuações dessas organizações é dentro dos territórios que carecem de um atendimento mais ativo, como pontua a Beatriz: “elas têm um papel muito importante para expandir o acesso, por exemplo, à cobertura em regiões em que o Sistema Único de Saúde não consegue chegar”.

Esse trabalho que realizamos no Instituto C – assim como tantas outras organizações também se dedicam a fazer – é, também, uma forma de fortalecer o SUS e garantir que as pessoas possam acessar seus direitos na saúde. 

Agora, nós queremos levar esse cuidado e essa ponte entre famílias e serviços de saúde ainda mais longe, e faremos isso expandindo nossa atuação para um novo município. Com uma contribuição a partir de 10 reais, você pode fazer parte dessa transformação e nos ajudar a alcançar novas famílias. Clique na imagem e venha com a gente dar esse próximo passo!

Institucional

Instituto C na Globo: participamos do Domingão com Huck e nos emocionamos juntos

Como você deve ter visto nas nossas redes sociais, o Instituto C participou, no último fim de semana, do Domingão com Huck, em um momento cheio de emoções e reviravoltas no quadro The Wall. A nossa participação contou com três pessoas muito especiais para a história do instituto e que representam muito todo o nosso trabalho.

Vera Oliveira, fundadora e diretora executiva do Instituto, foi a responsável por lançar as bolas verdes e vermelhas que definiram nosso prêmio final. Já a Thais Barbosa, nossa conselheira, respondeu as perguntas desafiadoras da parede. Na torcida pelo prêmio e representando nossas famílias atendidas, contamos com a Grazi, que já foi atendida por nós e hoje faz parte da nossa equipe. Além do Marcos, marido da Vera, e da Nilzete, mãe da Thais, que estiveram emanando energias positivas para nossas representantes. 

Quem assistiu o programa conseguiu sentir a adrenalina que foi a disputa contra a parede pelo prêmio. Com muitas idas e vindas, no final nossa conselheira fez a melhor escolha e o IC conseguiu faturar mais de 190 mil reais. Esse valor vai ajudar a bater a meta de 350 mil para a expansão do nosso trabalho para um novo município.

De uma carta para o Luciano até o Domingão

Há 15 anos, a Vera, escreveu para o Luciano Huck uma mensagem onde falava sobre seu desejo de trabalhar no quadro Lar Doce Lar – quadro do Caldeirão do Huck que reformava casas. Ao receber a resposta do apresentador com uma sugestão para que Vera trabalhasse no terceiro setor, ela achou a resposta um tanto quanto inesperada e acreditava que aquilo não fazia sentido para o que desejava seguir. Mas após um tempo viu que essa possibilidade poderia fazer a diferença na vida de muitas pessoas (e principalmente na dela). Foi a partir disso que o Instituto C nasceu.

Para a fundadora do IC, estar no palco do Domingão com Huck foi um misto de sentimentos, já que a resposta dele à sua carta foi o empurrãozinho que precisava para ela entender qual caminho deveria seguir. Ela conta que estava muito emocionada antes mesmo de entrar no palco, mas o encerramento do quadro foi ainda mais especial e marcante: “a hora que a gente saiu da gravação, a gente já sabia que o programa ia ser lindo”. 

No programa, Vera ainda contou ao Luciano sobre a história da carta e como ela impactou sua decisão de criar o instituto e multiplicar o cuidado para tantas famílias. Hoje, ela deseja que esse impacto seja ainda maior, chegando a mais famílias em diferentes lugares do país. 

“Acho que é um marco na história do IC. Foi muito bom, e eu acho que agora isso realmente abre portas para que a gente possa estar em todos os lugares do Brasil”, relata.

Parceria forte desde o início 

Algumas pessoas marcam a história do Instituto desde o início, e a Thais é uma delas. Hoje conselheira, ela foi a primeira assistente social do IC e que ajudou a implementar nossa metodologia. A emoção de participar de mais um momento especial tomou conta de Thais no programa, e mostrou mais ainda a importância de ter pessoas como ela no nosso trabalho.  “Cheguei no IC em 2012, éramos apenas 3 pessoas. Foi desafiador para uma recém formada, mas eu amo desafios e tinha muita vontade de fazer acontecer”, conta Thais.

Desde o início no Instituto, ela atua como assistente social e, hoje com o trabalho em equipamentos de Atenção Primária à Saúde, atuando no acolhimento a diversas pessoas, ela acredita que o trabalho do IC é fundamental para o direcionamento e efetividade das políticas públicas na vida das famílias. “A gente tem o propósito de cuidar das pessoas, com amor, respeito, e acreditando no potencial delas”, reforçou a conselheira no discurso final do programa.

São as famílias a base de tudo no Instituto C

Entre as mais de 6 mil famílias que já foram atendidas pelo IC, a da Grazi é um exemplo desse cuidado. Ela chegou no IC após passar por um momento difícil com os filhos gêmeos que nasceram prematuros enquanto estava em uma viagem a São Paulo. Aqui, ela se fortaleceu e passou a conhecer os direitos que sua família e, principalmente, seus filhos tinham. 

“Quando comecei os atendimentos no IC, não tinha nenhuma esperança,  nenhuma perspectiva de futuro. Estava sem fôlego, sem forças, com medo. Mas através dos atendimentos fui me fortalecendo, acessando conhecimentos sobre aspectos da vida e de tantos outros temas importantes nas rodas de conversas”, conta Grazi, que hoje é estagiária de serviço social no instituto. 

Ela é um grande exemplo de como o conhecimento e um atendimento com escuta podem fazer a diferença na realidade de uma pessoa. Grazi diz que nunca imaginou que pudesse terminar os estudos, mas hoje já idealiza uma pós-graduação. 

A Grazi contou também como ficou o coração ao representar as mais de 6 mil famílias atendidas por nós no palco do Domingão: “foi muito emocionante, foi muito lindo ver o alcance e agora os resultados de tudo isso”. Ficamos felizes por contar a história dela e agora poder tê-la na nossa equipe como uma colega que inspira o cuidado.

Além do prêmio, o The Wall também nos fez enxergar a rede incrível que acompanha e torce pelo crescimento do nosso trabalho. Ficamos felizes por ver que muita gente estava assistindo e vibrando pelo IC!

