Institucional

14 anos de Instituto C: uma história de transformação escrita por muitas mãos

Neste mês de outubro, o Instituto C celebra 14 anos de uma trajetória que surgiu a partir da vontade de impactar vidas por meio da transformação social. Em 2011, esse projeto ganhou forma com os recursos que tinha na época e, no ano seguinte, começaram os atendimentos, em uma garagem no bairro da Santa Cecília. Hoje, o Instituto já atendeu mais de 6 mil famílias, com trabalho de cuidado integral, que acontece por meio de atendimentos nas áreas áreas de nutrição, psicologia, geração de renda, pedagogia e na garantia de direitos. 

Ao longo desses anos, o Instituto passou por diversas transformações – ampliou projetos, fortaleceu parcerias, enfrentou desafios e foi se reinventando todos os dias para continuar atuando com impacto e responsabilidade. E, durante todo esse tempo, mais de 24 mil pessoas tiveram suas vidas transformadas pelo trabalho da nossa equipe. Da mesma forma, cada pessoa que trabalha aqui também foi impactada pelo dia a dia com as famílias.

Quem está aqui há um tempo pôde acompanhar essa trajetória de perto, e tem muita coisa pra contar. Por isso, trouxemos algumas pessoas para falar sobre esse impacto e compartilhar momentos marcantes que já viveram com o IC e como suas histórias se entrelaçam.

De um sonho pessoal a uma causa coletiva

Olhar para trás e ver tudo que o Instituto C construiu desperta orgulho, especialmente em quem plantou a primeira semente dessa história. Vera Oliveira, fundadora e diretora executiva do IC, relembra com emoção o dia em que abriu as portas da garagem e deu o primeiro passo para transformar esse sonho em realidade.

A fundadora do IC lembra que, naquele dia, pôde contar com a presença da família e de amigos queridos que ouviram suas dúvidas durante o processo: “Foi muito especial, olhar tanta gente importante pra mim, ali reunidas, acreditando em um sonho, e eu muito feliz pelo início de um novo caminho que representava a realização de um projeto muito desejado, do coração mesmo… Eu ainda não tinha ideia de onde aquilo iria chegar, mas me completava saber que eu estava contribuindo para um mundo melhor”, conta. 

Hoje, ela reflete sobre o quanto essa jornada também transformou sua própria vida: “Eu era uma menina quando o Instituto C começou, e hoje eu tenho minha família, outra perspectiva em relação ao Instituto e, de fato, é um sonho que se torna cada vez mais possível”, reflete Vera.

Para ela, é difícil destacar um único momento que lhe marcou ao longo desses 14 anos. Entre os marcos que guarda com carinho, estão diferentes momentos em que o Instituto alçou novos voos, como a mudança para a sede na Vila Buarque, a primeira vez que o Instituto C recebeu o prêmio Melhores ONGs e a expansão para a Zona Norte de São Paulo. Cada um desses momentos fortaleceu o propósito do IC e ampliou o acesso ao cuidado em territórios que ainda enfrentam dificuldades para acessar políticas públicas.

Um caminho trilhado por quem vive a prática do cuidado integral 

Muitas das mudanças que aconteceram até aqui também se refletem na metodologia de atuação do Instituto. Para quem vive o dia a dia dos atendimentos, entende que tem algo que nunca muda: o foco no desenvolvimento, o trabalho em rede e a abordagem centrada na escuta ativa das famílias. Pilares que colocaram o IC entre as 100 melhores ONGs do Brasil por 8 anos consecutivos.

Kátia Moretti é um exemplo de profissional que cresceu com o Instituto. Ela chegou como estagiária de psicologia na área de renda e inclusão produtiva, e hoje é gerente de projetos, liderando as equipes técnicas dos polos. Para ela, muitos momentos impactaram sua vida ao longo de 9 anos no IC, mas os grupos de encerramento – quando as famílias se despedem dos atendimentos – são sempre muito marcantes: “[nesses momentos] podemos ver o impacto mesmo do nosso trabalho na vida de cada uma dessas pessoas que passaram um tempo com a gente”, reflete.

O Instituto C tem uma equipe multidisciplinar dedicada aos atendimentos que acolhe cada história de forma única, como deve ser, para que as famílias alcancem sua autonomia. Kátia diz que esse cuidado individualizado é o que mais toca seu coração quando falamos do trabalho do Instituto, seja no trato com as famílias ou com a equipe técnica. Não é à toa que o C de cuidado também está no nosso nome. 

