Agosto verde: a primeira infância precisa ser prioridade nas grandes cidades
A primeira infância é uma fase da vida caracterizada como um ciclo de importante desenvolvimento humano. Essa fase dura até os seis anos de idade, e é nesse momento que as crianças começam a desenvolver muitas habilidades, como a capacidade motora, a comunicação por meio da linguagem e a forma de expressar suas emoções. No mês de agosto, a cor verde representa a luta por uma discussão mais profunda sobre a primeira infância e a importância de políticas públicas nessa fase.
O contato com os pais com tempo de qualidade, o acesso à saúde, à educação e à natureza são alguns dos pilares importantes durante essa fase, mas que ficam prejudicados quando falamos de estilo de vida no contexto das grandes cidades. Essas questões nos ambientes urbanos podem interferir diretamente no desenvolvimento, como explica a psicóloga do Instituto C, Noaly Avenoso: “O excesso de superestimulação, os estresses das cidades urbanas, a falta de facilitadores no âmbito da saúde, escola e lazer para famílias que residem em lugares mais precarizados, podem prejudicar o desenvolvimento da primeira infância”.
Apesar da importância da discussão, o tema primeira infância ainda não tem a visibilidade necessária, por isso instituições como a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, que atuam na promoção do desenvolvimento da infância, são importantes aliadas nessa discussão. “É um tema um pouco mais conhecido, mas a gente ainda vê a necessidade de que ele seja plenamente conhecido pela sociedade e pelos atores da política pública para que possa ser priorizado”, pontua Karina Fasson, gerente de políticas públicas da Fundação Maria Cecilia.
A cidade pensada para a infância
Nos primeiros anos de vida, o cérebro da criança está em desenvolvimento, e chega a realizar um milhão de conexões por segundo. É neste momento em que os espaços que ela frequenta devem oferecer um ambiente seguro e adequado para sua idade. Nas cidades, vemos que isso ainda está caminhando para que seja de fato efetivado, seja com os espaços de lazer que incluem brinquedotecas ou os museus que colocam na programação atividades infantis, por exemplo.
“É preciso que as crianças sejam priorizadas no orçamento. Se elas forem priorizadas na política pública, elas precisam ser consideradas nas peças orçamentárias também”, explica Karina. Ela ainda reforça que as cidades devem enxergar as crianças como indivíduos que precisam de cuidados em diferentes áreas, pensando na intersetorialidade.
Em São Paulo, por exemplo, ainda que a desigualdade social seja visível, já existem algumas iniciativas para o fortalecimento do desenvolvimento infantil no início da vida, como o Plano Municipal Pela Primeira Infância, um documento que estipula metas como “tornar o ambiente da cidade mais acolhedor para as crianças de 0 a 6 anos” e “garantir o acesso a serviços de saúde de qualidade a gestantes e crianças de 0 a 6 anos”, que tem o objetivo de uma primeira infância plena, estimulante e saudável para as crianças no Município.
Nesse mesmo documento, temos um panorama sobre a primeira infância na cidade de São Paulo, e podemos ver que a Brasilândia é uma das regiões com mais crianças de 0 a 6 anos. Na região também fica localizado o Polo Zona Norte do Instituto C, onde trabalhamos com as famílias os atendimentos nas áreas da educação, geração de renda, desenvolvimento psicossocial e nutrição, além da orientação na área da saúde e garantia de direitos.
É importante lembrar que as crianças são cidadãs
O ponto mais importante para colocar a primeira infância como prioridade é entender que as crianças também são cidadãs e muitas das decisões públicas afetam suas vidas. Apesar de todos os avanços ao longo dos anos, especialmente após a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), as crianças que vivem em situação de vulnerabilidade social ainda enfrentam os desafios de crescer sem a estrutura necessária.
Karina, da Fundação Maria Cecilia, reforça que a educação infantil também é uma questão que deve ser tratada como prioridade: “a gente precisa garantir para todas as crianças, mas principalmente para as crianças que já estão no contexto mais vulnerável, o acesso a uma educação infantil de qualidade”.
Nesse contexto, trabalhos de organizações como o Instituto C atuam como uma ferramenta para que as famílias consigam levar mais qualidade de vida aos pequenos. Como conta nossa psicóloga Noaly, aqui trabalhamos para fortalecer os vínculos das famílias com os territórios onde residem, tendo como princípio o acesso à informação com orientações nas áreas da saúde, educação, psicologia e nutrição para entender cada realidade e guiar as famílias na garantia de direitos.
A rede de apoio na primeira infância
No trabalho diário do IC, as mães estão sempre presentes, e consideramos que o cuidado com elas é também o que fortalece o desenvolvimento das crianças. Dessa forma, entendemos que elas precisam de uma rede de apoio para conseguirem cuidar dos filhos e de si ao mesmo tempo, e buscamos levar isso por meio dos nossos grupos de atendimento temáticos onde tratamos assuntos que fazem parte da vida das mães e que fortaleçam a relação delas com as crianças. Por isso, essa rede, além de fazer bem para a cuidadora, também faz a diferença na vida da criança.
Quando falamos da primeira infância nesse contexto, por exemplo, podemos lembrar que o acesso às creches são essenciais tanto para o crescimento quanto para a construção dessa rede de apoio. Mas não estamos falando apenas de uma vaga em creche, como explica a Karina. “Não basta ter uma vaga. Essa educação infantil tem que promover tanto o cuidar – para essa fase da vida que é importante – quanto o educar, de maneira indissociável”.
Com atuação direta com as famílias, nossa psicóloga tem uma visão do impacto dessa rede de apoio na vida delas. “A rede de apoio é fundamental para a primeira infância em todos os aspectos, as creches e as escolas, além do papel da educação, também desenvolvem o social, emocional, motor, cognitivo, sensorial e muitas coisas que, ao longo do crescimento, fazem a diferença para a vida da criança”, reforça Noaly.