Expandir cuidado: junte-se a nós na campanha!

Foi maravilhoso poder enxergar todo o carinho que as pessoas que acompanham o IC tem por nós. Agora, para somar ao valor conquistado no programa e conseguirmos expandir nosso trabalho para um novo município, lançamos uma campanha de doação, e você pode doar a partir de R$ 10,oo clicando no botão abaixo!

Quer ajudar ainda mais? Compartilhe nossa campanha nas redes sociais ou entre em contato pelo WhatsApp para ter mais informações.

DireitosServiços IC

Desenvolvimento infantil na palma da mão: confira a cartilha do Instituto C para a primeira infância

A primeira infância é uma fase de desenvolvimento muito importante da vida. Para as crianças de 0 a 6 anos, é nesse momento que passam a descobrir o mundo e aprimorar as habilidades, já para os cuidadores é um desafio diário pensar em todas as áreas que precisam de atenção. A partir disso, desenvolvemos uma cartilha com mais de 30 dicas que abordam desde a importância do brincar até a promoção de uma alimentação saudável.

No Instituto C, a criança não está somente no nosso nome, ela é também a nossa prioridade, é na infância que devemos olhar com mais cuidado para romper desigualdades, quebrar ciclos de pobreza, combater violências e desenvolvermos uma sociedade mais justa e saudável, como explica o conteúdo da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal e nosso artigo do blog.

Katia Moretti, coordenadora de polos do instituto, acredita que essa cartilha reflete muito do nosso trabalho: “o Instituto C tem em sua essência essa questão de trazer informações para as famílias que estão em vulnerabilidade social e muitas vezes não têm acesso às informações corretas. Essa cartilha conversa muito com o nosso trabalho no sentido de proteção à criança”.

Não tem como falar de crianças sem falar sobre os direitos delas, e esse é o nosso foco no dia a dia e na cartilha. Entendemos que todas as áreas da vida dos pequenos estão ligadas aos direitos garantidos a eles, como o acesso à educação de qualidade, saúde, direito de brincar, entre tantos outros que estão previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e atravessam as vidas de cada indivíduo.

O combate às desigualdades para uma infância saudável 

Assim como o nosso trabalho multidisciplinar, a cartilha também se desdobra em muitas áreas, e todas elas se relacionam entre si. O atendimento nas diferentes áreas reflete também nesse material, que tem como principal objetivo a orientação. “O Instituto C trabalha de forma multi nas suas áreas de atuação e a cartilha traz esse aspecto”, reforça Kátia. 

Toda a sociedade é responsável pelas crianças, por isso esse trabalho coletivo precisa se expandir e a informação deve alcançar a todos. Nesse contexto, temos o desafio diário de diminuir as desigualdades por meio do acesso a direitos nas áreas da saúde e educação, que são necessárias para que as crianças possam compartilhar das mesmas experiências e oportunidades.

A desigualdade socioeconômica é o que – de acordo com a nossa experiência – mais dificulta os acessos das crianças na primeira infância. “Na primeira infância é quando as desigualdades mais afetam o desenvolvimento, e também quando as intervenções podem ser mais significativas, mais transformadoras para a vida daquela criança”, explica a gerente de projetos do instituto.

Outro ponto destacado por Kátia é a falta de rede de apoio para as famílias em situação de vulnerabilidade social. Ela considera que a gente precisa olhar a família como uma base para atuar no desenvolvimento da primeira infância, pensando na justiça social que deve começar desde o berço.

Para todos os públicos 

Pensamos em um documento que pudesse auxiliar tanto profissionais que atuam com crianças quanto os pais ou cuidadores que ainda não tem tanto contato com essa temática. Para as famílias, a cartilha é uma ferramenta informativa que vai reforçar também a necessidade de olhar com mais carinho para a primeira infância, já que nem todas as pessoas têm a ideia da importância dessa fase da vida. 

“Por ser um material que traz informações de diversas áreas, com linguagem acessível e um formato de dicas do que você pode fazer com as crianças, traz para as pessoas que acessarem esse entendimento de que precisamos olhar com mais cuidado, com mais carinho para a primeira infância”, ressalta Kátia.

No âmbito dos profissionais, a cartilha pode ser usada como uma referência para capacitações ou até mesmo para desenvolvimento de atividades com as crianças. Os profissionais podem atuar com o apoio da cartilha diretamente com as crianças e também podem utilizar para formar outros profissionais e os cuidadores das crianças com quem eles trabalham.

Acesso a serviços para as crianças

Dentro da cartilha apresentamos também alguns serviços públicos essenciais para as crianças e que podem ser acessados por todas. Existem muitos serviços específicos e que são pensados principalmente para a garantia de direitos, prevenção e proteção das crianças. Dessa forma, quanto mais informações as pessoas tiverem sobre os serviços, a primeira infância estará mais protegida e, por consequência, as crianças vão se desenvolver de forma mais saudável. 

“A gente espera alcançar esse sonho de ver muitas crianças se desenvolvendo plenamente desde a primeira infância”.

Esperamos que a cartilha seja um apoio no dia a dia das famílias e de pessoas ou instituições que trabalham com crianças na fase da primeira infância. Clicando no banner abaixo você consegue baixar o documento e usar da melhor forma possível!

 

Direitos

Agosto verde: a primeira infância precisa ser prioridade nas grandes cidades

A primeira infância é uma fase da vida caracterizada como um ciclo de importante desenvolvimento humano. Essa fase dura até os seis anos de idade, e é nesse momento que as crianças começam a desenvolver muitas habilidades, como a capacidade motora, a comunicação por meio da linguagem e a forma de expressar suas emoções. No mês de agosto, a cor verde representa a luta por uma discussão mais profunda sobre a primeira infância e a importância de políticas públicas nessa fase.

O contato com os pais com tempo de qualidade, o acesso à saúde, à educação e à natureza são alguns dos pilares importantes durante essa fase, mas que ficam prejudicados quando falamos de estilo de vida no contexto das grandes cidades. Essas questões nos ambientes urbanos podem interferir diretamente no desenvolvimento, como explica a psicóloga do Instituto C, Noaly Avenoso: “O excesso de superestimulação, os estresses das cidades urbanas, a falta de facilitadores no âmbito da saúde, escola e lazer para famílias que residem em lugares mais precarizados, podem prejudicar o desenvolvimento da primeira infância”.