Trajetórias que se entrelaçam com o IC

Flávia Almeida, coordenadora administrativa, também é um exemplo de quem cresceu junto com o IC. Para ela, o Instituto é um lugar transformador e prazeroso de trabalhar, e fazer parte da equipe há tantos anos, desde que era estagiária, a fez enxergar com mais clareza as vulnerabilidades existentes na sociedade, especialmente no contexto de crianças que convivem com doenças crônicas e das mães atípicas.

Após tantos anos acompanhando o desenvolvimento da organização, o brilho nos olhos ainda segue com a Flávia, que sente orgulho de sua jornada. “Entrei como uma menina e hoje sou uma mulher, com muitas responsabilidades e a tarefa de liderar uma equipe composta por pessoas diferentes. A cada dia, aprendo mais, me torno mais madura e mais consciente do espaço que ocupo no IC”, conta.

Ela destaca que, ao olhar para sua trajetória no Instituto C, percebe que o impacto vai muito além da dimensão profissional e atinge também outras áreas de sua vida. Existe algo profundo no trabalho que realiza e nas relações que constrói diariamente com colegas de equipe. Sem perceber, o IC também se entrelaçou à sua vida pessoal. Durante sua trajetória no Instituto, ela se casou, conquistou a casa própria, comprou seu carro e teve sua filha, a quem hoje pode proporcionar uma vida melhor. Cada uma dessas conquistas também carrega a marca desse lugar que se tornou tão significativo.

Paloma Costa, gerente de relacionamento institucional, também destaca muitas conquistas pessoais que teve desde que chegou ao Instituto, onde encontrou um espaço de crescimento e estabilidade. Ela reflete que a expansão para a Zona Norte foi um momento feliz em sua vida. Filha de mãe solo, nascida e criada na região da Brasilândia, onde fica nosso polo, ela presenciou os esforços que a mãe fez para criar os três filhos com dignidade. 

“Participar da chegada do Instituto C à Brasilândia teve um significado tão especial. Foi como devolver à minha comunidade o cuidado que minha mãe e tantas outras mulheres nunca tiveram a chance de receber”, relembra Paloma.

Ela reflete o quanto uma rede de apoio como o IC é importante para tantas famílias – e como a ausência desse tipo de suporte impactou a vida de sua mãe enquanto ela e os irmãos ainda eram crianças. “Não existia um espaço como o Instituto C, que acolhe, orienta e apoia mulheres em suas múltiplas jornadas. Ver a minha mãe enfrentando tudo praticamente sozinha deixou marcas profundas em mim e moldou o que acredito ser transformação social”, conta.

O futuro que seguimos sonhando juntos

Muitas coisas mudaram e devem continuar se transformando, mas em datas como essa, os votos se renovam e passamos a ver um caminho de possibilidades à frente. Para Vera, o desejo para os próximos anos é que o Instituto C continue se consolidando como uma força relevante dentro da assistência social, sendo uma referência na pauta da intersetorialidade e do olhar para o indivíduo como estratégia real de combate à pobreza. 

Já Kátia, espera que o Instituto consiga alcançar ainda mais famílias e impactar a vida de mais pessoas por meio do fortalecimento dos polos já consolidados e também a expansão para novos territórios. Que possamos seguir apoiando famílias para que alcancem autonomia a longo prazo e, assim, transformar realidades de forma sustentável. Flávia compartilha do mesmo sentimento, com os votos de que o Instituto continue crescendo e aperfeiçoando a cada dia suas ações, para seguir transformando e gerando impacto social.

Paloma completa: “meu maior desejo é que esse trabalho possa alcançar ainda mais famílias, em um modelo financeiramente sustentável, e que, assim como eu, muitas pessoas tenham a oportunidade de realizar seus sonhos”.

Ao completar 14 anos, o Instituto C reafirma seu compromisso com o cuidado integral, o fortalecimento das famílias e a construção de caminhos sustentáveis de superação da pobreza.

Seguimos acreditando que o cuidado transforma — e que, juntos, podemos transformar ainda mais histórias. 

Direitos

As barreiras da desigualdade ainda impedem uma infância feliz, mas podemos mudar isso

Outubro é o mês das crianças, e gostaríamos muito de falar sobre as alegrias da infância durante seu desenvolvimento, mas a realidade ainda está distante de ser a ideal. Mesmo com o cenário que melhorou nos últimos anos, no Brasil, 28,8 milhões de crianças e adolescentes ainda vivem em pobreza multidimensional, e isso é resultado das desigualdades em diferentes áreas como saúde, educação e acesso a lazer, que afetam diretamente suas vidas. 

É nesse cenário que trabalhamos com centenas de famílias para que esse número diminua e mais crianças consigam crescer de forma saudável. Nayara Oliveira, psicóloga institucional do Instituto C, reforça que a organização se preocupa com o cuidado das crianças como um todo, passando também pelo bem estar dos cuidadores: “enfrentar as desigualdades na infância é cuidar de forma integral — das crianças, das famílias e, sobretudo, de quem cuida. Nosso trabalho parte da escuta sensível e do fortalecimento das cuidadoras principais, que são, em sua maioria, mães solo e avós que sustentam o cuidado cotidiano”, reforça.