Apesar da importância da discussão, o tema primeira infância ainda não tem a visibilidade necessária, por isso instituições como a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, que atuam na promoção do desenvolvimento da infância, são importantes aliadas nessa discussão. “É um tema um pouco mais conhecido, mas a gente ainda vê a necessidade de que ele seja plenamente conhecido pela sociedade e pelos atores da política pública para que possa ser priorizado”, pontua Karina Fasson, gerente de políticas públicas da Fundação Maria Cecilia.

A cidade pensada para a infância 

Nos primeiros anos de vida, o cérebro da criança está em desenvolvimento, e chega a realizar um milhão de conexões por segundo. É neste momento em que os espaços que ela frequenta devem oferecer um ambiente seguro e adequado para sua idade. Nas cidades, vemos que isso ainda está caminhando para que seja de fato efetivado, seja com os espaços de lazer que incluem brinquedotecas ou os museus que colocam na programação atividades infantis, por exemplo. 

“É preciso que as crianças sejam priorizadas no orçamento. Se elas forem priorizadas na política pública, elas precisam ser consideradas nas peças orçamentárias também”, explica Karina. Ela ainda reforça que as cidades devem enxergar as crianças como indivíduos que precisam de cuidados em diferentes áreas, pensando na intersetorialidade.

Em São Paulo, por exemplo, ainda que a desigualdade social seja visível, já existem algumas iniciativas para o fortalecimento do desenvolvimento infantil no início da vida, como o Plano Municipal Pela Primeira Infância, um documento que estipula metas como “tornar o ambiente da cidade mais acolhedor para as crianças de 0 a 6 anos” e “garantir o acesso a serviços de saúde de qualidade a gestantes e crianças de 0 a 6 anos”, que tem o objetivo de uma primeira infância plena, estimulante e saudável para as crianças no Município.

Nesse mesmo documento, temos um panorama sobre a primeira infância na cidade de São Paulo, e podemos ver que a Brasilândia é uma das regiões com mais crianças de 0 a 6 anos. Na região também fica localizado o Polo Zona Norte do Instituto C, onde trabalhamos com as famílias os atendimentos nas áreas da educação, geração de renda, desenvolvimento psicossocial e nutrição, além da orientação na área da saúde e garantia de direitos.

É importante lembrar que as crianças são cidadãs

O ponto mais importante para colocar a primeira infância como prioridade é entender que as crianças também são cidadãs e muitas das decisões públicas afetam suas vidas. Apesar de todos os avanços ao longo dos anos, especialmente após a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), as crianças que vivem em situação de vulnerabilidade social ainda enfrentam os desafios de crescer sem a estrutura necessária. 

Karina, da Fundação Maria Cecilia, reforça que a educação infantil também é uma questão que deve ser tratada como prioridade: “a gente precisa garantir para todas as crianças, mas principalmente para as crianças que já estão no contexto mais vulnerável, o acesso a uma educação infantil de qualidade”.

Nesse contexto, trabalhos de organizações como o Instituto C atuam como uma ferramenta para que as famílias consigam levar mais qualidade de vida aos pequenos. Como conta nossa psicóloga Noaly, aqui trabalhamos para fortalecer os vínculos das famílias com os territórios onde residem, tendo como princípio o acesso à informação com orientações nas áreas da saúde, educação, psicologia e nutrição para entender cada realidade e guiar as famílias na garantia de direitos.

A rede de apoio na primeira infância 

No trabalho diário do IC, as mães estão sempre presentes, e consideramos que o cuidado com elas é também o que fortalece o desenvolvimento das crianças. Dessa forma, entendemos que elas precisam de uma rede de apoio para conseguirem cuidar dos filhos e de si ao mesmo tempo, e buscamos levar isso por meio dos nossos grupos de atendimento temáticos onde tratamos assuntos que fazem parte da vida das mães e que fortaleçam a relação delas com as crianças. Por isso, essa rede, além de fazer bem para a cuidadora, também faz a diferença na vida da criança.

Quando falamos da primeira infância nesse contexto, por exemplo, podemos lembrar que o acesso às creches são essenciais tanto para o crescimento quanto para a construção dessa rede de apoio. Mas não estamos falando apenas de uma vaga em creche, como explica a Karina. “Não basta ter uma vaga. Essa educação infantil tem que promover tanto o cuidar – para essa fase da vida que é importante – quanto o educar, de maneira indissociável”.

Com atuação direta com as famílias, nossa psicóloga tem uma visão do impacto dessa rede de apoio na vida delas. “A rede de apoio é fundamental para a primeira infância em todos os aspectos, as creches e as escolas, além do papel da educação, também desenvolvem o social, emocional, motor, cognitivo, sensorial e muitas coisas que, ao longo do crescimento, fazem a diferença para a vida da criança”, reforça Noaly.

Direitos

Julho das Pretas: vamos falar sobre políticas públicas para as mulheres negras?

Para além de uma data comemorativa, o mês de julho marca a potência das mulheres negras e a necessidade de tê-las nos espaços de reconhecimento. O “Julho das Pretas” é uma iniciativa do Instituto Odara que surgiu em 2013 com o objetivo de fortalecer as pautas que permeiam o mês de julho, quando se comemora o Dia da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha, no dia 25.

“É uma data instituída pela ONU para reforçar e valorizar a luta e a resistência das mulheres negras na região. Também é o dia da mulher negra brasileira e é o dia em que a gente comemora a Tereza de Benguela, que é um símbolo de resistência quilombola para a nossa sobrevivência”, explica a conselheira do Instituto C e especialista em direitos humanos Marina Fanciulli.

O Julho das Pretas vem para fortalecer as pautas das mulheres negras para além da data comemorativa e, neste ano, tem como objetivo uma agenda que prepare para a 2ª Marcha Nacional de Mulheres Negras, que acontecerá em novembro. No trabalho do Instituto C, temos a maioria das famílias atendidas chefiadas por mulheres negras, por isso entendemos a importância de falar sobre políticas públicas e espaços de decisão que elas precisam estar. 