Assim como o Instituto C, o ChildFund Brasil também atua com esse propósito de impulsionar vidas e diminuir as desigualdades. Mauricio Cunha, presidente executivo da organização, reflete o quanto a pobreza afeta a vida das crianças: “a infância é um período decisivo para o desenvolvimento físico, emocional e cognitivo, e a pobreza compromete esse processo de forma profunda e duradoura”.

Quem atende as crianças no dia a dia, consegue ter ainda mais dimensão do quanto as desigualdades afetam as diferentes áreas da vida delas. Renata Souza é psicóloga do IC, e explica como a falta de recursos pode afetar também o desenvolvimento cognitivo. “Muitas vezes, quando a gente fala de pobreza, são crianças que não têm acesso nem mesmo a escola, não têm acesso a um alimento… Ou seja, ela não vai conseguir se concentrar nos espaços que ela frequenta”, explica.

É preciso ouvir o que as crianças têm a dizer 

Uma das questões mais sensíveis em trabalhar com a realidade de crianças em situação de vulnerabilidade, é abordar tópicos que afetam suas vidas sem diminuir suas dores. Esse é um dos trabalhos que a Renata exerce, e ela conta que busca sempre adequar as temáticas à linguagem das crianças, para que elas consigam entender e também tirar suas dúvidas.

Para a Renata, nós, adultos, normalizamos muitas coisas e paramos de questionar, enquanto as crianças são bastante curiosas e sensíveis. Elas sabem o que é justo ou não, e entendem o que são os direitos e deveres. A psicóloga diz que em temas como desigualdade social, por exemplo, é importante abrir o diálogo e ouvir muitas vezes as histórias que elas têm para trazer a respeito delas ou dos colegas.

A educação também é, certamente, uma das ferramentas que nos ajudam a transformar realidades. O ChildFund entende que a educação, junto à proteção e ao apoio familiar amplia horizontes e prepara as crianças para romper ciclos de exclusão e vulnerabilidade. “A educação está presente em nossas metodologias não como um reforço escolar ou na aplicação formal, mas nas atividades de educação financeira, habilidades para a vida, no brincar e no incentivo e prática da leitura”, conta Maurício.

Tudo começa pelas políticas públicas

Apesar dos avanços que já tivemos quando falamos de políticas públicas para famílias em situação de vulnerabilidade social, como o Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada (BPC) para pessoas com deficiência,  ainda estamos caminhando em passos lentos para a erradicação da pobreza e a diminuição das desigualdades. 

O IC entende que alcançar os direitos é uma das formas de diminuir as barreiras encontradas pelas famílias. Nayara considera que avançamos muito na formulação de programas de proteção e transferência de renda, como por exemplo com a criação da Política Nacional de Cuidados, que promove a corresponsabilização social e entre homens e mulheres pela provisão de cuidados, consideradas as múltiplas desigualdades. Mas ainda é preciso investir na sustentabilidade e no financiamento contínuo das políticas de cuidado e proteção social, de modo que o cuidado deixe de ser uma sobrecarga privada e passe a ser uma infraestrutura pública.

Para o ChildFund, ações como o financiamento adequado de políticas voltadas à infância, especialmente em áreas rurais e periféricas, o fortalecimento da rede de proteção social, com foco na prevenção da violência física, psicológica, sexual e institucional, e no apoio às famílias, devem ser o foco para cuidar das infâncias.  

Além disso, o enfrentamento das desigualdades que afetam a infância só é possível quando as políticas públicas reconhecem o cuidado como um direito e uma responsabilidade coletiva.

A responsabilidade coletiva de proteger as crianças

Da mesma forma que o Instituto C e o Childfund Brasil atuam, muitas instituições também trabalham todos os dias para que as crianças consigam se desenvolver sem barreiras, mas com um esforço coletivo, essa missão fica um pouco mais leve. O Poder Público e as organizações sociais são ferramentas importantes para a redução das desigualdades na infância, mas a sociedade civil também é uma aliada necessária e indispensável para garantir os direitos das crianças. 

Neste mês das crianças, é importante reforçar o convite para que todos assumam um papel de linha de frente na defesa dos direitos das crianças, afinal, essa é uma responsabilidade coletiva. Essa mobilização pode começar a partir da escuta e participação das crianças e adolescentes nas discussões e da valorização da infância como prioridade. Somente assim faremos com que as próximas gerações vivam da melhor forma possível.