A luta por políticas públicas 

Há anos, as mulheres negras lutam para ter voz nas decisões políticas que afetam diretamente suas vidas, e a consciência política é uma das maiores ferramentas para garantir seus direitos enquanto cidadãs. Os movimentos coletivos são o que alavancam ainda mais esse processo, como o Mulheres Negras Decidem que busca, por meio da articulação política, empoderar as mulheres. 

Tainah Pereira é formada em relações internacionais, doutoranda em em economia política internacional e faz parte do coletivo. Ela reforça que é importante saber como conversar sobre política com mulheres de diferentes realidades. “Muitas vezes não existe uma resistência dessas mulheres em falar de questões de gênero e de raça. O que existe é uma falta de familiaridade com os termos que a gente usa ou uma compreensão diferente sobre o que deveria ou não ser prioridade”, explica. 

Aqui no Instituto C, também entendemos que o diálogo é a melhor forma de direcionar as famílias na garantia de direitos e conscientização, por isso realizamos grupos de atendimento temáticos onde abordamos esses assuntos. “A gente traz rodas de conversa com as crianças e com os adultos, lembrando o quanto é importante a gente ensinar desde cedo quais são os seus direitos, quais são os seus deveres, o que não é uma brincadeira, o que é uma ofensa e como que lida com isso”, explica Suellen Claudino, psicóloga do Instituto C.

Sendo uma mulher negra, Suellen também enxerga essas discussões nos atendimentos com mais cuidado, e reflete sobre os momentos de troca que tem com elas. “Eu acho muito especial o semblante das mulheres conforme elas chegam. Elas trazem as demandas e muitas vezes o que elas tomam como normal está muito longe de ser normal. E ser essa ponte de articulação é muito incrível”, conta.

Representatividade nos espaços

Apesar das mulheres negras serem a maior parte da população do Brasil, representando 28%, elas ainda são a minoria em números nos espaços de decisão. A representatividade ainda está muito longe de ser uma realidade, já que as mulheres negras também são as que menos conseguem acesso aos trabalhos formais e a geração de renda para sustentar suas famílias e são a maior parte das mães solo, como lembra a nossa conselheira Marina.

Mesmo a passos curtos, já vemos alguns avanços na política com mulheres negras em lugares de destaque, como a deputada Érika Hilton. Tainah, do Mulheres Negras Decidem, considera que a qualidade das representantes na política já melhorou bastante: “em termos quantitativos, os avanços ainda não foram tão significativos, mas em termos de qualidade, realmente houve uma transformação radical”.

Não somente na política, a representatividade também é necessária nos espaços de acolhimento para as mulheres negras. A Suellen fala sobre a experiência de trabalhar como uma referência de escuta e acolhimento, e diz que consegue ver na prática a importância desse trabalho.

“Elas vêm atravessando múltiplas violências, principalmente a exclusão social. E eu entendo hoje que o meu papel vai além do atendimento direto. Muitas vezes é propor reflexão, propor esse fortalecimento com a rede ou apresentar os serviços”.

 

O trabalho do Instituto C como rede de apoio

A psicóloga Suellen trabalha no Polo Zona Norte, região onde mora e atende as famílias que vivem nos bairros próximos. Com esse contato no dia a dia, ela se vê no papel de articular e divulgar informações importantes para as mães atendidas. “Eu acredito que como uma mulher negra atuando aqui no Instituto C, consigo me perceber diariamente como articuladora. Não só para apresentar serviços e assuntos pontuais, mas principalmente essa questão de mostrar o acesso a direitos, que por muitos e muitos anos foram negados”, reflete.

“Muitas vezes eu acabo sendo essa ponte entre essas mulheres e os espaços”.

A representante do Mulheres Negras Decidem também considera que o trabalho coletivo entre instituições é essencial para preencher lacunas não alcançadas pelo poder público. Considerando a dificuldade do estado de alcançar boa parte desse segmento social, que é os mais vulnerabilizados, ela pontua que as organizações não governamentais cumprem um papel fundamental de acolhimento, orientação, e encaminhamento para diversos serviços, desde questões de saúde até questões jurídicas.

Aqui no instituto, a garantia de direitos é uma questão muito trabalhada com as famílias, pois sabemos que essa é uma ferramenta muito potente para que elas tenham autonomia. E é dessa forma que a nossa conselheira Marina também enxerga: “a importância do trabalho de instituições como o Instituto C para a proteção dos direitos das mulheres negras no Brasil é fundamental para que a gente possa acessar os nossos direitos básicos, considerando todo o contexto de desigualdade que tem, sim, cor e gênero envolvidos”.

Direitos

35 anos do ECA: o estatuto que norteia o nosso cuidado com as crianças e adolescentes

O direito das crianças e dos adolescentes é o que garante uma sociedade mais justa e que promova o crescimento de todas as pessoas sem que haja qualquer dano para elas. Na prática, ainda estamos caminhando para alcançar esse ideal, mas muitas coisas mudaram ao longo dos anos para garantir mais qualidade de vida para os pequenos – como a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente, o ECA, em 1990, há exatos 35 anos. 

O ECA é uma ferramenta muito importante para a garantia de direitos, assegurando que crianças e adolescentes tenham acesso à saúde, educação, lazer e também que eles estejam protegidos contra a violência, além de outras atribuições. Durante os anos, o estatuto tem mudado, de acordo com as necessidades de cada época, por isso a sociedade deve estar atenta para que os direitos sejam respeitados e protegidos. 

Entre as atribuições do ECA, está a responsabilidade coletiva de garantir os direitos das crianças. Começa no núcleo familiar, com o dever de garantir o cuidado, afeto, proteção e desenvolvimento, passa pela escola e o Estado, que precisam assegurar o acesso à educação de qualidade e à saúde, e também relaciona a sociedade em geral, que tem a responsabilidade de olhar com atenção e respeitar as crianças e os adolescentes. 

O ECA também é importante para que os adultos do futuro possam ser cidadãos conscientes do papel deles na sociedade, como reforça Armando Hussid, conselheiro de direito e presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA/SP): “a proteção e cuidados com nossas crianças e adolescentes são essenciais para que eles possam futuramente participar da sociedade de maneira plena”.

O que mudou com o ECA?

A promulgação do Estatuto foi muito importante para que a sociedade passasse a enxergar crianças e adolescentes com mais foco em proteger a integridade deles. “Antes do ECA, o Código de Menores, vigente durante a ditadura militar, via os ‘menores’ como ‘situação irregular’ e focava em punição, não em proteção”, explica Armando.

Desde então, houve avanços como o fortalecimento do Conselho Tutelar, ampliação do acesso à educação e à primeira infância, programas de transferência de renda e maior articulação da sociedade civil em prol da infância. Mas ainda caminhamos para que ele seja efetivamente aplicado. 

Por isso o Estatuto está sempre em constante desenvolvimento e se adequando para que os direitos das crianças e adolescentes estejam de acordo com as mudanças na sociedade. Para ilustrar, separamos aqui algumas das alterações mais recentes que são importantes para nós enquanto cidadãos: 

Comunicação obrigatória do desaparecimento: em 2024, uma das alterações leva em consideração a responsabilidade dos cuidadores com a segurança das crianças, e incluiu uma penalidade para pais, mães ou responsáveis legais que, de forma dolosa, deixarem de comunicar à autoridade pública o desaparecimento de uma criança ou adolescente. 

Segurança em espaços educativos: outra alteração, também do ano passado, diz respeito aos estabelecimentos educacionais e similares que desenvolvam atividades com crianças e adolescentes. Esses lugares deverão manter fichas cadastrais e certidões de antecedentes criminais atualizadas de todos os colaboradores.

Atenção às vítimas de violência: ainda no mesmo ano, um item foi incluído na seção das linhas de política de atendimento, prevendo serviços de prevenção e atendimento médico e psicossocial às vítimas de negligência, maus-tratos, exploração, abuso, crueldade e opressão e às crianças e aos adolescentes que tiverem qualquer dos pais ou responsáveis vitimado por grave violência ou preso em regime fechado.

Essas são algumas das mudanças que nos ajudam a atuar como agentes de promoção do bem-estar de crianças e adolescentes, e o ECA é o pontapé inicial e norteador dessa proteção.

Uma responsabilidade coletiva

Organizações da sociedade civil como o Instituto C atuam com um papel fundamental na promoção dos direitos previstos no ECA. Aqui, por meio dos nossos atendimentos e atividades nas áreas da assistência, educação, psicossocial e nutrição, temos o papel preventivo e pró-ativo na garantia de direitos, com o objetivo de que as crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social consigam crescer sem que seus direitos sejam violados. 

De acordo com Lucas Pisciotta, assistente social do Instituto C, “o terceiro setor é uma ponte fundamental entre políticas públicas e a população, principalmente em territórios onde o acesso a direitos é historicamente negado ou fragilizado. Atuamos de forma complementar ao Estado, sendo muitas vezes o primeiro espaço de escuta, acolhimento e fortalecimento de vínculos”. 

Com a nossa equipe multidisciplinar, entendemos que a família é a base para um crescimento saudável, por isso atuamos com todos os membros para que eles entendam a importância de olhar com mais cuidado para a infância. Essa articulação em rede é importante para que a sociedade consiga, também, fiscalizar onde o poder público não tem uma  atuação tão ativa. 

O presidente do CMDCA, Armando Hussid, ainda reforça que nós, enquanto sociedade, não podemos pensar que os direitos têm a ver com, apenas, a proteção contra violações, mas também a garantia de condições para que as Crianças e Adolescentes possam se desenvolver de forma plena, para que possam, também, exercer seus próprios direitos.

O ECA no dia a dia da assistência social 

O ECA veio para reconhecer as crianças e adolescentes como sujeitos plenos de direitos e estabelecer a proteção integral como um pilar indispensável. “No Instituto C, promovemos momentos de leitura e discussão do ECA com os próprios jovens, permitindo que conheçam seus direitos e deveres, ampliando a consciência crítica e a cidadania desde cedo. É uma ferramenta de empoderamento e transformação social”, explica Lucas.

“O ECA reforça nosso papel como articuladores da rede, como escuta qualificada e como defensores da dignidade humana”.

 

O estatuto orienta todas as etapas do nosso trabalho, desde o primeiro acolhimento até a articulação com a rede. Cada atendimento, visita domiciliar, diálogo com escola ou CRAS, é atravessado por esse compromisso. Ele não é só um documento legal, é uma ferramenta potente que usamos na nossa prática cotidiana.

 

Direitos

Meio ambiente e infância: precisamos falar sobre justiça climática

As mudanças climáticas têm afetado todo mundo, mas você já parou para pensar como elas têm afetado as crianças? 

O meio ambiente tem passado por momentos difíceis e que acendem um alerta, mas pouco se fala sobre o quanto as crianças são atingidas por tudo isso. Conforme os anos vão passando, elas têm que lidar com eventos extremos que afetam diretamente suas vidas. De acordo com o relatório Save the children, de 2021, as crianças que nasceram no início dessa década enfrentarão 6,8 vezes mais ondas de calor em relação às nascidas em 1960. E o reflexo disso já tem sido visto, por exemplo, no começo deste ano, quando o calor foi tão intenso a ponto de fechar escolas e dificultar o aprendizado dos alunos

Essa é somente uma das questões que são afetadas pelas mudanças climáticas, mas é possível citar uma lista de eventos que afetaram milhares de crianças em situação de vulnerabilidade social, como as enchentes no Rio Grande do Sul em 2024, por exemplo. 

O acesso à natureza também vem se perdendo ao longo dos anos. Com o crescimento da urbanização e das grandes cidades, os espaços verdes têm ficado cada vez mais escassos. É o que avalia também Maria Isabel, especialista em infância e natureza no Instituto Alana: “as casas foram ficando menores, o acesso aos espaços públicos foi diminuindo, foi ficando mais inseguro, foi ficando mais raro e as crianças foram perdendo essas oportunidades de brincar ao ar livre”.

Áreas da vida mais afetadas

O documento “A primeira infância no centro do enfrentamento da crise climática”, elaborado pelo Núcleo Ciência Pela Infância destaca algumas áreas que são as mais afetadas na vida das crianças devido à crise climática. O núcleo divide em sete impactos que as crianças podem sentir: perdas agrícolas e insegurança alimentar, aumento de doenças infecciosas e transmissíveis, perda de moradia e deslocamento forçado, exposição a contaminantes, morte precoce, acesso menor a educação de qualidade e cuidados com a saúde, estresse tóxico e prejuízos à saúde mental.

Além disso, o estudo ainda mostra que as crianças negras, indígenas e as que vivem nas regiões Norte e Nordeste são as mais afetadas pela crise climática e pela insegurança alimentar. Esse é um ponto que ilustra ainda mais as desigualdades estruturais e como elas afetam as pessoas em situação de vulnerabilidade sempre que há algo de errado com o mundo. 

Diante de todas as notícias que vemos diariamente envolvendo o meio ambiente, muitas crianças podem também se sentirem preocupadas com o futuro, desencadeando ansiedade. Assim como explica Maria Isabel: “muitas crianças já relatam ansiedade, preocupação e uma angústia muito grande. Tanto quando elas estão experienciando eventos extremos, quanto com todas as notícias às quais elas são expostas”. 

Educação ambiental

A educação ambiental é um dos direitos garantidos por lei para os cidadãos. Mesmo que a discussão sobre mudanças climáticas tenha tomado maiores proporções nos últimos anos, conforme vemos nos noticiários, em 1999 a Política Nacional de Educação Ambiental foi instituída, e tem como objetivo o desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos.

A educação ambiental também é parte importante do processo de preservação do meio ambiente, especialmente nos anos iniciais escolares, quando as crianças estão aprendendo a lidar com o mundo ao seu redor. Momentos de contato com a natureza, seja por meio de atividades ou no dia a dia são necessários para o desenvolvimento das crianças, de acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria.

“Essas experiências na infância são fundamentais para nutrir o sentimento de que a gente faz parte dessa grande cadeia de vida. E a gente precisa entender que os impactos que a gente vai ter na natureza dizem respeito à nossa sobrevivência”, explica a especialista do Instituto Alana. 

 

Por isso, é importante que as organizações e o Poder Público estejam atentos e fortaleçam iniciativas de proteção ao meio ambiente e educação ambiental.

Justiça climática e o papel do IC

Para o Instituto C, falar sobre o meio ambiente é também uma forma de buscar a justiça social e mais igualdade para as famílias. Durante os nossos atendimentos em grupo, esse é um tema que buscamos trazer e discutir coletivamente, para escutarmos e entendermos como as mudanças climáticas impactam diretamente a vida delas.

Renata Chiapetta, assistente social e técnica do instituto, explica que as crianças também podem ser agentes de transformação se dermos a elas e seus familiares conhecimento, ferramentas e apoio. E reforça a importância de garantir a justiça climática para pessoas em situação de vulnerabilidade social. 

“A justiça social e a justiça climática estão ligadas. Pois quando uma mãe precisa escolher entre comprar água ou comida para seus filhos, entre “salvar” móveis ou garantir a retirada de todas as crianças de um local, entre arriscar a enviar seus filhos para a escola que está com o teto comprometido, ou perder um benefício de transferência de renda, isso é um problema nosso”. 

 

Por isso, temos como papel fundamental reivindicar os direitos das famílias que já enfrentam diariamente as consequências das mudanças climáticas e, de acordo com Renata, já é possível identificar que as crianças são as mais afetadas. “Secas, enchentes, calor extremo e falta de alimentos não são “problemas do futuro”, são realidades que muitas das famílias que acompanhamos enfrentam hoje”, pontua. Dessa forma, políticas públicas para barrar essas consequências são mais do que necessárias.

O poder público como agente da mudança

Por meio da Política Nacional de Educação Ambiental, ficaram definidas algumas políticas públicas para garantir que os brasileiros tenham acesso à educação ambiental para construir, coletivamente, valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.

Hoje o Projeto de Lei 2225/2024, propõe a criação do Marco Legal Criança e Natureza, que dispõe de políticas e instrumentos para que todas as crianças e adolescentes possam conhecer, experimentar e criar um vínculo com a natureza. Essa é uma das iniciativas apoiadas por instituições de proteção à infância.

Mas, apesar disso, o Brasil ainda tem muito o que avançar. Maria Isabel analisa que as políticas públicas devem ir além da prevenção, e atuar também como uma base de adaptação às mudanças climáticas. Para ela, a escola tem um papel fundamental de suprir a carência das crianças em relação à natureza e também disseminar boas práticas relacionadas à adaptação climática. 

“A gente precisa adaptar as cidades às mudanças, porque as mudanças climáticas, elas não vão deixar de acontecer no curto prazo. O calor vai continuar chegando cada vez mais forte, a poluição, as chuvas. A gente precisa pensar em adaptação e as escolas podem estar no centro desse esforço”, ressalta. 

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Nutricionistas ajudam a tratar a seletividade alimentar em crianças com autismo

A seletividade alimentar é uma condição caracterizada pela aversão a uma grande quantidade de alimentos. É uma sintomatologia muito comum em pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), como mostra um estudo realizado pela Universidade de Marília, em São Paulo. Isso porque envolve uma questão sensorial, que é algo muito presente no espectro. Pessoas com autismo podem ter um padrão alimentar mais rígido, ou seja, comem sempre os mesmos alimentos, por isso a quebra na rotina com a inserção de novos grupos alimentares leva ao desconforto e rejeição.

Para as famílias que têm crianças com autismo, a seletividade é um desafio enfrentado diariamente, uma vez que elas preferem somente um tipo de alimento específico, e nem sempre são os mais saudáveis. Conversamos com a nutricionista Profa. Dra. Rosana Farah, especialista em transtornos alimentares, que falou um pouco mais sobre essa questão. “Para os autistas, o ideal seria que as coisas fossem sempre iguais, com a mesma forma e apresentação. Desta maneira, os alimentos “embalados” podem ser os preferidos, pois terão o mesmo cheiro, cor, textura e crocância”, pontua.

A nutricionista explica que o grau de seletividade e aversão alimentar pode ser desencadeado por atitudes comportamentais como: hipersensibilidade, experiências anteriores de engasgos, refluxo, alergias, além de questões nutricionais como deficiências de nutrientes, distúrbios gastrointestinais que agravam a falta de apetite.

O maior desafio, então, é entender como lidar com a seletividade da melhor forma possível, sem que a criança se sinta na obrigação de mudar os hábitos, mas de forma que a alimentação diversificada faça parte, aos poucos, da sua rotina. Nesse contexto, é essencial um trabalho multidisciplinar com nutricionista, médico, fonoaudiólogo e terapeuta ocupacional, que consigam quebrar as barreiras e acolher tanto a criança quanto a família.

A nutrição como pilar fundamental do tratamento

O papel dos nutricionistas nesse contexto de tratar a seletividade é muito importante para uma reeducação alimentar e a inserção de alimentos saudáveis na dieta da criança ou do adolescente. Quanto mais a criança restringir a variedade de grupos de alimentos, aumentam as chances de repercussões clínicas, que podem resultar em deficiências nutricionais, como sobrepeso e obesidade. Além disso, sem o tratamento adequado, podem acontecer diversos prejuízos nutricionais como a falta de vitaminas e minerais, além da perda dos dentes e problemas intestinais.

O processo de avaliação feito pelo nutricionista deve ser personalizado de acordo com as especificidades de cada caso. De acordo com a especialista, uma avaliação nunca é única, e ela deve ser construída a partir de uma relação de confiança com a criança e seus familiares ou cuidadores. Além da análise de peso e altura, no início da abordagem também é preciso entender como funcionam as dinâmicas familiares e a relação da criança com os alimentos.

A Profa. Rosana destaca a importância de compreender o padrão dos alimentos que a criança aceita e quais características em comum como cor, consistência e textura existem entre eles. A partir disso, é possível começar a incluir novos alimentos de forma gradativa, de acordo com o ritmo da criança.

Uma das abordagens é utilizar técnicas de encadeamento alimentar, que se baseia nos alimentos que a criança gosta, para assim apresentar novas opções que sejam parecidas com eles, seja na cor, textura ou grupo alimentar. Um exemplo dessa abordagem é substituir os alimentos industrializados, como por exemplo batata frita por  a batata frita caseira.

O papel da família no processo de reeducação alimentar

A família tem um papel fundamental na construção da diversidade alimentar da criança, pois participa diariamente do momento das refeições e, por isso, deve tentar ressignificar estes momentos trazendo tranquilidade para que as crianças se sintam confortáveis e instigadas a experimentar novos sabores.

A especialista ressalta que “a família deve ser tratada, pois o estresse e o cansaço emocional, assim como a culpa e as cobranças são muito frequentes. É preciso orientar e ajudar as famílias a adquirirem um novo hábito para acabar com ciclos viciosos”.

O trabalho do IC na educação nutricional

Por isso, o suporte oferecido por organizações como o Instituto C é primordial para que a família dê o primeiro passo em direção à resolução desse problema. Aqui, nossas técnicas da área atuam dentro da nutrição social, com atendimentos clínicos pontuais somente em situações extremas. O nosso foco é na educação nutricional, com orientações para que as famílias consigam lidar da melhor forma com a seletividade. 

A seletividade alimentar é a maior demanda trazida para a nutrição entre as mães com crianças dentro do TEA, é o que conta a Raquel Kanup, nutricionista do Instituto C.

Raquel explica que a seletividade alimentar deve ser tratada também em um trabalho conjunto por meio de políticas públicas de promoção à saúde. E é nesse sentido que o instituto atua como um intermediador. “Se a família residir em São Paulo, e a criança com seletividade também tiver o diagnóstico de TEA, oriento sobre a possibilidade de solicitar à nutricionista da UBS o encaminhamento para o serviço especializado no tratamento da seletividade alimentar dentro do TEA (o Instituto PENSI)”, diz.

Além disso, segundo a nutricionista, quando há seletividade, algumas crianças não conseguem permanecer o período completo na escola por não se alimentarem na instituição. Nesses casos, quando ela não tem acesso ao tratamento adequado e, por isso, não tem a alimentação escolar adaptada, a nutricionista marca um atendimento com a família para realização de um relatório com pedido de adequação da alimentação, que deve ser encaminhado para a escola ou para o setor de alimentação escolar do município, para uma adaptação na alimentação.

Tratar a seletividade alimentar com um acompanhamento multidisciplinar é o que aumentam as chances das crianças passarem por esse processo de introdução de novos alimentos de uma forma mais tranquila e adequada. Dessa forma, queremos ajudar ainda mais famílias atendidas a superar a seletividade alimentar, já que boa parte delas tem crianças com autismo. 

Para isso, buscamos nutricionistas voluntários para se juntar a nossa equipe e atuar conosco tratando essa questão que é tão presente no nosso dia a dia de trabalho. Esse profissional estará com a gente em um trabalho que vai contribuir para mudar a realidade de muitas crianças. Clique aqui para saber mais!

**Esse artigo foi construído com o apoio de Raquel Kanup, nutricionista do Instituto C e Rosana Farah, professora, doutora e especialista em transtornos alimentares.

Alimentação

Alerta na alimentação infantil: ultraprocessados podem afetar a saúde das crianças

Alimentos ultraprocessados têm se mostrado muito presentes nas mesas das famílias em situação de vulnerabilidade social, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social. Quando falamos sobre alimentação, os alimentos saudáveis estão sempre em pauta, especialmente porque favorecem a saúde de todas as pessoas, mas o acesso a esse tipo de alimentação ainda pode ser limitado, especialmente por questões como a escassez de tempo, facilidade no consumo de ultraprocessados e desigualdade de acesso à informação. 

De acordo com um estudo feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 8 em cada 10 brasileiros vivem em centros urbanos, sendo que 16 milhões residem em favelas e periferias, locais esses onde se concentram os “pântanos alimentares”. Os pântanos alimentares são lugares onde predominam estabelecimentos que vendem alimentos ultraprocessados como pequenos comércios e mercadinhos de bairro, e as pessoas precisam percorrer mais de 15 minutos para encontrar estabelecimentos com alimentos saudáveis, dificultando assim o acesso a eles. 

Na região Sudeste, a maior parte da população está concentrada em lugares como esse. É o que diz o estudo feito pelo governo em parceria com a USP e publicado na Plataforma Alimenta Cidades, onde os dados mostram que cerca de 15 milhões de pessoas vivem em pântanos alimentares no Brasil, sendo mais da metade somente na região Sudeste. Esse contexto de escassez de alimentos saudáveis pode resultar também em insegurança alimentar, que é quando uma pessoa não tem acesso regular a alimentos de qualidade para se manter saudável. 

O que são alimentos ultraprocessados?

Foto: CEE Fiocruz

Os alimentos ultraprocessados podem ser definidos de diferentes formas, mas a principal delas é de que são aqueles que, no geral, contém muitos ingredientes que não são usados na culinária caseira, como aditivos químicos e aromatizantes. Eles ainda passam por várias etapas de processamento e geralmente possuem alta densidade calórica e pouco valor nutricional, com muitos açúcares, gorduras e sal. 

Alimentos como biscoitos, salgadinhos, macarrão instantâneo, salsicha e refrigerantes, são alguns exemplos de ultraprocessados. Não precisam ser tratados como vilões, mas se consumidos em alta quantidade, podem resultar em doenças crônicas não transmissíveis. 

Alto consumo de ultraprocessados na infância

Se o consumo de ultraprocessados pode impactar a vida de adultos, para as crianças é ainda mais perigoso. É na infância que alguns hábitos começam a ser moldados, e na alimentação não é diferente. Doenças como diabetes, hipertensão e obesidade podem ser desencadeadas pelo consumo desses alimentos ricos em gordura e açúcares. 

Raquel Kanup, nutricionista do Instituto C no Polo Centro, explica que esses são ingredientes que, em excesso, trazem prejuízos para a saúde, tanto no desenvolvimento de hipertensão, diabetes, colesterol alto e aumento das gorduras no corpo. “Esses alimentos muito ricos em tanto aditivos químicos como gordura, sal e açúcar, vão mexendo com nosso metabolismo no geral”, complementa.

Quanto mais cedo uma criança inserir esses alimentos no dia a dia, maiores são os riscos. “Uma criança que é apresentada desde cedo [a esses alimentos], além dela não conseguir tão facilmente incluir vegetais, frutas e legumes, também corre o maior risco de ter essas doenças e, principalmente, desenvolver uma doença cardiovascular”, explica Natalia Tanan, nutricionista do Polo Zona Norte. 

Uma ferramenta interessante para ajudar as crianças e jovens a entender melhor sobre alimentação é o Pratinho Firmeza, produzido pela Énois Conteúdo. É um guia que, por meio de uma linguagem simples e descomplicada, apresenta o tema com ilustrações e diálogos necessários. O personagem Ayo, que ilustra a história, mergulha em uma série de reflexões sobre o direito à alimentação saudável na infância e juventude, auxiliando na construção de uma conversa mais profunda sobre o assunto. 

Políticas públicas de alimentação 

Além do apoio de profissionais, as políticas públicas também são importantes para que a população não sofra de insegurança alimentar nutricional. São essas ações do poder público que garantem o consumo de alimentos saudáveis, e podem ser feitas por meio da regulamentação de publicidades, rotulagem acessível e promoção da agricultura local, por exemplo.

Hoje, já existem alguns meios que foram criados para fortalecer uma alimentação saudável com alimentos que devem estar na mesa dos brasileiros. Assim como o Guia Alimentar Para a População Brasileira, que foi criado pelo Ministério da Saúde para instruir sobre os alimentos que todos devem consumir para garantir uma melhor qualidade de vida.

Na cidade de São Paulo, também é possível encontrar espaços chamados de Armazém Solidário, que fazem parte de um programa criado em 2024 e financiado pelo Fundo de Abastecimento Alimentar de São Paulo (FAASP). A iniciativa tem como foco oferecer itens para uma alimentação saudável com preços mais acessíveis para famílias em situação de vulnerabilidade social cadastradas no CadÚnico. No site da Secretaria de Direitos Humanos, é possível encontrar os endereços e mais informações sobre abastecimento e segurança alimentar.

Além disso, a alimentação nas escolas também é um pilar importante para favorecer a saúde das crianças desde a primeira infância. O Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) é o que regulamenta a merenda nas escolas, com tópicos que abordam a redução de ultraprocessados e o aumento de alimentos in natura. Apesar da legislação, o país ainda encontra barreiras para seguir com a alimentação saudável nas escolas. “Uma criança que desde que começou a comer consome frutas, verduras e legumes todo dia, tem uma chance muito maior de continuar consumindo esses alimentos no decorrer da vida. E infelizmente hoje a gente vê até cidades aqui na região metropolitana que oferecem ultraprocessados na merenda”, conta Raquel.

Instituto C no apoio à alimentação saudável

No Instituto C, a equipe cuida diariamente da alimentação de diversas famílias que buscam melhorar os hábitos alimentares. O assunto é abordado tanto durante as rodas de conversa, onde a nutricionista, junto com as famílias, lê os rótulos e analisa quais ingredientes são usados nos alimentos, para assim refletir sobre os ultraprocessados e mudar hábitos, quanto nos atendimentos individuais, onde a abordagem é personalizada para cada caso e, a partir disso, buscam caminhos para mudanças de acordo com a realidade das famílias. 

“É importante, apesar de tudo isso, a gente entender que é uma batalha muito mais para diminuir as liberdades da indústria e informar as pessoas. Eu posso escolher se eu vou comer o bolo feito em casa ou o bolo comprado, porque eu tenho a informação”, explica Raquel.

Natalia também conta que algumas famílias podem ter mais resistência à mudança de hábitos, especialmente quando se fala em valores, já que os ultraprocessados tendem a ser mais baratos do que alimentos saudáveis, mas é possível buscar um equilíbrio. “Eu começo sempre muito mais neutra, mais calma, dou autonomia. E quando eu vejo que a família é um pouco mais resistente, tenho que começar a colocar algumas metas e objetivos”, explica a nutricionista sobre a abordagem.

O Instituto C também realiza doações de cestas básicas e leite para fortalecer as famílias e garantir uma alimentação mais adequada. A partir desse mês estaremos sem o apoio do nosso principal financiador para doações de leite em pó, por isso reforçamos a importância da sua ajuda para garantir a entrega para as famílias. Veja mais e saiba como ajudar na alimentação das crianças do IC!